OPAN

Expansão do manejo Paumari

Pesca de pirarucu é realizada em intercâmbio de povos do Amazonas e do Acre.

Por: Dafne Spolti/OPAN.

Lábrea (AM) – Os Paumari do rio Tapauá, no Amazonas, colocaram todo o seu potencial, maestria e agilidade em uma das atividades que mais gostam: a pesca manejada de pirarucu – de 300 peixes – realizada em intercâmbio com moradores da Foz do Tapauá, indígenas Deni e Kanamari do rio Xeruã, indígenas Kaxinauá do Acre e membros de uma colônia de pesca do município de Feijó, no mesmo estado, além de outros parceiros. Os participantes ficaram impressionados com a pesca e o nível de organização dos Paumari e vão aproveitar a experiência para aprimorar o manejo em suas terras. 

Bené Kaxinauá, Aldemir Kaxinawá e Jonabson Moura/Funai. Foto: Gilson Kaxinawá.
Paumari pescando. Foto: Adriano Gambarini/OPAN.

“Os parentes vieram felizes e a gente recebeu essas pessoas com o maior carinho que pôde”, disse Francisco da Silva Oliveira Paumari. Para ele o mais importante é que os visitantes puderam observar características e diferenças entre os modelos de trabalho com manejo. O indigenista da Operação Amazônia Nativa (OPAN), Magno de Lima dos Santos, também elogiou a participação dos convidados: “A interação foi contínua. O pessoal que veio já tinha experiência de trabalho, do batidão. Contribuíram muito. Os visitantes ajudaram principalmente na pesca e no monitoramento”.

Francisco falando durante apresentações e reunião de preparação para a pesca. Foto: Gilson Kaxinawá.

Os Kaxinawá da Terra Indígena (TI) Praia do Carapanã, município de Tarauacá (AC), passaram oito dias se transportando até chegar às terras Paumari, o que não foi um problema principalmente diante do aprendizado. “Vendo os Paumari que são pioneiros, seu histórico, suor demandado, luta, foi um momento muito importante”, avaliou o cacique José Benedito Ferreira, conhecido como Bené. Ele explicou que junto com sua Associação dos Produtores Criadores Kaxinawá da Praia do Carapanã (ASKPA) vêm trabalhando a conscientização sobre o uso de recursos dentro da terra para manter os pirarucus, mas que não precisam se preocupar com o público externo porque a terra não sofre com invasões, como é comum em outras regiões. A ideia deles é fazer uma pesca em 2020 para consumo próprio em um festival que realizam tradicionalmente. Além dos Kaxinawá da Praia do Carapanã participou um representante da TI Kaxinawá de Nova Olinda.

Manejadores da colônia de pesca de Feijó (AC), ao contrário dos Kaxinawá da Praia do Carapanã, convivem diretamente com a pesca predatória ao longo do rio Envira. “É mais difícil cuidar”, explicou o consultor, Júlio César da Silva, da “Tipoia”, que presta trabalho de assessoria técnica na WWF-Brasil e foi junto aos indígenas e a pescadores da colônia participar do intercâmbio. “Minha avaliação é que foi surpreendente”, destacou, comentando sobre a quantidade do pescado nas terras Paumari. “300 peixes em quatro dias foi muito intenso. Nós vimos que para chegar nisso a organização deles foi muito forte”.

Participantes reunidos no recebimento do peixe. Foto: Gilson Kaxinawá.

José Alfredo Cruz do Nascimento, da colônia de pesca de Feijó, também fez sua avaliação positiva: “Foi uma maravilha de bênção. A gente foi bem recebido pelo povo, o trabalho foi muito bom, tinha muito peixe. Vai ajudar muito ver o trabalho e a união deles”, afirmou.

José Alfredo. Foto: Gilson Kaxinawá.

Sumurivi Hava Deni e Darawi Amilton Kanamari que já contaram com apoio dos Paumari em sua pesca experimental de 2016 e da pesca de 2017também puderam participar. “Uvini, eu participei aqui do manejo dos Paumari. Eu gostei muito. O povo deles é muito organizado”, disse Sumurivi. Ele destacou que os Paumari são divertidos e fazem brincadeiras com as pessoas. Como monitor (responsável por anotar os dados sobre a pesca) no manejo Deni, ele aproveitou o intercâmbio para aprimorar a leitura dos centímetros na medição de tamanho do peixe e dos gramas na pesagem e agora vai compartilhar isso nas aldeias do rio Xeruã.

Marco Mitidieri (Funai), Daniele Paumari, Ana Paula Paumari e Clenildo Paumari no monitoramento. Foto: Gilson Kaxinawá.

Darawi participou da limpeza do peixe e da pesca com tanto empenho quanto no manejo Deni e virando noite para absorver o máximo de informações possível. Ele destacou o aprendizado sobre a rede – que tem tamanho específico para não capturar peixes menores – e como consertá-la.

Darawi Kanamari. Foto: Adriano Gambarini/OPAN

O secretário executivo da Federação das Organizações e Comunidades Indígenas do Médio Purus (Focimp), Antônio Alberto Lima dos Santos, do povo Apurinã, destacou que a participação dos moradores da foz do rio Tapauá de outras regiões será muito importante para a conservação da natureza e fartura. “Vai começar no manejo de pirarucu, mas outros animais vão se chegar mais. Peixes e animais de caça”, explicou, dizendo ainda: “é isso que os povos indígenas precisam. Ter o peixe, a caça. Vem tucunaré, pacu, surubim. Isso é um exemplo. Se faz a venda do excesso do peixe para comprar leite, açúcar… no mais é comer bem”.

Antônio destacou a forma de convivência de povos indígenas com a natureza e como conseguem trabalhar sem destruir nada. “Dizem que os povos indígenas não produzem nada. Vamos mostrar que estamos produzindo”, destacou em referência ao manejo dos Paumari a outras atividades com produtos da floresta. “Nós não estamos destruindo a mata. Estamos usando os recursos. Com a floresta em pé o índio está forte e sem a floresta o índio não vive”, concluiu.

Vista do céu na terra dos Paumari. Foto: Gilson Kaxinawá.

Apoio e ganhos para continuidade do trabalho

A pesca manejada dos Paumari contou com apoio da OPAN, do Instituto Internacional de Educação Brasil (IEB) e da Focimp por meio do projeto Nossa Terra, executado com recursos da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), da WWF e da Fundação Nacional do Índio (Funai). Contou ainda com a participação da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) do Acre e do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais não Renováveis (Ibama).

Marco Mitidieri, servidor da Coordenação Regional (CR) Médio Purus da Funai, comentou sobre o cooperação da instituição indigenista: “Muitas comunidades ribeirinhas do rio Tapauá e do Cuniuá e as aldeias também conseguem sentir os benefícios desse trabalho continuado do povo Paumari”. Ele destacou como ganhos do manejo a organização comunitária avançada dos Paumari, o bem-estar social e a fartura de alimentos. “Isso tudo deve ser encarado como serviços ambientais prestados pelo povo Paumari à toda a região. Por isso encaramos que é de extrema importância as atividades terem apoio da Funai para sua realização”, concluiu.

A pesca dos Paumari deste ano, realizada em outubro, teve um custo aproximado de R$ 45.000,00. Os peixes foram vendidos por meio da Cooperativa Mista Agroextrativista Sardinha (Coopmas) a R$ 5,00/kg para o frigorífico Casa do Peixe, com o pirarucu sendo entregue no porto de Manaus, totalizando quase 16 mil quilos e R$ 79.629,00. Com apoio de parceiros em logística os Paumari estão conquistando o valor aproximado de R$ 63 mil. Os benefícios são divididos entre todos os manejadores, cerca de 80 pessoas incluindo todas as frentes de trabalho.

Barco rebocando a balsa frigorífica com os pirarucus. Foto: Gilson Kaxinawá.

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