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Povo Paumari dá exemplo de união na pesca anual do pirarucu

Em sua 11ª pesca, povo Paumari mobilizou 80 indígenas e conseguiu pescar 30,5 toneladas de pirarucu

Em sua 11ª pesca, povo Paumari mobilizou 80 indígenas e conseguiu pescar 30,5 toneladas de pirarucu

A pesca de 2023 aconteceu em meio a forte estiagem dos rios. Foto: Antônio Miranda/OPAN

O povo Paumari do rio Tapauá realiza o manejo de pirarucu há 11 anos e é referência para outros povos pela excelência na coordenação do trabalho e qualidade do pescado. Mesmo com a experiência acumulada, Francisco Paumari, que coordena o manejo, se questionou se o povo conseguiria realizar a pesca neste ano.”Será que nós vamos conseguir alcançar a cota? Vamos conseguir manter a postura de trabalho? A seca está muito grande, mas nós não vamos esmorecer!”

Adaptando rotinas consolidadas e alterando o planejamento inicial, o povo Paumari conseguiu vencer os desafios e realizar a pesca entre os dias 28 de setembro e 18 de outubro.  O trabalho, que geralmente dura de 12 a 15 dias, este ano se estendeu por 20 dias.

“Eu programei 20 dias de pesca pensando no descanso dos pescadores, da equipe do flutuante, do gelo, da limpeza, para o nosso corpo não ficar fragilizado e para não perder a postura de trabalho, mas imaginando que nós íamos fazer essa pesca entre 12 e 15 dias. Não imaginávamos que íamos levar 20 dias pescando direto”, explica Francisco.

Novas estratégias

Parte da estrutura de pesca do povo Paumari, composta por quatro flutuantes. Foto: Antônio Miranda/OPAN

A estrutura de manejo do povo Paumari é grande: são quatro flutuantes – três grandes e um pequeno, que abrigam dormitórios, cozinhas, banheiros, além de uma estrutura para armazenamento do peixe e do motor de energia elétrica. Em anos anteriores, toda essa estrutura se movimentava ao longo do rio, ficando próxima aos lagos de pesca, para facilitar o trabalho dos pescadores.

Este ano foi o primeiro em que a estrutura ficou fixa em um único lugar, pois o nível do rio estava muito baixo e os flutuantes poderiam ficar encalhados em algum ponto. Essa mudança de estratégia causou um aumento nos custos de combustível, gelo e de manutenção das canoas. “Eu já consigo ver e sentir as mudanças climáticas. É uma coisa que vamos ter que lidar nos próximos anos, não vai parar por aqui”, observa João Paumari, uma das 80 pessoas que compõem a equipe da pesca.

Quadriciclos são usados para transportar os peixes dos lagos até o flutuante de pesca. Foto Anderson Lima Araújo

Outra estratégia adotada pelo povo foi a de pescar em lagos menores, mais centrais e com o acesso por terra. “Tinha lago que você gastava 12 minutos de quadriciclo. E gastava mais 10 a 15 minutos de canoa para transportar o peixe até o flutuante”, relembra Francisco.

Deu certo

Apesar dos desafios provocados pela seca, o povo Paumari conseguiu capturar 495 pirarucus, resultando em cerca de 30,5 toneladas de peixe. Apesar de não conseguir pescar a cota autorizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), que foi de 650 peixes, a pesca foi considerada um sucesso.

O povo Paumari conseguiu pescar 495 pirarucus, totalizando 30,5 toneladas. Foto: José da Cunha Reis

A conquista, na visão de Francisco, é resultado da sólida coesão do povo Paumari e da significativa colaboração de iniciativas como o Raízes do Purus, projeto realizado pela Operação Amazônia Nativa (OPAN) e patrocinado pela Petrobras e Governo Federal. O projeto apoia o manejo do povo Paumari desde 2013, fornecendo assessoria técnica e insumos como combustível, barco, lacres e equipamentos de proteção individual.

“A gente tem bastante união e empenho para fazer as coisas acontecerem. Eu acho que essa atitude dá um exemplo para os outros que estão começando, que querem começar essa atividade. Na união é que nós conseguimos as coisas”, avalia o coordenador do manejo. 

De Tapauá para Manacapuru

Depois de finalizada a pesca, a última etapa consistiu em transportar o pescado para o frigorífico que recebe a produção. Da cidade de Tapauá, onde estão as terras indígenas do povo Paumari, para o frigorífico, sediado na cidade de Manacapuru, são mais de 300 km de distância.

A responsabilidade de levar o resultado de 20 dias de trabalho do povo Paumari é grande e foi confiada a uma equipe composta por quatro jovens indígenas, que fizeram o trajeto pela primeira vez. Com rio seco, a equipe se deparou com dificuldades em vários trechos, mas os seis dias de viagem transcorreram sem incidentes e o pescado foi entregue com sucesso.

30,5 toneladas de pirarucus foram levadas até Manacapuru em uma viagem de seis dias de duração. Foto: Alex Paumari/AIPA

Alex Paumari foi o jovem responsável por coordenar a equipe e conta o sentimento em concluir o trabalho. “Foi a minha primeira vez nesse cargo e eu agradeço muito a confiança do meu povo. Estou muito emocionado por ter dado tudo certo, a vitória é de todos!”, comemorou.