8 mil mulheres de 247 povos indígenas, originárias de todos os biomas e diversos territórios brasileiros, estiveram reunidas na terceira edição da Marcha das Mulheres Indígenas, realizada de 11 a 13 de setembro, em Brasília (DF). Com o tema “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais”, elas reivindicaram o fim da violência de gênero e a manutenção dos direitos constitucionais dos povos originários.
Organizada pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), o evento promoveu diálogos, lançamentos de livros, desfiles de moda, apresentações culturais, além de uma grande marcha que percorreu as ruas da capital federal. Mas, apesar da grande relevância para o movimento indígena, alguns povos ainda não haviam participado das edições anteriores do evento.
É o caso dos Deni, Kanamari e Madiha, da região do Médio Juruá, no Amazonas, que participaram da mobilização pela primeira vez. A decisão de participar do evento partiu de assembleias organizadas pelas associações indígenas e é fruto de um processo de incentivo ao empoderamento das mulheres indígenas, fomentado por diversas iniciativas, entre elas o Raízes do Purus, projeto realizado pela OPAN e patrocinado pela Petrobras.
Do Médio Juruá a Brasília
A delegação do Médio Juruá foi composta por cinco mulheres de três Terras Indígenas: Terra Indígena Kulina do Rio Uerê (Matatibem), Terra Indígena Kanamari do Rio Juruá e Terra Indígena Deni. Devido às longas distâncias, as mulheres iniciaram a viagem para Brasília duas semanas antes do início da marcha. O caminho percorrido envolveu deslocamentos a pé, de carro, barco e avião.
Das aldeias para a cidade de Carauari, município distante cerca de 790 quilômetros de Manaus, foram mais de 20 horas em pequenas canoas, única embarcação viável devido ao baixo nível dos rios. De Carauari, seguiram em um avião de pequeno porte por duas horas até Manaus e, finalmente, três horas de voo até a capital federal.
“O trajeto para vir para cá [Brasília] foi bem difícil. Não é fácil para nenhuma de nós sair, deixar seus filhos, seus familiares, para se deslocar até chegar aqui. Mesmo com dificuldade, a gente chegou e chegar até aqui está sendo uma honra. Ouvir o depoimento das parentas nos fortalece”, avalia Adriana Ferreira, do povo Madiha, que compôs a delegação.
Diálogos e cantos
Os dois primeiros dias do evento foram dedicados a importantes diálogos e articulações entre as mulheres indígenas e também com representantes do poder público. Estiveram presentes as ministras Sonia Guajajara, do Ministério dos Povos Indígenas; Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima; Aparecida Gonçalves, do Ministério das Mulheres; e Anielle Franco, do Ministério da Igualdade Racial, além da presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana.
No intervalo entre os diálogos, apresentações de cantos e danças tradicionais dos diversos povos indígenas presentes na marcha foram realizadas. As mulheres da delegação do Médio Juruá aproveitaram a oportunidade para fazer ecoar os cantos dos povos Deni, Kanamari e Madiha, emocionando as pessoas que lotaram a Tenda Central.
III Marcha das Mulheres Indígenas
O momento mais aguardado do evento foi a grande marcha. Mais de 8 mil mulheres caminharam juntas desde a Fundação Nacional das Artes (Funarte) até a Praça das Bandeiras, numa manifestação pacífica pela defesa de seus direitos.
Apesar do calor intenso, Adriana, Djiwiwi, Marywam,Tinani e Jayrê percorreram todo o trajeto da marcha, atenta às reivindicações e empunhando a faixa com a frase “Mulheres Kanamari, Deni e Madiha Kulina do Médio Juruá AM: caminhando juntas para nos fortalecer!”, representando a união que foi sendo construída durante os dias de convivência no evento.
Jayrê Kanamari, vice-presidente da Associação do Povo Kanamari de Carauari (Aspokac), explica que foi um momento importante de aprendizado mútuo entre as mulheres. “Assim como eu aprendi com elas, elas também aprenderam comigo. Vamos lutar pelos nossos direitos e nunca desistir. Estamos unidas!”, avaliou.
Já Tinani Varasha, que é a primeira mulher em posição de liderança numa aldeia do povo Deni, saiu inspirada a incentivar outras mulheres. “Eu quero botar a mulherada de liderança. Eu vou falar: agora estamos todas juntas, agora estamos com força!”, finalizou, animada.