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Marcada grande festa do povo Deni

Durante assembleia, decidiu-se que a tradicional “Ima Amushinaha Bani Vadanaha” será realizada em maio de 2020.

Por Dafne Spolti/OPAN.

Itamarati (AM) – O povo indígena Deni do rio Xeruã acaba de realizar sua XIV assembleia. Em três dias de reunião, elegeram a nova diretoria da Associação do Povo Deni do Rio Xeruã (Aspodex), discutiram sobre gestão territorial, saúde, educação e diversos temas voltados à melhoria da qualidade de vida nas quatro aldeias – Boiador, Terra Nova, Morada Nova e Itaúba – além da Siruha, que está em construção. Uma das decisões mais comemoradas foi a realização de uma grande festa tradicional que a envolve todas as aldeias: A Ima Amushinaha Bani Vadanaha.

Trata-se da reunião de duas festas dos Deni, explica o indigenista da OPAN, Renato Rodrigues Rocha. A Ima Amushinaha, que pode ser traduzida como “uma boa conversa”, é uma festividade em que os Deni costumam decidir assuntos em conjunto; a Bani Vadanaha, envolve uma caçada coletiva para a oferta da alimentação. Nesta última, é realizado, ainda, o ritual Itavari, em que amizades são formalizadas entre as pessoas, que passam a ter um mútuo compromisso de companheirismo entre si ao longo da vida.

“Estou feliz com a nossa festa que faz tempo que não fazemos”, contou Ziberuni Hava Deni, da aldeia Morada Nova. Ao tomarem a decisão ela afirmou a todos que ia plantar muita banana no roçado para fazerem caiçuma [um suco]. Além disso, logo ela doou R$ 50 reais para começarem os preparativos. Atitude que foi seguida por outras mulheres Deni.

Ziberuni Hava Deni. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

A festa está em sintonia com o novo estatuto da Aspodex, construído ao longo deste ano em oficinas apoiadas pela Embaixada da Noruega, aprovado em assembleia extraordinária. Entre os objetivos da associação, o documento prevê logo no primeiro ponto: “Fortalecer a cultura do povo Deni por meio da valorização dos conhecimentos dos mais velhos, apoiando a realização de festas, rituais e a elaboração de material didático e viabilização da troca de experiências”.

Mulheres Deni se preparando para iniciar canto sobre Aspodex na assembleia. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

Arikha [nossa] cultura

Baseados nessa ideia, os Deni refletiram na assembleia sobre um assunto delicado para o povo: a entrada de religiões na Terra Indígena. Recentemente, missionários protestantes foram à terra Deni. Recebidos na maior parte das aldeias, falaram aos indígenas que representavam o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), da Organização das Nações Unidas (ONU). Caso os aceitassem na aldeia, poderiam ter projetos para as crianças e adolescentes.

A partir dessa exposição, foram questionados pela Aspodex. A associação também elaborou uma carta para o Unicef, pedindo esclarecimentos. A resposta do Unicef foi lida para toda a assembleia. Esclarecia que o Estado é laico e que a ONU trabalha em respeito à Constituição Federal de 1988.

Pha’avi Hava Deni. Ao fundo, cópia do novo estatuto da Aspodex. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

Os Deni avaliaram conjuntamente a questão. Sem querer provocar nenhum tipo de embate e sempre reconhecendo o apoio de parceiros, decidiram em votação que não queriam a presença de representantes de igrejas na terra Deni. “A Unicef respeita nossa tradição, nosso jeito e nossa cultura”, destacou o presidente da associação, Pha’avi Hava Deni, para evitar qualquer engano.

Na oportunidade, o coordenador da Coordenação Regional Médio Purus, Luiz Fernandes de Oliveira Neto, da Fundação Nacional do Índio (Funai), observou que para entrar nas terras indígenas é preciso solicitar anuência da instituição, que vai observar o interesse do povo em receber pessoas de fora e a motivação da visita à terra.

Os avanços e desafios da Aspodex

Durante a assembleia, a Aspodex apresentou as atividades realizadas desde o final do ano passado até hoje, como elaboração de projetos próprios, participação em oficinas de comunicação, cartografia e direitos, encontro de jovens, seminário de cadeias produtivas, apoio à coleta de andiroba, reuniões trimestrais nas aldeias, reuniões para atualização do estatuto social, participação da assembleia da Associação do Povo Kanamari do rio Xeruã (Aspotax), participação na reunião do Território Médio Juruá, planejamento da pesca manejada de pirarucu, entre outras.

Foi apresentada a prestação de contas da associação, que a cada ano tem um aumento dos recursos voltados para os projetos do povo Deni por conta das doações dos associados, do projeto de Repartição de Benefícios do Juruá e principalmente, do manejo de pirarucu.

Prestação de contas da Aspodex. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

Apesar dos avanços, o volume das atividades é alto e estava sobrecarregando a associação. Por isso, no estatuto foram incluídos mais participantes na diretoria da Aspodex, de forma que possam dividir as funções e permitir, assim, que os dirigentes também tenham condições de continuar realizando outras atividades importantes no dia a dia, como a pesca, a caça e o trabalho nos roçados.

Além de conquistas, há questões ainda sem solução se repetindo há anos tanto para os Deni quanto para os Madija Kulina e Kanamari também presentes. Entre elas a regularidade na data de início das aulas, aquisição dos produtos dos roçados para a alimentação escolar indígena, a construção de um novo Polo Base de Saúde Indígena. Na assembleia os assuntos foram discutidos e os participantes escreveram reivindicações ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) e à prefeitura municipal de Itamarati.

Elaboração de cartas e assinatura de documentos na noite do último dia de assembleia. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

Os Deni também têm solicitado apoio da Funai há tempos. Dessa vez foram atendidos com equipamento completo de radiofonia e GPSs. Porém, ainda continuam lutando por materiais para abertura de picadas no limite da terra, apoio à vigilância territorial e abertura de uma Coordenação Técnica Local (CTL) em Itamarati.

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Dafne Spolti

Operação Amazônia Nativa (OPAN)

(65) 3322-2980 / 9 8476-5663