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Sociobiodiversidade da Amazônia é tema de encontro histórico em Brasília

Evento promoveu a articulação entre as cadeias produtivas do pirarucu, castanha-da-amazônia e borracha

Brasília se tornou a sede de um encontro que reuniu representantes das diversas cadeias produtivas da sociobiodiversidade amazônica. Pela primeira vez na história, manejadores de pirarucu, castanha-da-amazônia e borracha, de diferentes territórios amazônicos, uniram-se em um mesmo evento para discutir pautas de interesse comum. Cerca de 230 participantes, entre povos indígenas, comunidades tradicionais e representantes de 97 organizações, estiveram na capital federal para a Semana da Sociobiodiversidade, evento que aconteceu entre os dias 31 de agosto e 6 de setembro.

Participantes da Semana da Sociobiodiversidade. Foto: Talita Oliveira/OPAN

Com o tema “Fortalecendo Economias Sustentáveis, Pessoas, Culturas e Gerações”, o encontro promoveu a articulação técnico-política entre as cadeias da sociobiodiversidade amazônica. O evento foi coordenado pelo Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e apoiado pela Operação Amazônia Nativa (OPAN) e diversas organizações aliadas.

Diálogos e ações para um futuro sustentável

Representantes do Coletivo do Pirarucu e Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) se reúnem no Palácio da Agricultura. Foto: Talita Oliveira/OPAN

A busca por experiências e soluções que levem em consideração a conservação da biodiversidade, o desenvolvimento econômico, os conhecimentos tradicionais e a equidade social deram a tônica do evento. Cada coletivo se dedicou a identificar e debater os principais desafios e experiências trazidos pelos extrativistas.

No âmbito das discussões sobre o manejo sustentável do pirarucu, o grupo aproveitou a presença em Brasília para promover encontros de incidência política com representantes de instituições governamentais que atuam, direta ou indiretamente, no apoio e regulamentação do manejo do pirarucu. Foram realizadas reuniões com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), entre outros órgãos.

“O manejador falando diretamente com quem rege as leis e normas para aquele trabalho que nós fazemos, e a gente participar e colocar o nosso ponto de vista foi uma oportunidade muito interessante”, avalia Diomir Santos, da Associação dos Comunitários que Trabalham com o Desenvolvimento Sustentável do Município de Jutaí (ACJ), que integra o Coletivo do Pirarucu. 

O destaque do momento setorial da castanha-da-amazônia foi o processo de entender e redesenhar a Amazônia com base em “Regiões Castanheiras”. Para isso, foi realizado um trabalho de mapeamento participativo que identificou 14 dessas regiões. A definição auxiliará nos avanços da governança do Coletivo da Castanha e no aprimoramento do sistema de inteligência ecológica e econômica que está sendo desenvolvido pelo grupo.

Os participantes do evento foram divididos em grupos de trabalho para pensar ações estratégicas de fortalecimento das cadeias da sociobiodiversidade. Foto: Talita Oliveira/OPAN

“O objetivo é garantir maior valorização das atividades extrativistas, mas também a manutenção do território, a conservação da floresta e a valorização dos modos de vida das populações tradicionais em toda a Amazônia”, avaliou Keivan Hamoud, representante da Associação dos Agropecuários de Beruri (Assoab).

Já nos diálogos sobre a borracha,  foi identificada a necessidade de uma atuação em rede, onde a troca entre as diversas áreas que trabalham com a borracha seja constante. Por isso, os extrativistas decidiram criar oficialmente o “Coletivo da Borracha”, representando um marco nas articulações da cadeia produtiva a nível regional e nacional.

Carta da Semana da Sociobiodiversidade

Reunindo as principais discussões e reivindicações dos extrativistas presentes no evento, a Carta da Semana da Sociobiodiversidade teve como base a defesa da Amazônia e o fortalecimento dos povos indígenas e comunidades tradicionais.

O documento foi entregue para a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, que recebeu a carta das mãos do presidente do CNS, Júlio Barbosa, e da secretária de Juventude do CNS, Letícia Moraes, durante sessão solene realizada na Câmara dos Deputados em homenagem ao Dia da Amazônia.

Júlio Barbosa, presidente do CNS, e a secretária de Juventude do CNS, Letícia Moraes, entregam carta para a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva. Foto: Talita Oliveira/OPAN

“A aliança dos povos da floresta se amplia e agora tem que ser aliança também com os povos da cidade”, disse a ministra. 

A carta foi entregue também ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na ocasião da solenidade no Palácio do Planalto, realizada no dia 5 de setembro, em comemoração ao Dia da Amazônia.

Leia a carta completa aqui.