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Povo Kanamari avança na organização social e equidade de gênero

Encontro histórico na Terra Indígena Kanamari do Rio Juruá celebra avanços na gestão associativa e marca a ascensão de mulheres à liderança

A Aldeia São João, localizada na Terra Indígena Kanamari do Rio Juruá, Amazonas, sediou um encontro marcante e histórico para o povo Kanamari do Xeruã. Em junho deste ano, durante a XIV Assembleia Ordinária da Associação do Povo Tâkuna do rio Xeruã (Aspotax), foram alcançados importantes avanços na gestão coletiva da organização e na inclusão de mulheres em cargos de liderança pela primeira vez.

As assembleias desempenham um papel fundamental no fortalecimento da organização social, na troca de informações e no direcionamento de novas iniciativas do povo. Foto: Cristabell López/OPAN

O evento reuniu 50 pessoas, entre moradores das três aldeias Kanamari, representantes do povo Deni, vizinhos do território Kanamari, e indigenistas da Operação Amazônia Nativa (OPAN). Durante três dias, foram debatidos temas como saúde, educação e vigilância territorial. Além disso, a assembleia realizou a primeira eleição de lideranças mulheres, a prestação de contas e a apresentação do plano de trabalho da diretoria da associação.

“Em 2023, nós assumimos a diretoria da Aspotax e a primeira assembleia [da nova diretoria] não foi fácil, porque a maioria das pessoas não estavam confiantes em nós, porque estávamos começando. Mas agora estamos tendo algumas respostas para as demandas da comunidade, estamos trabalhando em equipe e o pessoal está mais confiante”, relatou José Welga Kanamari, vice-presidente da Aspotax.

Mulheres Kanamari na liderança pela primeira vez

Até recentemente, a representação política nas três aldeias da Terra Indígena Kanamari do Rio Juruá era composta exclusivamente por homens. No entanto, a XIV assembleia da Aspotax trouxe uma mudança histórica: seis mulheres foram eleitas para representar politicamente os Kanamari, marcando um novo capítulo na trajetória da associação e do povo. A partir de agora, homens e mulheres compartilham a liderança, articulando demandas e representando suas comunidades nas assembleias anuais.

Pela primeira vez, mulheres foram eleitas como lideranças das comunidades, papel compartilhado com os homens. Foto: Cristabell López/OPAN

“A intenção é que elas participem mais do dia a dia da associação. Não pode ser só os homens liderando, as mulheres também têm que participar”, afirmou o vice-presidente. Além das novas lideranças comunitárias, Waomah Érica Kanamari, de apenas 16 anos, foi eleita para liderar a juventude. A jovem compartilhou os desafios e as expectativas de assumir essa responsabilidade.

“Foi difícil ocupar esse lugar. No início eu não entendia bem, mas fui aprendendo e agora me sinto feliz pelo que sou e pelo que represento. Fui escolhida para esse papel, e vou ajudar os jovens, fazendo reuniões nas aldeias, dando força e incentivando-os a ocupar outros espaços.”
Este marco histórico aconteceu pouco tempo após a primeira participação de uma delegação de mulheres do Médio Juruá, que incluiu representantes dos povos Kanamari, Deni e Madija, na Marcha das Mulheres Indígenas realizada em 2023, em Brasília. O evento reuniu mais de 8 mil mulheres de 247 povos indígenas do Brasil, e as três mulheres Kanamari que estiveram na marcha compartilharam a experiência e os temas discutidos com as demais mulheres que não puderam participar.

Capacitação fortalece a gestão da Aspotax

Em 2023, através do projeto Raízes do Purus, realizado pela OPAN com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, foi realizada uma formação em associativismo para aprimorar a capacidade de gestão da Aspotax. Atendendo a uma demanda do povo Kanamari, a capacitação abordou as funções dos membros da associação, além da elaboração de projetos e demais documentos. Na época, 40 pessoas participaram da formação, incluindo os membros da atual diretoria da Aspotax, professores, lideranças e moradores das três aldeias.

As assembleias são também um espaço de articulação para a incidência em diferentes esferas da sociedade civil e dos governos. Foto: Cristabell López/OPAN

José Welga, vice-presidente da associação, destacou que a oficina foi crucial para o entendimento das funções de cada membro da diretoria, fortalecendo o trabalho em equipe. “A formação em associativismo teve teoria, prática e nos deu uma visão de como trabalhar juntos, em equipe. Estamos nos esforçando para ser transparentes, e a comunidade está sempre informada sobre tudo que acontece na associação”, explicou.