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I Encontro de Mulheres da Rede Juruena Vivo

Agricultoras, indígenas e mulheres da cidade debatem participação e geração de renda em Juína.

É crescente o número de mulheres à frente de movimentos sociais, associações e cooperativas. A participação delas na vida política, social e econômica foi o foco do I Encontro de Mulheres da Bacia do Juruena, que aconteceu em Juína – MT, de 12 a 14 de abril. Com o tema “Mulheres são como águas, crescem quando se juntam”, o evento foi organizado pela Rede Juruena Vivo e Projeto Berço das Águas, com patrocínio da Petrobras Socioambiental e parceira do Instituto Centro e Vida (ICV).

Cerca de 100 mulheres partilharam durante estes dias seus conhecimentos e suas conquistas. Estiveram presentes mulheres dos povos indígenas Apiaká, Munduruku, Rikbaktsa, Kayabi, Nambikwara, Myky, Manoki, Paresi, Arara, Cinta Larga, Yudja e Chiquitana. Além de representantes do Conselho Municipal da Mulher de Juína, do Coletivo Mulheres que Movem Juína, das comunidades rurais de Pedreia, Belém e Iracema e de mulheres das cidades de Juruena, Cotriguaçu e Cuiabá.

O primeiro dia foi marcado pelo debate sobre a história da conquista de direitos das mulheres e seus desafios. “Aqui em Juína, no âmbito político, as mulheres não estão tendo sua representatividade. A Câmara de Vereadores, na última eleição, não conseguiu eleger nenhuma mulher… Há muito, muito no que avançar”, ponderou Ernesta da Silva Araujo, que contou sobre a criação do Coletivo Mulheres que Movem Juína. Ernesta também é integrante do Conselho de Assistência Social e do Movimento de Mulheres Negras e trouxe, ao longo do encontro, preocupações sobre o contexto de ameaça dos lugares conquistados pelas mulheres.

Alexandra Mendes Leite, indígena da etnia Chiquitano da Takiná, Organização de Mulheres Indígenas de Mato Grosso, apresentou o trabalho que a organização tem desenvolvido com a autoestima das mulheres indígenas. Sua própria experiência para sair da aldeia e participar de debates importantes para o seu povo foi um desafio. Ela conta que a primeira vez em que participou de um evento fora da aldeia foi através da igreja católica, quando foi a sorteada para ir em uma romaria. “Eu tinha um bebê de cinco meses. E eu disse: o meu bebe fica, o pai dele cuida. Esse foi o meu primeiro desafio: viajar e deixar o esposo e o filho”, relembra.

Conciliar a maternidade e os cuidados domésticos com a participação política, além de ganhar o aval da comunidade como representante, são alguns dos desafios colocados pelas mulheres presentes para participar de espaços de decisão, formação e debate. Embora as mulheres presentes no evento sejam exemplos daquelas que  têm conquistado estes espaços, este é um ponto a se avançar. Dineva Maria, da etnia Kayabi reclama:“a participação de nós mulheres é muito fraca no movimento indígena”. Para ela, sair da comunidade para participar de eventos é importante porque “cada vez que você sai, você consegue trazer alguma melhoria para seu povo, informação dos direitos…”.

Mesa “Mulheres e geração de renda: um diálogo sobre associativismo, cooperativismo e comercialização”. Foto: Lívia Alcântara/OPAN.

Para além da participação política, outro tema do encontro foi o cooperativismo, associativismo e comercialização. Estiveram presentes diferentes representantes de experiências produtivas, que expuseram e venderam seus artesanatos, produtos derivados do babaçu, da banana, da castanha-do-Brasil e licores durante “Feira de Saberes e Sabores”, que aconteceu no centro na cidade de Juína.

As agricultoras e produtoras também contaram um pouco sobre suas trajetórias econômicas. Helena Moreira, Presidente da Associação de Feirantes de Cotriguaçu revelou: “através da agricultura sustentável, consegui fazer com que meu marido parasse de trabalhar para outras pessoas na cidade e ficasse comigo, tirando a nossa renda do nosso trabalho no campo”.

Por: Larissa Grazielle Rocha, Paula Cristina de Farias Capitulino, Melissa Gabrieli da Silva Vieira, Aline Janaína Manoki, Lívia Alcântara.

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