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Álbum Purus é lançado em Lábrea

Coletânea de estudos é maior referência sobre povos do rio Purus de que se tem notícia.

Coletânea de estudos é maior referência sobre povos do rio Purus de que se tem notícia.

Lábrea (AM) – A recente publicação Álbum Purus será lançada oficialmente durante a realização do Seminário ‘Interfaces entre Terras Indígenas e Unidades de Conservação / Perspectivas para a Pesca Sustentável’ promovido pelo Projeto Aldeias (OPAN/Visão Mundial) entre os dias 15 e 17 de junho. O livro, de 344 páginas, é a mais completa reunião de artigos sobre o rio Purus de que se tem notícia.

A iniciativa da elaboração desta importante publicação, que já nasce como referência, foi da OPAN e do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), junto com IIEB e Visão Mundial. A coletânea de estudoscoube ao professor Gilton Mendes dos Santos, do Programa de Pós-graduação em Antropologia (PPGAS/UFAM), que organizou as contribuições do Seminário Purus Indígena, que aconteceu em Manaus em abril de 2010 (PPGAS/UFAM, OPAN, VM, IIEB, CAPES, USAID). Indigenistas da OPAN assinam os artigos “Um panorama contemporâneo do Purus indígena” e “Contrastes entre semelhantes e estranhos. Jadawa versus waduna: cosmovisão suruaha das nossas desordens” (Miguel Aparicio) e “Entre o patrão e o manejo: o dilema dos Paumari do Rio Tapauá” (Gustavo Falsetti em co-autoria com Renata Apoloni)

Nas palavras da professora Marta Amoroso, o “Álbum Purus é o resultado de um afinado debate interdisciplinar entre etnólogos americanistas, historiadores sociais, indigenistas, ambientalistas, engenheiros ambientais, ecólogos e biólogos que refletem e atuam no sudoeste da Amazônia”. O diálogo entre pesquisas e práticas transita ao longo de três seções, dedicadas respectivamente a ‘Viagens, Viajantes e a Empresa Extrativista’, ‘Territorialidades, Recursos Naturais e Conflitos’ e ‘Etnologia e Etnografias’. Nada melhor que as palavras de Márcio Souza para introduzir esta iniciativa:

Quando a história acontece nos rios – Márcio Souza

Uma grande ideia reunir estudos, relatos de viagens e ensaios sobre o rio Purus. Há bastante estudos sobre o rio Amazonas, sobre o Negro, o Araguaia, o Madeira e o Tocantins, mas faltava o grande rio Purus. Via de penetração colonial e artéria jugular do Ciclo da Borracha, o rio Purus foi um palco rico de confrontos, de dramas humanos. Na verdade, a ideia deste Álbum Purus é tão boa, tão simples que podemos nos perguntar porque não foi pensada antes. E mais, todos os nossos rios mereciam o seu álbum, pois é através deles que nossa história vai sendo processada.

Os rios tecem a sociedade humana na Amazônia. Não foi por outro motivo que o antropólogo John Hemming nominou seu livro sobre a história do grande vale com o título de “Uma Árvore de Rios”. E foram os rios que deram mobilidade às sociedades humanas no processo de ocupação desde o período neolítico. É por isso que a expressão “povos da floresta” é de um ridículo extremo, denunciando a origem adventícia do rótulo. Na verdade, na Amazônia há os povos dos rios, os ribeirinhos. Poucos são os aglomerados humanos na terra firme, em meio à floresta. Na verdade, são tão reduzidos que pode se dizer que hoje a maior parte da presença humana em meio à selva é representada por madeireiros clandestinos derrubando árvores.

Neste álbum, organizado pelo antropólogo Gilton Mendes dos Santos, há muitas visões sobre o Purus. De certo modo há um elo entre o destino das gentes daquele rio com os descaminhos do processo de desenvolvimento da Amazônia. No período de intenso extrativismo, e que ainda não cessou completamente, o Purus experimentou um forte impacto com a invasão da economia do látex. O resultado foi a dilaceração de etnias, com massacres e expulsão de suas terras tradicionais, e a instalação de um regime de trabalho brutal. É o que nos mostram os ensaio de Davi Leal, “Cenários da Fronteira: o rio Purus e o pensamento social na Amazônia”, bem como a seleção de textos de Euclides da Cunha pelo professor Renan Freitas Pinto. Ambos os trabalhos, ao confrontar as impressões contemporâneas de Euclides da Cunha, abrem um espaço de compreensão para os trabalhos seguintes, especialmente “Cultura e Mercado na Amazônia da Borracha”, de Almir Diniz, e “Retrato do sistema de aviamento no Purus – notas preliminares”, de Gilton Mendes dos Santos. A perspectiva das populações tradicionais no rio Purus fica muito bem servida pelos ensaios da segunda parte do livro, que debate a ocupação da terra e os conflitos gerados pelas diversas inserções da região na divisão internacional do trabalho. Aqui nesta parte vemos que está ocorrendo uma agudização dos choques sociais originados pelo extrativismo. No Purus o processo de “modernização” tem sido violento, à margem da lei, demonstrando uma total ausência do Estado. E os estudiosos vão encontrar aqui um material crítico para combater o cinismo de certo desenvolvimentismo camuflado de sustentável.

No que diz respeito às etnias que originalmente habitavam aquele espaço geográfico, este Álbum Purus reúne ensaios esclarecedores sobre o protagonismo dessas culturas milenares. E é aqui neste segmento do livro que vemos o quanto a nossa região foi vítima de modelos econômicos destrutivos ao extremo, deixando um rastro de exaustão e desespero. Fico imaginando o quanto de horror e resistência encontraríamos numa coleção de álbuns de nossos rios.
Álbum Purus será distribuído gratuitamente em Lábrea e há exemplares disponíveis na UFAM e na OPAN.

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A OPAN foi a primeira organização indigenista fundada no Brasil, em 1969. Atualmente suas equipes trabalham em parceria com povos indígenas do Amazonas e do Mato Grosso, desenvolvendo ações voltadas à garantia dos direitos dos povos, gestão territorial e busca de alternativas de geração de renda baseadas na conservação ambiental e na manutenção das culturas indígenas.

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