Troca de experiência sobre seringa e castanha movimenta povos indígenas
Quatro dias diante das corredeiras do rio Juruena mostraram aos povos indígenas, agricultores e seringueiros que a utilização responsável dos ativos ambientais em seus territórios é uma alternativa real de renda a quem se propõe a manejar as matas sem ceder às intensas pressões de desmatamento.
Por: Comunicação OPAN
Aldeia Curva- TI Rikbaktsa (Brasnorte-MT) Em 2003, um quilo de castanha-do-brasil valia 25 centavos vendidos na ponte sobre o rio Juruena pelo povo indígena Rikbaktsa. Hoje, o mesmo saco vale pelo menos R$ 1,50. E, em vez de entrega-la para os caminhoneiros passantes, a castanha vai para supermercados em outros estados. O que aconteceu nesse percurso atraiu o interesse de populações de sete terras indígenas, 220 pequenas propriedades rurais e 40 colocações de seringa do noroeste do Mato Grosso, que se reuniram entre os dias 7 e 10 de abril.
Quatro dias diante das corredeiras do rio Juruena mostraram aos povos indígenas, agricultores e seringueiros que a utilização responsável dos ativos ambientais em seus territórios é uma alternativa real de renda a quem se propõe a manejar as matas sem ceder às intensas pressões de desmatamento. Esta foi a lição que os povos Enawene Nawe, Manoki e Myky, integrantes do Projeto Berço das Águas, levaram de volta para suas aldeias após participarem de um seminário regional apoiado pela OPAN que discutiu as cadeias produtivas e as boas práticas no manejo de látex de seringueira e castanha-do-brasil. “Nós somos sempre enganados para trabalhar nas fazendas, colocam ideias falsas nas nossas cabeças para venderem as nossas riquezas deixando para o povo a destruição dos nossos rios, das nossas matas. Por isso estar aqui para aprender mais e quem sabe levar as técnicas da castanha para a nossa área”, disse o cacique Manoel Kanuxi, da etnia Manoki.
Os três povos iniciaram em 2011 as primeiras atividades para elaboração de planos de gestão ambiental em seus territórios, e fizeram parte de oficinas de mapeamento e manejo sustentável a partir da troca de experiência com os índios Rikbaktsa, Zoró e seringueiros da Reserva Extrativista Estadual Guariba-Roosevelt, que já comercializam seringa e castanha há pelo menos cinco anos.
Esses povos guardam os maiores fragmentos de floresta amazônica conservada do estado Mato Grosso. E pretendem mantê-la assim manejando sustentavelmente seus recursos. Os Zoró, por exemplo, são entre os povos indígenas da região os maiores produtores de castanha, entregando uma safra de 60 a 100 toneladas por ano. “Eles conseguem isso graças à organização da Associação do Povo Indígena Zoró (APIZ), que concentra a produção dos índios e pode negociar a preços melhores com os compradores interessados”, diz Domingos Sávio, técnico florestal do Projeto Pacto das Águas, organizador do evento.
Presentes no seminário, compradores como a empresa Ouro Verde Amazônia, do Grupo Orsa, ou a Cooperativa de Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), do município de Juruena, oferecem preços atrativos para a compra da castanha. No caso da compra da produção de seringa, a Michelin se dispõe junto aos indígenas e seringueiros a adquirir toda sua produção, pois mercado há de sobra. Só entre os Rikbaktsa, pelo menos 15 mil árvores estão sendo manejadas para extração do látex, com potencial para mais. “Mais do que fazer negócios, queremos construir parcerias, pontes entre dois mundos que têm dificuldade de se falar: o mundo da floresta e o dos negócios”, disse Plácido Costa, coordenador técnico do Projeto Pacto das Águas. Hoje, é justamente a falta de formalização das atividades que impede os negócios de crescerem e tomarem mercados mais amplos.
Também são entraves a esse crescimento as dificuldades de escoamento das safras por estradas e pontes em péssimo estado de conservação, principalmente das áreas de coleta às aldeias e das aldeias até as cidades próximas compradoras. Isso leva os povos a optar por caminhos mais rápidos acessando os mercados locais por intermédio de atravessadores que pagam os piores preços pelos produtos.
Para diminuir esses obstáculos, alguns grupos podem contar com assistência da Funai e do Projeto Pacto das Águas, que dão suporte com combustível para o transporte da safra, entre outras ações. A intenção é que cada associação defina uma estratégia de escoamento da produção, considerando as particularidades de cada terra indígena e do mercado consumidor.
Embora as empresas estejam cada vez mais interessadas em vincular sua atuação ao manejo sustentável em áreas protegidas, como as terras indígenas, respeitando inclusive o modo de produção e o tempo desses povos, a OPAN considera que é preciso cautela na entrada dos indígenas nessa lógica produtiva e, no final do encontro, propôs uma reflexão. “Precisamos pensar o que queremos produzir, como e quanto, porque a lógica do branco é produzir sem parar. Até que ponto a produção vai interferir nas práticas tradicionais de cada povo? O comércio de produtos que já são manejados pelos povos como alternativa ao desmatamento deve mesmo ser incentivado, mas não se esqueçam de pensar no como”, disse Lola Campos, coordenadora técnica da OPAN.
Berço das Águas: colhendo riqueza nas terras indígenas do Mato Grosso
O quê: Projeto para elaborar planos de gestão ambiental em três terras indígenas do Noroeste de MT e fomentar cadeias produtivas de frutos nativos do Cerrado e da Amazônia para fins de geração de renda e sustentabilidade ambiental dos territórios.
Para quê: Apoiar a gestão ambiental e melhoria das condições de vida dos povos Enawene Nawe, Manoki e Myky
Quando: 2011-2012
Quem: Operação Amazônia Nativa (OPAN), com patrocínio da Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental
Onde: Terras Indígenas Enawene Nawe, Myky e Manoki, nos municípios de Sapezal, Comodoro, Juína e Brasnorte (MT)
OPAN
A OPAN foi a primeira organização indigenista fundada no Brasil, em 1969. Atualmente suas equipes trabalham em parceria com povos indígenas do Amazonas e do Mato Grosso, desenvolvendo ações voltadas à garantia dos direitos dos povos, gestão territorial e busca de alternativas de geração de renda baseadas na conservação ambiental e na manutenção das culturas indígenas.
Contatos com imprensa
Andreia Fanzeres: +55 65 33222980 / 81115748
Email: comunicacao@amazonianativa.org.br
OPAN – Operação Amazônia Nativa
Todas as imagens devem ser creditadas. Para fotos em alta resolução, favor solicitar por e-mail.