OPAN

Um encontro entre culturas

Terra Indígena Irantxe, Brasnorte (MT) – Uma aldeia, três terras indígenas, cinco povos e mais de 200 indígenas reunidos, celebrando a diversidade e semelhanças da cultura indígena do noroeste de Mato Grosso. Durante quatro dias a aldeia Cravari, na Terra Indígena (TI) Manoki, foi um espaço de interação sociocultural entre os povos Myky (da TI Menkü), Manoki (TI Manoki), Sabanê, Tawandê e Manduca (TI Pirineus de Souza). Um encontro marcado pela participação de crianças, jovens, professores, lideranças e anciãos, que promoveu o intercâmbio de fazeres e saberes tradicionais que se refletiram em um mosaico de cores, cantos, danças, histórias e artesanatos.

Irani Tawandê iniciou a contação de histórias sobre as origens de seu povo. Foto: Giovanny Vera/OPAN

O evento marcou a conclusão de um ciclo de formação em gestão territorial e política junto a estas populações, iniciado em 2016 pelo projeto IREHI: Cuidando dos territórios, desenvolvido pela OPAN e financiado pelo Fundo Amazônia. Um dos objetivos do projeto foi atender a demanda por formação juvenil expressada por esses povos em seus Planos de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PGTA), propósito atendido com o ciclo de formação que fortaleceu as trocas culturais intergeracionais e o protagonismo de jovens em suas comunidades.

O encontro contou com a participação de anciãos das três terras indígenas que realizaram ‘contações de histórias’, em que relataram o surgimento de cada povo, bem como suas tradições e costumes. Essa dinâmica proporcionou aos participantes trocas culturais intensas, nas quais encontraram, por exemplo, coincidências cosmológicas, fortalecendo sua identidade como povos originários. E essas relações interculturais se confirmam mediante seus meios de produção, reprodução da vida e com o vínculo que mantém com seus territórios, seja o Cerrado ou a floresta.

Jovens das etnias participantes aprenderam a fazer flechas e artesanatos com anciãos. Foto: Giovanny Vera/OPAN

Os anciãos também foram os protagonistas durante as tardes de oficinas de confecção de artesanatos, onde ensinaram aos mais jovens as técnicas de cada etnia na criação de artefatos e arte, como redes, arcos e flechas, cestos, colares, brincos, cocares, tiaras, saias de buriti, chocalhos, pintura corporais tradicionais, língua materna e calendário tradicional.

Irani Tawandê, da TI Pirineus de Souza, por exemplo, é um reconhecido contador de histórias que fez os participantes conhecerem sobre as origens e mitos de seu povo. “Eu vim aqui para falar do que somos, de onde viemos. Este é o nosso trabalho: incentivar os nossos jovens a amar nossa tradição”, disse ele, destacando a alegria de ver os povos unidos, mostrando cada um sua cultura e encontrando semelhanças entre elas.

Por sua vez, Rosinês Kamunu, da TI Manoki, ficou orgulhosa de ver a participação dos jovens Manoki interessados em conhecer e aprimorar sua cultura, porque de acordo com ela, essa prática “nos ajuda a se sentir mais orgulhosos de ser indígena e a lutar”, ainda mais nestes tempos tão difíceis para eles, afirmou.

Jovem youtuber Xavante motivou os jovens participantes no uso de mídias digitais para divulgar a cultura indígena. Foto: Giovanny Vera/OPAN

Um  momento que também chamou a atenção dos jovens foi a participação de Cristian Wariu, um jovem youtuber da etnia Xavante que em seu canal aborda a diversidade da cultura indígena, desmistificando preconceitos sobre os povos indígenas no Brasil. Na roda de conversa, Cristian reforçou a necessidade dos indígenas usarem a comunicação digital e as redes sociais para se expressarem e para apresentarem suas culturas e suas tradições. “Nós já estamos registrando tudo na nossa aldeia, mas ainda precisamos publicar mais, nos mostrar mais”, disse Typju Myky, concordando com Cristian na importância de apresentar a cultura indígena fora de seus territórios.

A educação indígena foi tratada durante o evento, quando os professores indígenas apresentaram seus projetos etnoeducacionais desenvolvidos em suas escolas e nas universidades. Os projetos reforçaram a importância da educação indígena diferenciada, em meio às demandas indígenas por aquisição de novos conhecimentos e de convívio entre as sociedades indígenas e não indígenas.

O encontro promoveu o intercâmbio de saberes tradicionais entre os povos, comemorado no último dia com danças e apresentação de artesanatos feitos durante o evento. Foto: Giovanny Vera/OPAN

O evento foi encerrado com uma grande festa cultural, com danças e exposição dos artesanatos e artefatos confeccionados durante as oficinas. Todos os povos presentes partilharam a alegria de se encontrarem e fortalecerem suas culturas e conhecimentos, reafirmando sua aposta nos jovens, suas lideranças do presente e do futuro.

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