Com mais de 76% dos indígenas vacinados, DSEI Cuiabá divulga “vacinômetro”
Responsável pela vacinação de 13 povos, o Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena (DSEI) da capital coleta dados e promove a divulgação dos resultados da vacinação.
Tupy Myky, morador da aldeia Japuíra, recebeu a vacina contra a covid-19 no último sábado (30). A vacinação ocorreu na própria aldeia e, segundo o líder indígena de 32 anos, o procedimento foi tranquilo, sem nenhuma recusa. “O povo entendeu bem a importância da vacina, a importância de se proteger. Aqui, a equipe de saúde não encontrou dificuldades. Circularam alguns boatos nas redes sociais, mas todos se vacinaram na aldeia. Agora, estamos esperando a segunda dose. Muita coisa vai mudar para melhor”, avaliou.
O representante do povo Myky é um dos milhares de indígenas que estão no grupo prioritário de vacinação em Mato Grosso. O estado recebeu 60 mil doses especificamente destinadas à imunização dos que vivem em aldeias. O território mato-grossense possui seis Distritos Sanitários Especiais de Saúde Indígena (DSEIs) e atende 43 povos diferentes.
Para monitorar o alcance do plano de vacinação no estado, Mato Grosso criou o “vacinômetro”. A organização e a atualização dos dados pelo DSEI Cuiabá têm chamado a atenção pelo cuidado e os detalhes dos registros, que indicam a porcentagem de vacinação alcançada em cada Polo Base. A campanha de vacinação teve início no dia 21 de janeiro.
Segundo o documento divulgado em 3 de fevereiro, 76,62% dos indígenas que compõem o DSEI já haviam recebido a primeira dose da CoronaVac, fornecida pelo Instituto Butantan. O órgão mostrou, por exemplo que em 28 de janeiro, os polos de Comodoro, Gomes e Carneiro e Rio Verde, as aldeias Halaitaikwa e Kolinakwa, Pakuera, Três Jacú e entorno, e as Terras Indígenas Tadarimana, Santana e entorno já vacinaram mais de 80% da população.
No DSEI, cerca de 8% dos indígenas recusaram a vacinação por motivos religiosos e de notícias falsas. De acordo com os profissionais do DSEI, após constatado que não houve nenhum problema com a primeira dose, os próprios indígenas passaram a procurar os locais de vacinação.
Kawayp Katu Kayaby, presidente da Associação Indígena Kawaiwete, informa que a vacinação alcançou toda comunidade Kayabi de Mato Grosso. “Todos acima dos 18 anos foram vacinados. Foi tudo tranquilo, vamos esperar agora a segunda dose. A pandemia está mais controlada aqui”.
O controle local realizado por agentes de saúde e líderes comunitários supre a ausência de uma estratégia eficaz de acompanhamento da aplicação da vacina em âmbito nacional. Três semanas se passaram desde o início da vacinação entre os povos indígenas aldeados e, até hoje, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) não realizou a divulgação detalhada do número de indígenas vacinados por DSEI no país.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que, até o momento, 37% dos 755 mil indígenas sob responsabilidade do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) já foram vacinados. “Os dados de doses aplicadas e coberturas vacinais serão disponibilizados no LocalizaSUS. No entanto, por se tratar de um processo de vacinação em massa em locais de difícil acesso e alguns sem comunicação via internet, a atualização dos dados dos aldeados leva mais tempo, em comparação à campanha nas áreas urbanas”.
O painel de vacinação do Ministério da Saúde aponta que, até o dia 4 de fevereiro, 58.876 doses foram aplicadas no Brasil, dentro do grupo de 410 mil indígenas maiores de 18 anos imunizados neste primeiro lote.
Na visão de Elias dos Santos Bigio, novo presidente da Operação Amazônia Nativa (OPAN), a transparência de dados é fundamental para a adoção de estratégias de trabalho. “A Sesai tem a obrigação de tornar público o trabalho que ela está realizando de aplicação da vacinação. É um direito do cidadão brasileiro de saber quem está sendo vacinado e principalmente das instituições que atuam na defesa dos povos indígenas. Hoje, os indígenas não têm apenas o Estado como interlocutor, existem organizações que também fazem esse trabalho”.
O historiador complementa que informações falsas têm contribuído para a recusa da vacina em algumas áreas. “Temos informações de que religiosos estão dizendo para os indígenas não se vacinarem. Uma situação absurda que está acontecendo é a de negar a importância das vacinas”, aponta Elias.
No fim de janeiro, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a inclusão de todos os indígenas no quadro de vacinação prioritária, aldeados e não aldeados, argumentando que a discriminação é inconstitucional. A organização, junto ao Movimento Nacional Indígena (MNI), também lançou nas últimas semanas a campanha “Vacina Parente”, com o intuito de promover ações para reforçar a importância do imunizante.
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