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Katukina começam a elaborar plano de manejo florestal

O povo Katukina tem vasta experiência na produção e comercialização de vassouras feitas com fios de cipó-titica, do óleo de copaíba e também de andiroba, que abastecem as cidades amazonenses de Jutaí e Carauari.

Por: Comunicação OPAN

Jutaí (AM) – O povo Katukina tem vasta experiência na produção e comercialização de vassouras feitas com fios de cipó-titica, do óleo de copaíba e também de andiroba, que abastecem as cidades amazonenses de Jutaí e Carauari. Mas demandam capacitação para uma produção em escala, que seja mais eficiente e agregue maior valor para obtenção de preços mais vantajosos no mercado. O desejo dos indígenas em ver os produtos katukina identificados e certificados motivou uma oficina de capacitação em manejo florestal indígena promovida pela OPAN como uma das atividades do Projeto Aldeias, que tem parceria com a Visão Mundial e financiamento da USAID.

O evento aconteceu em março na aldeia Gato, na Terra Indígena Rio Biá, com a participação de 27 índios katukina das cinco aldeias distribuídas em uma área 1.185.790 hectares. Esta foi a primeira etapa para a construção de um plano de manejo de produtos florestais não madeireiros para copaíba, andiroba e cipó-titica. A próxima fase será fazer um inventário de espécies, a ser desenvolvido por engenheiros florestais, técnicos e pelos katukina. Em seguida, os profissionais elaborarão propriamente o plano de manejo da TI Rio Biá, visando o licenciamento ambiental da atividade.

A capacitação promovida pelo Projeto Aldeias contou com a consultoria de Kelceane Azevedo (engenheira agrônoma) e Ezaque Nascimento (técnico florestal) que têm experiência no apoio às comunidades indígenas e ribeirinhas do Acre, na elaboração de planos de manejo florestal comunitários. Também participaram Elifran Luna, engenheiro florestal do Instituto de Desenvolvimento Sustentável de Fonte Boa (IDS) e o técnico florestal Robert Viana, do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (IDAM, de Jutaí).

A construção de um plano de manejo florestal indígena diferencia-se pela participação do povo Katukina em todo o processo, para que na medida do possível eles possam se apoderar de novas ferramentas para melhoria da qualidade de vida, além do uso e gestão dos recursos naturais. “O diferencial desta oficina foi a capacitação katukina não apenas em atividades relacionadas à coleta e à produção, mas na própria construção do plano de manejo. Os katukina aprenderam a fazer inventário utilizando GPS e bússola na localização das espécies, bem como calcular a altura e espessura das arvores, e confecção de plaquetas de identificação das mesmas”, relata Genoveva Amorim, indigenista da OPAN.

Técnica de inventário com bússola

O inventário com bússola foi ministrado através de um método conhecido como “mapeamento de espécies florestais e cálculo de área com uso de bússola e passos calibrados” (metodologia elaborada pela Universidade Federal do Acre – UFAC). Cada indígena katukina recebeu orientações para calibrar o seu passo. Ao descobrir o tamanho de cada passo em centímetros, os katukina receberam instruções sobre o uso da bússola. Em dupla, os participantes anotaram os pontos de referência e a localização de espécies interessantes para o manejo. A partir daí, foi possível construir os mapas. E, apesar das dificuldades de domínio de matemática e do português entre os Katukina, eles se mostraram felizes com os resultados.

“Este é apenas um passo no fortalecimento do povo Katukina para que eles sejam incluídos em uma economia de base florestal sustentável, tenham seus produtos comercializados por um preço justo e sejam reconhecidos por sua capacidade histórica e cultural de manejar os recursos florestais na Amazônia”, explica Genoveva Amorim.Deste modo, eles poderão contribuir e cobrar, a partir de sua experiência, com a formação de políticas públicas que favoreçam os povos da floresta.

Terra Indígena do Rio Biá

A Terra Indígena do Rio Biá tem 1.185.792 hectares localizados numa região muito preservada que compõe o Corredor Central da Amazônia. Ao norte, a terra indígena faz limite com a Reserva Extrativista de Jutaí, a sudeste com a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Cujubim e a oeste com a Reserva Extrativista do Médio Juruá. Atualmente há 8 aldeias: Boca do Biá, Gato, São Bento, Janela, Sororoca, Santa Cruz, Bacuri e Sururucu.

A homologação da área só ocorreu em 1997, mas a OPAN já participava diretamente do processo de demarcação desde 1987, quando também trabalhava de forma ativa com saúde indígena nessa região. Depois, seguiu atuando em ações de vigilância, alfabetização na língua indígena, oficinas de capacitação e projetos de alternativas econômicas.

Projeto Aldeias

O Projeto Aldeias desenvolve-se em sete terras indígenas do estado do Amazonas, nas bacias dos rios Purus, Juruá e Jutaí. É uma iniciativa da OPAN em parceria com Visão Mundial, iniciada em outubro de 2008, e que conta com o apoio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Os dois objetivos principais do programa são: apoio à conservação da biodiversidade e ao manejo de recursos naturais nas terras indígenas Katukina do Biá, Deni, Paumari do Rio Cuniuá, Paumari do Lago Paricá e Paumari do Lago Manissuã; e o fortalecimento das organizações indígenas de base, organizações locais e organizações regionais. Há também uma componente desenvolvida em parceria com a Coordenação de Índios Isolados e de Recente Contato (FUNAI/ CGIIRC), de proteção etnoambiental dos povos indígenas Hi Merimã e Suruaha, no marco da Frente Purus de Proteção Etno-ambiental.

OPAN

A OPAN foi a primeira organização indigenista fundada no Brasil, em 1969. Atualmente suas equipes trabalham em parceria com povos indígenas do Amazonas e do Mato Grosso, desenvolvendo ações voltadas à garantia dos direitos dos povos, gestão territorial e busca de alternativas de geração de renda baseadas na conservação ambiental e na manutenção das culturas indígenas.

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