Homenagem à Jonia Terezinha Fank
Nota de falecimento sobre uma grande amiga e companheira
Na madrugada deste dia 26 de dezembro de 2023 partiu a nossa amiga e companheira Jonia Terezinha Fank, na sua cidade natal, Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul, aos 57 anos.
A notícia abalou os colegas de trabalho e amigos que fez ao longo de mais de 30 anos de indigenismo, primeiro no Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e depois na Operação Amazônia Nativa (OPAN). Engajada nas lutas sociais desde muito cedo, atuou na Pastoral da Juventude em Venâncio Aires e, em 1989, foi convidada por Teresinha Weber e Gunther Kroemer para a equipe de trabalho com o povo Suruwaha, no sul do Amazonas.
Fez o curso de formação do CIMI e em 1990, juntamente com Edineia Porta, Mara Lúcia Oliveira e Mário Lúcio, passou a compor a equipe que implementou o Projeto Suruwaha, iniciado em 1984, programa de ação indigenista e de proteção ao território deste povo de recente contato, que constituiu os primeiros e mais consistentes materiais etnográficos sobre os Suruwaha até então. Em 2021, contou com a amiga Tere parte dessa trajetória no artigo “Outro olhar para os povos indígenas isolados e de pouco contato”, no livro Novas Reflexões Indigenistas.
Na OPAN, Jonia dedicou-se também à gestão do convênio entre a OPAN e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que atendeu de 1999 a 2010 os povos Enawene Nawe, Myky e Manoki, no noroeste de Mato Grosso.
Como secretária-executiva do Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad), foi uma das organizadoras do Projeto Mato Grosso Sustentável e Democrático, realizado nos anos 2000, para levantamento de dados e monitoramento da sustentabilidade e da democracia no estado, cujos resultados foram publicados em 2006 em artigos sobre agricultura, mineração, recursos hídricos, áreas protegidas e educação ambiental.
Mudou-se para Castanhal, no Pará, onde atuou como professora e, em 2016, retornou para a sede da OPAN em Cuiabá como gerente financeira. Em 2018, assumiu a liderança do setor e neste cargo permaneceu até o final de 2020. Em 2021 e 2022, foi diretora-tesoureira da OPAN.
São inúmeros os relatos de companheiros que foram acolhidos por Jonia na sua chegada à instituição em todos esses anos. Junto com outros colegas gaúchos, era figurinha certa nas rodas de chimarrão na sede da OPAN, em Cuiabá, todas as manhãs. Conhecida por posicionamentos fortes e sempre disciplinada nos cuidados com o corpo e a mente, enfrentou com coragem a luta contra o câncer, descoberto em 2019. Foi exemplo de determinação e serenidade em cada etapa do tratamento.
Nessa época, teve garra para se mudar de Chapada dos Guimarães (MT) para Natal (RN) e realizar seu sonho de viver no litoral. Mas em meados de 2023 decidiu retornar à Venâncio Aires (RS) com o agravamento da doença. Filha de Virena e Sebastião, irmã de Sergio e Alfeu e tia de Elvira, Rafael e Murilo, Jonia deixa para sempre o legado de alguém que com determinação e espírito livre conquistou aquilo que almejou, sem perder a esperança e a coragem.
Desejamos muita força para a família e os amigos de Jonia neste momento difícil.
Descanse em paz, amiga.
Equipe OPAN