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Congresso Línguas Indígenas

Mato Grosso possui 43 povos indígenas e 30 línguas faladas, que são tema do Congresso.

Por: Liliane Xavier e Lívia Alcântara

O II Congresso de Línguas Indígenas de Mato Grosso acontece na primeira instituição a ter um curso de línguas indígenas vivas*: a Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), por meio da Faculdade Indígena Intercultural (FAIND). A FAIND foi a primeira a estabelecer uma disciplina de línguas indígenas como obrigatória do curso de letras e a protagonizou cursos de licenciatura interculturais. A faculdade, localizada em Barra do Bugres,foi também organizadora do evento, que aconteceu do dia 28 a 30 de novembro.

“Estou vendo aqui como se deve fortalecer as línguas, eu estou vendo como isso acontece pelos indígenas daqui. E muito do que eles estão fazendo nós temos que relacionar a este programa fantástico, que é o Programa Intercultural de Mato Grosso”, comenta a professora Ana Suely Cabral, da Universidade Nacional de Brasília (UNB). Ela lembra que a primeira semente dos Programas Interculturais Indígenas, formações e cursos superiores dentro das universidades brasileiras, foi plantada em Barra do Bugres.

II Encontro de Línguas Indígenas de Mato Grosso. Foto: Liliane Xavier/OPAN.

A manutenção da língua materna é tema básico da educação indígena e um direito, reconhecido pelo Estado brasileiro, de que os povos indígenas tenham uma educação escolar bilíngue. “Se uma escola não discute a questão linguística, é uma escola que trabalha contra o projeto do próprio povo”, defende o professor Adailton Alves da Silva, diretor da FAIND.

Com a chegada da escrita e da educação formal para os povos indígenas, há uma necessidade de dominar a língua tradicional na escrita, além da oralidade. Neste sentido, para além de discutir estes desafios, o evento busca impulsionar a criação de grupos de pesquisadores das próprias línguas maternas, explica Mônica Cruz, organizadora do evento e coordenadora da FAIND. A professora cita o complexo Nambikwara como exemplo da diversidade linguística por explorar. São “16 subgrupos e uma língua falada fluentemente, mas precisando de registro e documentação”.

Esta segunda edição do evento avança em relação à primeira ao trazer as experiências dos professores indígenas para o centro das discussões, junto às pesquisas de linguistas não indígenas. Edvaldo Lourival Mampuche, professor da escola municipal indígena de educação básica da aldeia Cravari, na Terra Indígena Manoki, explica o trabalho que eles vem realizando dentro de sala de aula: “dentro do povo manoki a gente tem uma discussão bastante séria, porque quando nossos avós foram numa missão religiosa, eles foram proibidos de falar a língua, tiveram casamentos interétnicos para dificultar a fala do idioma. Os mais jovens, sabem alguma coisa, mas não falam. E a gente começou a usar a escola como um espaço de ensino da língua e de toda a questão cultural, crenças, danças, mitos”.

Feira de artesanto no II Congresso de Línguas Indígenas. Foto: Liliane Xavier/OPAN

Outro participante do evento, Morais Cezar, explica a importância do espaço para a troca de experiência: “nós Rikbaktsa, estamos num período que nossa língua está bem enfraquecida, mas isso não quer dizer que ela está perdida. Só falta fortalecermos, pois temos muita gente que ainda fala”. O acadêmico da FAIND e secretário da escola estadual indígena Myhyinymykyta Skiripi comenta esperançoso que no congresso anterior escutou a história de um Pataxó que seu povo havia recuperado a língua quase morta.

A formação para professores indígenas começou na UNEMAT em 2001, sendo fruto da reivindicação e do diálogo com o movimento indígena que vinha caminhando desde 1997. Tornou-se uma faculdade em 2008, inserindo-se de vez no organograma da instituição. Hoje, existem de 450-500 professores indígenas formados na instituição e mais 150 especialistas. Wellington Pedrosa Quintina, coordenador do evento, conta animado que o a segunda edição do congresso “celebra o Termo de Cooperação com a universidade de Estocolmo e a inauguração de uma linha de pesquisa que coloca a UNEMAT no rol das universidades que trabalham com descrição e documentação de línguas”. A FAIND aguarda a resposta do Ministério da Educação sobre uma proposta de abertura do mestrado indígena.

*“Em 2001 teve iní­cio ofi­ci­al­men­te o Pro­je­to de For­ma­ção de Pro­fes­so­res Indí­ge­nas – 3º Grau Indí­ge­na, com a rea­li­za­ção do Ves­ti­bu­lar e o iní­cio das aulas no mês de julho, para a 1ª Tur­ma dos Cur­sos de Licen­ci­a­tu­ra Espe­cí­fi­ca para a For­ma­ção de Pro­fes­so­res Indí­ge­nas” (Informações da FAIND).

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Lívia Alcântara

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