Este trabalho apresenta uma reflexão sobre os processos socioculturais de construção da etnicidade indígena dos caxixós do Capão do Zezinho. Habitantes das margens do rio Pará, região centro-oeste de Minas Gerais, eles possuem uma imagem que em nada se assemelha à imagem estereotipada de “índio” (corpos nus, língua exótica, cabelos negros e lisos, habitantes das florestas, etc).
Moradores de casas de alvenaria, falantes da língua portuguesa, católicos, trabalhadores rurais, os caxixós possuem um modo de vida que não contrasta, à primeira vista, com o modo de vida regional. Para que o Estado brasileiro reconhecesse a condição indígena caxixó foi necessária a produção de três laudos antropológicos. De forma ímpar, o caso intensificou o já acalorado e amplo debate (político e acadêmico) sobre quem são os povos indígenas no Brasil contemporâneo e, sobretudo, quem tem o poder de “identificá-los”. Nesse sentido, a partir de uma pesquisa de campo, combinada a uma pesquisa histórico-documental, a dissertação analisa o modo como os caxixós do Capão do Zezinho elaboram sua identificação indígena e estabelecem suas fronteiras sociais, uma vez que não possuem “cara de índio”.
O estudo realizado também possibilitou problematizar o modo como o senso comum constrói a condição indígena. Para a realização das análises, o trabalho valorizou a experiência histórica e a memória social caxixó, bem como os estudos sobre etnicidade. Dessa forma, a dissertação apresenta uma reflexão sobre o processo, em andamento, do projeto étnico caxixó e também uma contextualização sobre o que é ser índio no Brasil no limiar do século XXI.
Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais – Antrologia de Vanessa Alvarenga Caldeira
Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)