OPAN

Prevenção à Covid-19 no rio Tapauá

Em trabalho conjunto, Funai, Sesai e OPAN contribuem com proteção contra o novo coronavírus junto aos Paumari, Deni e Banawa, no sul do Amazonas.

Por Dafne Spolti/OPAN

Cuiabá (MT) – Com a garantia da terra conservada, diversas populações indígenas têm condições mais seguras de lidar com a pandemia da Covid-19. Essa é a situação dos Paumari, Deni e Banawa do rio Tapauá, região sul do Amazonas, que vivem em um contexto de abundância de peixe e outros alimentos de origem animal e vegetal. Em uma ação conjunta entre a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Operação Amazônia Nativa (OPAN) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), foi possível, seguindo os protocolos de saúde, contribuir diretamente com a prevenção ao novo coronavírus e conhecer as condições desses três povos diante da pandemia.

A OPAN participou da atividade a convite da Funai, por ter relação estreita com a região, atuando há décadas em Lábrea, um dos municípios onde estão essas terras, e por manter atuação direta com os indígenas Paumari. “Facilita o nosso trabalho ter essa integração com outras instituições indigenistas. Trabalhei bastante tempo com os Suruwaha, então passava constantemente pelo rio Cuniuá, mas nunca tive acesso direto às comunidades Paumari que estavam ali”, destacou o auxiliar de indigenismo da Funai, Mauro Gonçalves Knackfuss, observando que isso é importante também para o melhor uso dos recursos financeiros nessas viagens de longas distâncias.

Rio Tapauá. Foto: Adriano Gambarini/OPAN.

Com mais de dois dias de barco, em uma viagem que durou 12 dias do meio para o final de maio, a equipe chegou ao rio Tapauá, localizado na bacia do Médio rio Purus, e, em cada comunidade entregou itens de mercado, ou rancho, como se diz regionalmente, enquanto não chegam as cestas da Funai, previstas para serem entregues em Lábrea por volta do dia 22 de junho.

Na chegada em cada aldeia, a equipe parava somente no porto, deixando os produtos logo ali ou no pé da escada que leva à aldeia. Todos os produtos – adquiridos a partir de parcerias entre as instituições e os poderes municipais locais – eram higienizados. No momento, a equipe do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), da Sesai, passava as recomendações de prevenção à Covid-19.

Higienização de produtos na aldeia Capanã, do povo Paumari. Foto: Diogo Henrique Giroto/OPAN.

Foram envolvidas na ação três terras Paumari do Tapauá, a Terra Indígena (TI) Banawa e a aldeia Limoeiro, dos Deni. “A ação foi boa. O pessoal ficou feliz com o trabalho prestado e seguiram bem as orientações da equipe de saúde”, afirmou o coordenador do DSEI Médio Purus, Antônio Carlos Galvão da Silva. “Eles estão conscientes. Realmente todos os moradores estavam nas aldeias”, observou o servidor da Funai.

Entre os itens entregues estavam açúcar, sabão, café, óleo e água sanitária. “O pessoal às vezes quer fritar um peixe, tomar um café”, explica o indigenista da OPAN, Diogo Henrique Giroto, enfatizando o objetivo de prevenção à Covid-19 ao evitar a saída das aldeias e a entrada de comerciantes de fora. “Lá ninguém passa fome, não há problemas relacionados à soberania alimentar”, complementa ele.

Para facilitar a garantia à alimentação, foram entregues também materiais de pesca. “Ainda bem que trouxeram o material de pesca. Isso ajuda a gente a sair o mínimo da aldeia”, disse Pedro Banawa. Na ação, foi disponibilizado, ainda, combustível para fortalecimento das ações de vigilância territorial.

A proteção às terras do Tapauá foi um dos motivadores da ação conjunta. Como não há acesso à linha telefônica e a radiofonia funciona bem somente na terra dos Banawa e dos Deni, e dado o histórico de barcos pesqueiros na região, a Funai precisava ir localmente verificar a situação. Foi encontrado um barco com 200 quilos de carne de caça e quatro quelônios para comercialização ilegal. Nesse caso, não se tratava de barco vindo de fora, mas de alguém das comunidades próximas. Contudo, na época da vazante dos rios, é provável que se acentuem invasões por conta dos barcos de Manacapuru e Manaus, que devem ser fiscalizados pela Funai.

Subida do rio Piranha, a caminho da TI Banawa. Foto: Diogo Henrique Giroto/OPAN.

Apesar de ainda ser uma região muito visada para a retirada de recursos, hoje em dia isso é mais controlado por conta das formas de gestão territorial dos Deni e Banawa e também do trabalho dos Paumari, que realizam a vigilância territorial e outras atividades do manejo de pirarucu no baixo e no médio rio Tapauá. “O trabalho que eles estão fazendo lá contribui para a conservação das outras áreas Banawa. Já tem relato de Banawa dizendo que é visível o aumento de pirarucu na área deles. Isso se dá também porque a pressão de pesca era muito grande nos Paumari, quando eles botavam os barcos de pesca pra lá. Então parando com isso e fazendo a conservação na área Paumari com certeza está protegendo todo aquele território”, explicou o coordenador do Programa Amazonas da OPAN, Gustavo Silveira.

Durante os dias da ação no Tapauá, foi possível ver que os Paumari, Banawa e Deni, além de se prevenirem bem durante a pandemia, estão realizando muitas atividades cotidianas como, por exemplo, arrumar a estrutura das casas e fazer farinha, mantendo o isolamento social com pessoas de fora. “Estão num movimento de trabalhar coletivamente; tocando a vida normalmente, mas tomando cuidado com os deslocamentos”, observou o indigenista da OPAN, Diogo Henrique Giroto.

Rio Canaça, na Terra Indígena Deni (2005). Foto: Gustavo Silveira/OPAN.

Desafios e perspectivas

Mesmo com uma certa tranquilidade em relação à Covid-19 no Tapauá, existem questões preocupando os indígenas. Uma é a falta de informação sobre o contexto exterior às aldeias pela dificuldade de acesso à comunicação; outra, com questões diretamente relacionadas ao atendimento de saúde.

Aldeia Patauá, do povo Paumari, durante ação preventiva. Foto: Diogo Henrique Giroto/OPAN.

Entre os Paumari, de acordo com José Lino Paumari, que é conselheiro local de saúde, há grande preocupação dos moradores de sua aldeia Colônia, onde é localizado o Polo Base de Saúde Indígena, pela possibilidade de os próprios profissionais da saúde estarem contaminados no revezamento de equipe. Para o coordenador do DSEI, a preocupação é correta. No entanto, ele afirmou que o DSEI segue todos os procedimentos e protocolos do Ministério da Saúde e da Sesai e que, ainda, realiza testes rápidos em todos os profissionais após o período de quarentena e antes de irem a campo. “A gente testa todos os profissionais, com sintoma ou sem sintoma”, garantiu ele.

Para os Banawa, que têm acesso mais fácil ao município de Canutama, o problema maior com a questão de saúde é relacionado à proximidade com a cidade. Recentemente, três indígenas que precisaram sair, neste caso para Manaus, contraíram a Covid-19 e agora estão agora se tratando em Lábrea.

Entre os Deni, a situação é estável. Contudo, de acordo com Mauro Gonçalves Knackfuss, da Funai, além de haver casos frequentes de doenças endêmicas como a malária, eles mantêm grande dependência com missionários, o aporte de recursos externos e, ainda, por viverem em um número grande de pessoas na aldeia, podem viver situações complicadas nos próximos dias.

O servidor da Funai destacou, mais uma vez, a importância de ações conjuntas frequentes junto a povos que vivem distantes para garantir a saúde e as possibilidades de prevenção. “A gente vai ter que conviver com essa pandemia durante um bom tempo e se não fizermos atividades em curto prazo, inevitavelmente esse pessoal terá que ir pra cidade buscar rancho ou por conta de alguma situação de saúde”, conclui, destacando a previsão de novas atividades de entregas de alimentos, orientações de saúde e de fiscalização junto aos indígenas do rio Tapuauá.

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Dafne Spolti

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