Povo Paumari fortalece sua organização social
Associação Indígena do Povo das Águas realiza sua 4ª assembleia e avança no fortalecimento da autonomia do povo Paumari.
Por Talita Oliveira | OPAN
Foi na Aldeia Colônia, Terra Indígena Paumari do Lago Paricá, no Amazonas, que a Associação Indígena do Povo das Águas (AIPA) deu mais um firme passo no processo de fortalecimento de sua autonomia e organização social. Criada em 2019 para representar as comunidades das três terras indígenas Paumari do rio Tapauá, a AIPA realizou a quarta assembleia da sua história.
O evento aconteceu em maio deste ano e reuniu cerca de 130 pessoas, entre lideranças indígenas, lideranças de comunidades do entorno do território e representantes de organizações parceiras. Contou, pela primeira vez, com a presença efetiva da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) durante toda a assembleia, representada pela Coordenação Regional do Médio Purus, sinalizando um novo momento da política indigenista.
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A ocasião representou um importante passo para o fortalecimento da vigilância e proteção territorial realizada pelos Paumari. “As lideranças da AIPA aproveitaram a presença da Funai para apresentar com detalhes as invasões e demais conflitos que existem no território. Foi um momento importante para retomar os laços com o órgão e fortalecer ações conjuntas”, avalia Tainara Proença, indigenista da Operação Amazônia Nativa (OPAN).
Avanços para as mulheres
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As mulheres Paumari têm trilhado uma jornada significativa para conquistar os espaços que ocupam atualmente. Essa trajetória tem resultado em realizações importantes, como a formação, durante a terceira assembleia da AIPA, da Coordenação de Organização de Encontros de Mulheres Indígenas. Essa coordenação tem a responsabilidade de mobilizar continuamente as mulheres Paumari em relação às suas demandas e temas de interesse.
Na assembleia, elas puderam apresentar o trabalho realizado pela coordenação e garantiram o apoio para a realização de mais encontros com o objetivo de fomentar a organização social das mulheres e avançar no trabalho com artesanato.
“A coordenação das mulheres é muito importante porque conseguiram fazer um movimento de mulher o qual a gente nem imaginava que poderia acontecer. Muitas mulheres não tinham voz ativa, tinham vergonha, não conseguiam falar e hoje elas conseguem fazer roda de conversa, reunião, mobilização e expressar as suas ideias”, analisa Ana Paula Paumari, secretária da AIPA.
Avanços para a educação escolar indígena
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Pauta importante para o povo Paumari, a educação escolar indígena tem enfrentado dificuldades como, por exemplo, o atraso do início do ano letivo e a ausência de um plano político pedagógico indígena. Por essa razão, a assembleia aprovou a criação de uma coordenação temática de educação com o objetivo de articular avanços nessa área de fundamental importância e tão negligenciada.
Ampliação do manejo pesqueiro em 2024
O povo Paumari foi precursor ao adotar a prática sustentável de manejo do pirarucu em territórios indígenas, que trouxe recuperação dos estoques e a possibilidade de geração de renda a partir da conservação da espécie. Agora, eles se preparam para ampliar o manejo pesqueiro, incluindo outras espécies.
Durante a assembleia, que contou com a participação de técnicos e pesquisadores, os Paumari decidiram iniciar, em 2024, uma experiência de manejo com outras espécies de peixes para avaliação, o que demanda novas estratégias de monitoramento e vigilância. A partir de um diagnóstico construído ativamente pelo povo Paumari com apoio de pesquisadores, estão sendo avaliadas espécies potenciais, elaborados protocolos de monitoramento e organizadas estratégias operacionais, logísticas e mercadológicas para esta exploração sustentável.
“Diferente do manejo do pirarucu, que é feito em lagos, quando falamos em manejo pesqueiro no rio Tapauá a gente acaba analisando com um olhar macro, pensando nas ações que tem que ser feitas por todo o rio para garantir a abundância de peixe em todo território Paumari”, pontua Tainara.
Organização fortalecida
Com o apoio do Raízes do Purus, realizado pela OPAN, com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, os Paumari têm se dedicado de forma constante e progressiva ao fortalecimento de suas capacidades de gestão associativa, assim como aos processos relacionados ao manejo. Esses esforços têm resultado em avanços significativos.
Felipe Rossoni, indigenista e coordenador do projeto Raízes do Purus, destaca o processo de amadurecimento de uma forma própria de gestão, observada a cada nova assembleia.”A assembleia da AIPA é um momento muito importante, que vale todo o esforço em apoiar, pois significa o fortalecimento da organização e da autonomia do povo Paumari. A associação está amadurecendo internamente e se preparando também para as articulações fora do território”, avalia.