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Arlindo Pudata. Mais um grande amigo que se foi.

Ele foi o coordenador do primeiro grupo de professores que atuou na educação e na alfabetização das crianças de seu povo e um dos principais responsáveis pelo início de uma educação escolar mais próxima à cultura Rikbaktsa.

Por Rinaldo Arruda / OPAN

Dos primeiros amigos que fiz nos Rikbaktsa, Arlindo era minha referência e meu hospedeiro nas numerosas vezes que fui lá. Fizemos várias viagens de reconhecimento no território Rikbaktsa, acampando, pescando e caçando no caminho.

Formou um belo casamento e uma família linda junto com Maria Isabel. Sempre morou na aldeia da Primeira Cachoeira. E, há alguns anos, fez sua “aldeinha” ali perto, com sua família, a aldeia Primavera do Oeste. Em 2017, quando fui lá com minha filha Marina, ele novamente me hospedou, com a generosidade e carinho que sempre demonstrou.

O Arlindo foi, em primeiro lugar, um guerreiro. Bom caçador e agricultor, excelente artesão e, principalmente, um grande pensador. Sempre intrigado com a natureza humana, com o mundo e com os caminhos importantes a serem seguidos.

Lia bastante e escrevia suas reflexões. Quando o encontrava, sempre tinha escritos e questões que gostava de mostrar e debater. Além de tudo, grande contador de casos e apresentador de charadas a serem decifradas, entre risadas e brincadeiras que acompanhavam qualquer conversa.

A vida inteira ele esteve na linha de frente das grandes lutas de seu povo. Se destacou na luta pela demarcação do Japuíra e do Escondido. Ele e Rafael foram os primeiros a fazer frente à invasão armada do batalhão que os atacou no Japuíra, nas lutas pela retomada daquela área. Depois, se destacou em várias ocasiões, como na expulsão do fazendeiro João Conte do Japuíra, e em outros momentos tensos e perigosos.

Foi o coordenador do primeiro grupo de professores Rikbaktsa que atuou na educação e na alfabetização das crianças de seu povo. Orientou os outros professores e procurou desenvolver material didático próprio, ainda na época em que esse importante trabalho era totalmente voluntário. Foi um dos principais responsáveis pelo início de uma educação escolar mais próxima à cultura Rikbaktsa.

Sinto no coração sua partida e fico triste em pensar que quando voltar por lá não mais o encontrarei. De todo modo, Arlindo, vivemos uma bela amizade e isso não se perde jamais.

Deixo aqui um abraço apertado para Maria Isabel e seus filhos e a todos os Rikbaktsa. Que o Arlindo descanse em paz, na aldeia ancestral, junto com todos os que para lá já foram.