A presente dissertação aborda aspectos das relações de tempo e espaço entre os Enawene Nawe, povo indígena da família linguística Aruak que atualmente ocupa uma única aldeia no Vale do Rio Juruena, noroeste do Mato Grosso. Os Enawene Nawe desenvolvem ciclos de rituais sazonais que guardam específicas relações com o território. Na estação ritual denominada Yaõkwa constroem uma série de acampamentos que lhes permite, por meio de sofisticada engenharia de barragens de pesca (waiti) nos pequenos rios da região, capturarem grande quantidade de peixes. Estes, por sua vez, são ritualmente oferecidos no espaço central da aldeia aos seres cósmicos denominados yakaility. Desse modo, suas relações espaciais durante esse ritual, em especial, são um dos fundamentos de coesão social refletida na espacialidade.
Depois do contato, na década de 1970, a dinâmica Enawene Nawe com o espaço e o tempo sofre transformações provocadas, principalmente, pela incorporação sistemática de grande quantidade de barcos movidos a motores de popa. No entanto, no que pese o abandono de algumas ritualizadas relações com o espaço, é na continuidade das longas expedições de pesca com permanências de grandes grupos de homens por dois meses em acampamentos (erainiti) que está um dos fundamentos socioespacial de sobrevivência física e simbólica. Tal fenômeno baseia-se no esforço coletivo de harmonia de relações entre diferentes horizontes do cosmos, garantindo-lhes segurança diante de possíveis afecções deletérias que seres subterrâneos ou celestes podem provocar.
Palavras-chaves: Enawene Nawe. Aruak. Espaço. Socicosmologia. Amazônia Meridional.
Dissertação de Mestrado em Antropologia de Edison Rodrigues de Souza
Universidade Federal da Bahia
Programa de pós Graduação em Antropologia