Ti Aipôdo, refletindo sobre o território
Etnomapeamento em Marãiwatsédé é passo importante para povo Xavante.
Etnomapeamento em Marãiwatsédé é passo importante para povo Xavante.
Por: Comunicação OPAN
Durante a atividade, os Xavante identificaram locais de caça, pesca, coleta e roças por meio de diálogo participativo promovido pela equipe indigenista da OPAN com apoio da FUNAI. Os Xavante foram convidados a relembrar sobre o que havia em Marãiwatsédé antes da invasão de posseiros e latifundiários, levando em conta a temporalidade (passado, presente e futuro). “A área sofreu mudanças drásticas durante esses mais de 40 anos em que os Xavante estiveram fora, de forma que muitos dos locais relevantes (de caça, matas, de rituais) encontram-se atualmente num estado bastante distinto daquele que está na lembrança dos mais velhos”, explica o consultor Marcelino Soyinka, que conduziu a atividade na aldeia. “ Por outro lado, os mais jovens conhecem tais locais apenas por histórias dos anciãos, mas ainda não tiveram oportunidade de realizar este retorno a todas as áreas. Agora, essa expectativa de reocupação e reconhecimento é um desejo bem forte entre os Xavante”, completa.
O levantamento preliminar feito pelos indígenas baseou-se no domínio do simbólico e do físico. A geografia do território do povo Xavante também foi discutida, com a identificação de áreas de uso nos Ti Aipôdo(mapas), elaboração de mapas mentais com aldeias antigas, regiões de caça/coleta/pesca/roça, locais sagrados e áreas de expedições territoriais.
Após sofrerem o processo de desterritorialização compulsória em 1966, os Xavante de Marãiwatsédé passam por uma reterritorialização, entendida como movimento de (re) construção do território. O processo de desintrusão dos ocupantes não indígenas foi iniciado em novembro de 2012, após sucessivas decisões judiciais, e oficialmente finalizado em janeiro de 2013. Por isso, é de suma importância a reflexão sobre o uso, manejo e desenvolvimento sustentável do território pela comunidade.
A TI Marãiwatsédé tem hoje 104 mil hectares devastados, transformados em pastagens e monoculturas, o que demanda ações de recuperação ambiental de médio e longo prazos, apoio à comunidade em alternativas sustentáveis e rentáveis relacionadas à suas próprias atividades. Os mapas e diálogos relacionados possibilitam uma reflexão e discussão sobre o gerenciamento e uso do território constituindo uma ferramenta de gestão ambiental e territorial desta TI. Nesses diálogos, novos pleitos foram levantados, como o reflorestamento em áreas de pasto e abertura de novas roças de toco e mecanizada.
Os Xavante de Marãiwatsédé tiveram cerca de 165 mil hectares homologados em 1998 pela Presidência da República, mas só conseguiram retornar da diáspora sofrida desde a ditadura militar em 2004, após padecerem às margens da BR-158 por 10 meses. Mesmo dominado por latifundiários, até 1992, o território indígena ainda não tinha sofrido grandes intervenções e desmatamentos, mas de 20 anos para cá as águas foram contaminadas, a floresta foi devastada e Marãiwatsédé foi considerada a terra indígena mais desmatada da Amazônia brasileira. Hoje, em Marãiwatsédé há apenas uma aldeia onde vivem cerca de 980 pessoas, das quais cerca de 300 são crianças.
“A luta Xavante pelo território não se esgotou com a desintrusão. Assim, após esta grande vitória dos indígenas, o desafio é pensar o que fazer com o território, como viver, como cuidar, gerir. Neste sentido, o etnomapeamento surge como uma ferramenta importante para auxiliar no compartilhamento das informações sobre a área a partir da ótica dos A’uwe e, ao disponibilizá-las nesta linguagem visual (etnomapas), que é simples e acessível a todos os A‘uwe, também atua como importante apoio no planejamento das ações de gestão de seu território”, diz Soyinka. A oficina de etonomapeamento junto ao povo Xavante terá continuidade e vai subsidiar a elaboração do Plano de Gestão Ambiental e Territorial de Marãiwatsédé.
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