Com muita arte, reflexões e discussões socioambientais, Festival Juruena Vivo completa 8ª edição
Neste ano, evento ocorreu em formato híbrido, com o desenvolvimento de atividades virtuais e presenciais, conforme todos os protocolos de segurança contra a covid-19.
Helson França/OPAN
Em mais um ano de muita mobilização e cultura, o 8º Festival Juruena Vivo trouxe as questões socioambientais que incidem sobre a região da sub-bacia do Rio Juruena para serem debatidas em três dias de evento. De sexta-feita (26.11) a domingo (28.11), palestras, mostras audiovisuais, debates, expressões musicais e teatrais compuseram a programação do Festival, finalizada com a apresentação do violeiro, cantor e compositor Victor Batista, que mantém uma relação de proximidade com o evento desde os seus primórdios.
Neste ano, o Festival ocorreu em formato híbrido, com o desenvolvimento de atividades virtuais e presenciais, conforme todos os protocolos de segurança contra a covid-19. A sub-bacia do rio Juruena é um dos berços das águas da bacia amazônica. Cobrindo uma área de 191 mil km2, o Juruena passa pelo Cerrado e pela Amazônia. Conta ainda com 21% do território em unidades de conservação e terras indígenas, nas quais vivem 10 povos diferentes, com aproximadamente 5 mil indígenas.
O evento teve início na sexta-feira (26/11). Ao longo de três dias proporcionou momentos reflexão a respeito de situações que impactam a vida de comunidades rurais, ribeirinhos e populações indígenas – como por exemplo a intensificação da presença de empreendimentos hidrelétricos em rios que compõem a sub-bacia do Juruena.
Para debater o assunto, foi realizada a live “Crise Energética”, com João Carlos e Roberto Oliveira, representantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
“Percebemos que a estrutura do Estado brasileiro hoje, desde a Agência Nacional Reguladora aos conselhos e Ministério de Minas e Energia, é voltada aos interesses das grandes empresas. Não há ninguém da classe trabalhadora ou dos atingidos por barragens discutindo sobre o que é feito no setor”, pontuou Oliveira.
A proliferação de empreendimentos hidrelétricos na sub-bacia do Juruena de forma pouco transparente e criteriosa, comprometendo o uso múltiplo dos rios, também já foi constada em monitoramento independente realizado pela Operação Amazônia Nativa (OPAN).
Barragens alteram o ecossistema das águas e comprometem o fluxo natural de sedimentos, responsável por nutrir peixes e a flora ao longo do rio. Áreas antes inundadas, podem vir a secar gradativamente. A médio e longo prazo, uma via fluvial rica em biodiversidade pode se tornar, ou vir a ser considerada, morta.
Na abertura do evento, foi exibida uma live com convidados que atuam em defesa da vida na sub-bacia do Juruena, além da exibição da mostra audiovisual com o curta “Rio da Vida”, que trouxe mensagens de moradores e grupos que vivem na região.
As manifestações audiovisuais e artísticas se fizeram presentes durante todo o festival. No segundo dia, pela manhã, Rafaela Heran e Wesley Ramos apresentaram a contação de história denominada “O presente de Jaxy Jaterê”. No período vespertino, foram exibidos cinco curta metragens na mostra audiovisual e, na noite cultural, dez cantaautores se revezaram num emaranhado musical.
As atividades presenciais foram realizadas dias antes da abertura do Festival. Entre 6 e 7 de novembro de 2021 na aldeia Mayrob, localizada na Terra Indígena Apiaká-Kayabi, foi desenvolvida uma dinâmica de educação ambiental, organizada pelo povo Apiaká, com estudantes estudantes da Escola Leonardo Krixi Apiaká. A ação detalhou sobre técnicas de reflorestamento e utilização de mudas frutíferas.
Nos dias 20 e 21 de novembro, mulheres da aldeia Vale do Sol, situada na Terra indígena Erikpatsa, realizaram uma oficina de produção de sabão em barra e líquido, com receitas simples. Item básico de higiene, o sabão é essencial para o enfrentamento da pandemia de covid-19 nas comunidades. Participaram da atividade mulheres das aldeias Primavera, União, Pedregal e Laranjal.
A ação integra uma série de medidas adotadas pelas Rikbaktsa para apoiar as famílias em meio à crise sanitária. Desde o início da pandemia até o momento, máscaras, jalecos e produtos de higiene foram distribuídos aos territórios Japuíra, Erikpatsa e Escondido.
Nas mesmas datas e Terra Indígena, porém na aldeia Curva, foi feita a coleta de frutas da bacaba, que é uma palmeira nativa da região amazônica. Para se extrair a fruta, deve-se escalar a palmeira. Rica em cálcio e magnésio, a bacaba é utilizada na produção de chicha, uma bebida muito tradicional dos povos indígenas, produzida pelos participantes da atividade no dia seguinte à coleta. Na ocasião, peças de artesanatos também foram confeccionadas a partir das sementes das frutas.
O Festival Juruena Vivo acontece desde 2014 de forma itinerante e busca reforçar as discussões sobre a integridade da sub-bacia do Rio Juruena, destacando sua importância para a vida dos diferentes povos indígenas, comunidades rurais e populações urbanas da região noroeste de Mato Grosso, mas também a toda a sociedade.