OPAN

Uma aposta no coletivo

Moradores da RDS Cujubim fortalecem sua organização para trabalho com recursos da floresta.

Por: Dafne Spolti/OPAN.

Jutaí (AM) – Costumam dizer que a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Cujubim é o lugar mais longe do mundo. Ou o mais perto, dependendo da perspectiva. Mas é fato que nas duas comunidades, Vila Cujubim e Novo Paraíso, é preciso mais que disposição para ir até a cidade de Jutaí, distante cerca de cinco dias de barco. É lá que os moradores do Cujubim comercializam e adquirem produtos que necessitam para seu dia a dia e o custo de deslocamento é alto, ainda mais se feito individualmente. Empenhados em mudar essa realidade, gerando renda a partir do uso sustentável dos recursos naturais, os moradores estão fortalecendo sua organização e ampliando o leque de produtos trabalhados.

Menino da Vila Cujubim. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

Por meio de oficinas desenvolvidas com apoio do projeto “Arapaima: redes produtivas”, executado pela OPAN com recursos do Fundo Amazônia e de outros parceiros*, as comunidades se reuniram para avaliar o papel da Associação dos Extrativistas da RDS Cujubim (AERDSC) e estabeleceram acordos visando a melhoria da sua capacidade de atuação. Decidiram que a associação será intermediária nos processos de comércio dos produtos e ao mesmo tempo, parte do que for ganho – o que já vai ser colocado em prática na pesca de pirarucu deste ano – será destinado a ela, para manutenção de patrimônios, como o barco adquirido com o projeto, e para garantir o seu funcionamento.

Reunião da RDS, com moradores da Vila Cujubim e do Novo Paraíso. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

Outra novidade da RDS é que os moradores irão trabalhar com o peixe liso (ou de couro) e o artesanato, além do manejo de pirarucu e do roçado que já desenvolvem. “Quando falaram em trabalhar com peixe liso, fiquei muito feliz. É uma ideia muito boa”, disse o gestor da RDS Cujubim, Adevane da Silva Araújo, do Departamento de Mudanças Climáticas e Gestão de Unidades de Conservação (Demuc), da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA). Os peixes lisos, como surubim, jaú, piramutaba, piraíba e a pirarara podem ser pescados durante todo o verão amazônico, entre julho e dezembro e eventualmente é possível até conseguir algum pescado no período da cheia também, explicou. Além disso, como querem vender o produto congelado e não seco, devem receber um valor bom, destacou ele.

Adevane Araújo está contente com o trabalho na RDS e acredita em mudança de cenário e maior independência dos moradores com isso: “Hoje necessariamente precisam ter subsídio. Mas a partir do momento que fortalecerem a organização da comunidade e a associação, com o tempo não vão precisar de ajuda para escoar os produtos”.

Na última semana foi trabalhado também o artesanato na RDS. As mulheres produziram colares, pulseiras e brincos a partir de uma oficina e estão animadas em continuar a atividade para comercializar em Jutaí e Manaus. “Achei muito legal que apareceram mulheres que sabem trabalhar com o fio tucum. O fio tucum aqui em Manaus é muito raro, muito difícil de encontrar”, destacou a especialista em Educação Ambiental, Kelly Cristina Pereira de Souza, que facilitou a atividade e que vem contribuindo com o fortalecimento da AERDSC por meio do projeto Arapaima. Ela também observou a grande participação das mulheres, de todas as idades.

Produção de artesanatos. Foto: Kelly Cristina Pereira de Souza/InCité/OPAN.

Até a próxima oficina, que será promovida pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS), as mulheres da RDS Cujubim estão se organizando para coletar sementes, como jarina, açaí e outras, e já definiram o espaço, uma antiga cantina, onde farão o processo de secagem e armazenamento das sementes, que também podem ser comercializadas soltas além de servir para a produção das peças. Durante a oficina de artesanato houve uma assembleia em que ficou decidido formalmente o apoio da AERDSC à venda das biojoias e que devem articular a atividade com escoamento dos outros produtos, visando otimizar o transporte.

Participantes da oficina e crianças. Foto: Kelly Cristina Pereira de Souza/InCité/OPAN.

Mais do que uma melhora na economia, a aposta dos moradores da RDS em torno de sua organização e dos produtos pode ter outros resultados, como o aumento da autoestima e a aproximação entre as pessoas. “Parece que aos poucos, a moral dos moradores da RDS Cujubim tem se elevado, pois alternativas de geração de renda e inclusão social estão sendo apresentadas e discutidas, enquanto as atividades em andamento, como o manejo do pirarucu estão sendo organizadas”, disse o indigenista Rodrigo Tawada.

Maria Teixeira dos Santos, moradora da Vila Cujubim que participou da oficina de artesanato, disse acreditar que as iniciativas das comunidades vão dar certo, destacando a ampliação das possibilidades de geração de renda. Para ela também, o desenvolvimento dessas cadeias produtivas é uma forma de aproximar os moradores da RDS: “A gente vai ver se trabalhando com os produtos, as pessoas vão se chegando, se unindo”, concluiu.

Fundação Amazonas Sustentável (FAS) e Departamento de Mudanças Climáticas e Gestão de Unidades de Conservação, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Demuc/SEMA).

Contatos com a imprensa

Dafne Spolti
dafne@amazonianativa.org.br
(65) 3322-2980