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Brigadistas indígenas aplicam georeferenciamento no combate ao fogo

Curso de SIG oferecido pela OPAN tem o objetivo de capacitar equipe do Sul do Amazonas na obtenção de dados que indiquem com rapidez e precisão o local dos focos de incêndio e as rotas mais adequadas para o deslocamento da brigada.

Combater o fogo é uma missão que começa antes das chamas. E por isso, a experiente brigada Tenharin/Marmelos, equipe responsável pela proteção de 500 mil hectares da região sul do Amazonas, está usando o período pré-seca para aprimorar os conhecimentos e estratégias para prevenir e aplacar os focos de calor. Do dia 28 de março a 1º de abril, os brigadistas indígenas participaram de um curso de Sistema de Informação Geográfica (SIG) oferecido pela OPAN no âmbito do projeto “Fortalecendo brigadas indígenas para o manejo florestal e prevenção de fogos no Mato Grosso e Amazonas”, iniciativa apoiada pelo Serviço Florestal Americano (USFS).

Um dos módulos do curso foi dedicado à pilotagem de drones aplicada ao georeferenciamento. Foto: Magno dos Santos/OPAN

SIG é a nomenclatura usada para indicar um sistema composto por um conjunto de programas de computador e banco de dados operado por pessoas treinadas a coletar, armazenar e processar informações georreferenciadas. Esses dados são essenciais para o planejamento das ações de prevenção e combate a incêndios nas florestas. Atualmente, os brigadistas precisam acionar órgãos federais para pedir essas informações. 

Após a qualificação, eles terão mais segurança para monitorar os focos, e, consequentemente, atuar no combate ao fogo antes de um alastramento maior. “Com esse curso, teremos informação para monitorar a área de incêndio e chegar ao local. Os conhecimentos de SIG facilitarão nosso trabalho. Assim que detectarmos que há foco de incêndio, vamos nos deslocar, as ações serão mais eficientes, o fogo não vai se espalhar tanto e degradar o meio ambiente”, afirma Assis Tenharin, . 

Os métodos de detecção e monitoramento de incêndios que unem ferramentas tecnológicas, conhecimentos tradicionais e a experiência dos brigadistas envolvem conteúdos complexos. A OPAN contou com o apoio do técnico do Centro de Estudos Rioterra Luiz Felipe Pereira Ulchôa Almeida para ministrar aulas para os indígenas. O geógrafo pontua que com a utilização das ferramentas na rotina de trabalho, os conhecimentos serão rapidamente absorvidos. “Eles vão ter que praticar bastante. Após o curso, já estarão aptos para usar as ferramentas, mas é importante manter a prática, no dia a dia, na gestão territorial das terras indígenas”, explica. 

Técnico do Centro de Estudos Rioterra ministrou as aulas aos brigadistas indígenas. Foto: Magno dos Santos/OPAN

O curso foi dividido em cinco módulos. No primeiro, os brigadistas do povo Tenharim e do povo Parintintim aprenderam usos avançados da ferramenta de GPS, sensoriamento remoto e aplicação dos sistemas de informações geográficas na elaboração de mapas, manipulação e edição de dados vetoriais e matriciais. “As Geotecnologias aplicadas à Gestão Territorial são um conjunto de ferramentas que permitem obter e analisar informações da superfície terrestre, através de técnicas de geoprocessamento e aquisição de informações. Por meio de sensores remotos,

é possível monitorar a paisagem no espaço-tempo, com o objetivo de combater incêndios florestais e a pressão antrópica sobre as áreas protegidas”, explica Felipe.  As aulas foram  realizadas na Aldeia Vila Nova, na Terra Indígena Tenharim/Marmelos.

As aulas aconteceram na Aldeia Vila Nova, na Terra Indígena Tenharim/Marmelos. Foto: Magno dos Santos/OPAN

Os brigadistas também aprenderam sobre bancos de dados geográficos, plataformas preparadas para a manipulação de uma grande quantidade de informações complexas, como os mapas e imagens de satélite. Existem diferentes bancos de dados públicos para a pesquisa de informações necessárias para o monitoramento georeferenciado aplicado ao combate e prevenção de incêndios. Os dados relacionados aos rios, igarapés e lagoas, por exemplo, estão a cargo da Agência Nacional de Águas (ANA), já as informações sobre os limites das unidades de conservação são de competência do ICMBio, e as de delimitação das Terras Indígenas, da Funai. Como parte do curso, eles desenvolveram mapas após acessar informações nas plataformas públicas. 

O último módulo do curso abrangeu aulas teóricas e práticas do uso de drones na estratégia de combate ao fogo. Amaury Tenharin, chefe da brigada que atua na Terra Indígena Tenharin/Marmelos, detalhou como as novas tecnologias podem ser aliadas no trabalho de proteção das florestas. “Com os drones, nós fazemos sobrevoos e identificamos o local do fogo e as rotas que os brigadistas podem usar para se deslocar. Este curso veio pra enriquecer nosso trabalho durante a prevenção, e somar forças para o período crítico, que vai de maio a setembro”, afirma Amaury Tenharin. 

O grupo recebeu certificado de qualificação após a conclusão do curso. Foto: Magno Santos/OPAN

Pesquisas recentes indicam que as mudanças climáticas, o desmatamento e o fogo criminoso usado para a abertura de pastos em áreas protegidas podem fazer com que 2022 também seja um ano marcado por grandes incêndios nos ecossistemas brasileiros. Por isso, o objetivo do curso de SIG é capacitar as brigadas indígenas no período que antecede os incêndios que têm assolado grande parte do bioma amazônico. “Mesmo com todo preparo teórico e prático, houve aumento do número de focos de calor nos últimos três anos. Está cada vez mais complexo estabelecer estratégias de prevenção e combate aos incêndios. Por isso, é preciso cooperar para a qualificação técnica e tecnológica da brigada Tenharin. Essa ação contribui para a proteção do território Kagwahiwa e áreas vizinhas”, afirma Magno dos Santos, indigenista da OPAN. 

FORMAÇÃO DAS BRIGADAS

O Programa de Brigadas Federais (BRIFs) foi criado em 2014 com o objetivo de articular um esquadrão previamente treinado nas ações de combate ao fogo, nos períodos de seca. O curso de formação dos brigadistas é aplicado por instrutores do Prevfogo, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai). O treinamento possibilita que brigadistas indígenas atuem na prevenção e combate a incêndios florestais de suas terras, de acordo com as especificidades de cada bioma.

No ano passado, o BRIFs mobilizou 45 brigadas indígenas, com um contingente de 800 indígenas de 50 povos, distribuídos por 11 estados. Juntos, eles são responsáveis pela proteção de 19 milhões de hectares. Os brigadistas são contratados pelo governo federal por seis meses no ano, para atuar no período de seca.