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Um brilho a mais

Mulheres Deni aprimoram técnicas de artesanato tradicional com apoio das moradoras da RDS Amanã.

Mulheres Deni aprimoram técnicas de artesanato tradicional com apoio das moradoras da RDS Amanã.

Por: Dafne Spolti/OPAN

Itamarati-AM – As indígenas Deni do rio Xeruã aperfeiçoaram com parceiras da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Amanã suas técnicas de pintura e de acabamento de cestos tradicionais, pensando em melhorar os utensílios para comercializá-los e ampliar fontes de renda. Mais do que uma atividade voltada à economia, porém, o momento foi de troca cultural e de uma alegria típica Deni, aumentada pelo colorido dos tingimentos trazidos pelas moradoras da RDS.

A oficina de artesanato, realizada por meio do projeto Arapaima: redes produtivas, executado com recursos do Fundo Amazônia, durou cinco dias na aldeia Morada Nova, reunindo ainda indígenas das aldeias Terra Nova, Boiador e Itaúba. Apesar de ser voltada a elas, os homens também se envolviam, produzindo paneiros (utilizados no dia a dia para carregar grandes volumes) e observando a arte das mulheres. “Muitos questionavam: ‘Esse aqui foram elas que fizeram? Tá muito bonito, eu vou querer um!’. Lisonjeadas, as mulheres continuavam seus trançados, meio à conversas, gargalhadas, piadas e histórias, muitas delas protagonizadas por Ziberuni, a líder na aldeia Morada Nova”, contou a indigenista da OPAN, Tarsila dos Reis Menezes, que organizou a atividade com as Deni. Nem mesmo nos intervalos o trabalho parava. “Elas não tinham limite, não. Tinha almoço e elas continuavam a tecer na casa delas. Cada uma fez duas, três cestas”, destacou.

Foto: Tarsila dos Reis Menezes/OPAN.

“Sem mudar o estilo de seu trabalho, as Deni puderam conhecer tinturas novas, lembrar outras antigas e aprimorar o acabamento dos produtos”, explicou a indigenista Rosa Maria Monteiro, que retornava à região onde atuou nos anos 90 para contribuir com as oficinas. Depois de dois dias para limpeza da planta arumã, das quais são feitos os cestos, os filetes foram mergulhados nos caldeirões coloridos com o amarelo do açafrão-da-terra e os tons avermelhados do crajiru, uma erva utilizada também como remédio tradicional. Geralmente elas tingem com cores conseguidas a partir de jenipapo, casca de ingá e, às vezes, urucum. Com as oficinas, também extraíram por conta própria lascas de pau-brasil para conseguir tintura vermelha.

Realizando tingimento com crajiru. Foto: Tarsila dos Reis Menezes/OPAN.

No acabamento, utilizaram o óleo de andiroba para dar brilho e maior durabilidade às peças. Para o indigenista Vinícius Benites Alves, coordenador do projeto Arapaima, o uso das tinturas e da andiroba incentiva os diversos usos dos produtos florestais não madeireiros para melhoria da qualidade de vida das indígenas “Elas tomam como remédio, usam no cesto, fazem a coleta das sementes”, disse, pensando ainda numa perspectiva de gestão sustentável do território e da geração de renda.

Além de melhor estética e funcionamento dos cestos, mantendo o estilo Deni, as indígenas aproveitaram o momento para inventar novas cestarias, com tamanhos diferentes, bordas, tampas. Também fizeram peneiras e luminárias. Elas ensinaram suas técnicas às professoras da RDS Amanã, Rosenize Assis Amaral e Maria Erly das Chagas de Oliveira. “Gostamos muito de estar aqui fazendo esse trabalho. A gente aprendeu várias coisas com vocês. Não apenas ensinamos. Aprendemos a fazer tipiti [utensílio para tirar a água da macaxeira], a trançar cestos de cipó-titica, a trançar de um modo diferente”, disse Erli às Deni. Após as oficinas, os ensinamentos continuaram nas outras aldeias Deni do rio Xeruã, pelo compartilhamento do aprendizado com as mulheres mais novas e sempre mantendo o espírito alegre ao lidar com os artesanatos.

Indígenas Deni com Rosenize e Maria Erly. Foto: Tarsila dos Reis Menezes/OPAN.

A partir do trabalho, a indigenista Rosa Maria Monteiro observa que houve um empoderamento das Deni por saberem que podem ter uma renda a partir de suas próprias cestarias. “A gente pode vender esses cestos e ter um dinheiro a mais, não só depender de bolsa família, auxílio maternidade. Podemos comprar rancho, as coisas que a gente precisa”, disse Zamitarini Makhuvi Deni, da aldeia Morada Nova. Tarsila Menezes explicou que o próximo passo planejado é fazer um balanço de quanto as Deni produzem de cestaria, mas sem atrapalhar outras atividades de seu cotidiano, para avaliar com elas as perspectivas de mercado. Uma possibilidade é trabalhar em conjunto com comunidades ribeirinhas de Carauari, em parceria com associações extrativistas, com quem os Deni vêm construírdo uma relação por meio do projeto Arapaima.

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Dafne Spolti

dafne@amazonianativa.org.br

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