Mostra Socioambiental do Araguaia
Encontro promoveu o diálogo e apresentou o potencial das cadeias de valor da sociobiodiversidade.
Por: Liebe Lima/AXA*
O espaço da feira municipal de São Félix do Araguaia ficou colorido pelos mais de 70 expositores e feirantes que se reuniram para fazer acontecer a VI Mostra Socioambiental e V Feira de Economia Solidária do Araguaia entre os dias 15 e 17 de junho. Os produtos da sociobiodiversidade e as pessoas que vivem na terra gerando renda, trabalhando pela preservação das matas, mananciais e a recuperação de áreas degradadas, são os protagonistas desta celebração promovida pela Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção (ANSA) com o apoio de parceiros. A equipe da ANSA é unanime em afirmar que a mostra “é feita a muitas mãos”.
As mais de 1500 pessoas que passaram por lá puderam circular entre a diversidade de produtos da agricultura familiar, comidas típicas, artesanatos e a presença dos povos indígenas que compõem a riqueza étnica da região. Um palco para fazer brilhar esta gente que realiza importantes contribuições sociais no campo da segurança alimentar e da preservação ambiental, mas que seguem invisíveis às políticas públicas e sem o reconhecimento de seus direitos originários à terra e às diferenças.
O tema central da mostra este ano foi “Araguaia Rios Vivos” e para além do tema, as reflexões foram ampliadas à realidade brasileira no uso de agrotóxicos que envenenam as águas e os alimentos. A questão dos agrotóxicos foi abordada por Sebastião Pinheiro no seminário de abertura da VI Mostra, que contextualizou sobre o impacto altamente nocivo para a saúde, principalmente para as pessoas mais pobres que não podem pagar por um alimento orgânico, como também, para as que vivem no entorno ou trabalham manipulando veneno nas lavouras de monoculturas.
A Pastoral da Juventude de Santa Terezinha fez uma demonstração de engajamento na campanha nascida na Prelazia Araguaia Rios Vivos, quando lotou um ônibus de 40 lugares e percorreu uma longa distância até São Félix do Araguaia para marcar sua presença com a performance teatral/musical que representou o esgotamento da vida, dos rios e dos mananciais em decorrência do uso predatório de seus recursos.
Por sua vez, os alunos da Escola Municipal Antônio de Freitas, de Novo Santo Antônio, participaram com uma poesia que destacou o valor das frutas regionais e como eles deixaram de consumir sucos industrializados para fazerem eles seus próprios sucos com polpas de frutas que consomem na merenda escolar atualmente.
Já as mulheres dos vários povos e assentamentos presentes se reuniram em roda para prosear sobre os conteúdos e aprendizados acessados durante a mostra. Elas apontaram a mobilização, o exercício da cidadania -no sentido de qualificar o voto em representantes políticos que apoiem a causa e a participação da comunidade nos controles sociais- como caminhos para as mudanças que elas consideram essenciais para efetivação das leis que viabilizem a inclusão dos produtos da agricultura familiar no cardápio da merenda escolar e no abastecimento do mercado regional.
O ambiente de encontro entre diferentes povos com causas comuns certamente é um ponto relevante da Mostra Socioambiental. A troca de saberes e o compartilhamento da vida comum entre indígenas e camponeses são ingredientes eficazes para a quebra de paradigmas e preconceitos, motivo pelo qual, muitas vezes a história os colocou em campos opostos de disputa, em que ambos perderam, resultando como vencedores -até o momento- o latifúndio e as políticas de concentração de riquezas.
Apoiar os povos indígenas e os assentados da reforma agrária em busca de autonomia é uma das bandeiras pela qual as organizações que compõem a Articulação Xingu Araguaia (AXA) trabalham, e no evento atuaram como elos na intermediação entre a Mostra Socioambiental e as bases sociais.
Atendendo a demanda permanente de formações e assistência técnica para as comunidades onde a AXA trabalha, este ano a Mostra Socioambiental promoveu a Oficina de Saúde do Solo com Sebastião Pinheiro, trazendo conhecimentos inovadores para a produção agroecológica e propondo ações que permitirão aos agricultores realizar testes de qualidade do solo, produzir terra preta e equilibrá-lo de maneira a não sofrer ataque de fungos e bactérias, mostrando na prática, que o necessário para se produzir bem está disponível na natureza.
Os que foram dançar, comprar os produtos da agricultura familiar e artesanatos, comer as variadas e deliciosas comidas regionais, tomar sucos de frutas da terra, encontrar os amigos e prestigiar a VI Mostra Socioambiental e V Feira de Economia Solidária, contribuíram para apoiar e fazer girar o ciclo de abundância que é gerado quando consumimos a produção local de alimentos. Com tanta comida boa produzida aqui, porque abastecer as gondolas dos supermercados com produtos do CEASA e mandar para Goiânia as riquezas que podem permanecer aqui?
Com a passagem da Mostra Socioambiental convidamos você para continuarmos juntos na construção de um mercado local inclusivo e um consumo consciente que valorize os produtos regionais da agricultura familiar.
Para quem não esteve na Mostra, ano que vem tem mais!
Mais informações sobre a mostra: http://axa.org.br
*Texto originalmente publicado aqui
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Giovanny Vera
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