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Coiab 35 anos

Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia brasileira comemora o percurso e reflete sobre os desafios para garantir território e os direitos constitucionais.

Comemorações de 35 anos da Coiab. Foto: Dafne Spolti/OPAN

Com o hino nacional brasileiro entoado na língua tikuna, as comemorações dos 35 anos da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) deixaram marcado o lugar dos povos indígenas em todos os espaços e instâncias políticas e administrativas do Estado para que sejam respeitados, reconhecidos e que façam garantir os direitos de seus povos. O evento, realizado no Dia dos Povos Indígenas, 19 de abril, contou com a presença de lideranças de todo o país, das organizações de base ao Ministério dos Povos Indígenas (MPI), momento de comemorar os avanços e marcar as lutas e desafios em curso.

“A Coiab é uma referência quando se trata de defender nossa floresta e a nossa Amazônia”, disse José Luiz Kassupá, da Organização dos Povos Indígenas de Rondônia, Noroeste do Mato Grosso e Sul do Amazonas (Opiroma). Kleber Karipuna, da coordenação da Coiab na Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), observou a força da organização também para os países amazônicos, o movimento indígena brasileiro e o internacional, sendo a Coiab e as lideranças da Amazônia parte da constituição da APIB e do Acampamento Terra Livre (ATL), a maior assembleia indígena do Brasil que está em sua 20ª edição, reunindo milhares de pessoas.

“Dar continuidade nessa caminhada para os próximos 35 anos da Coiab é ter certeza de que, desde os primeiros coordenadores até a atual coordenação do meu companheiro Toya, tudo nessa caminhada valeu a pena, está dando certo e a Coiab vai continuar sim, firme e forte na luta pela defesa dos direitos dos povos indígenas”, afirmou Kleber Karipuna.

“É com essa potência, com essa resistência, com essa voz que a gente leva com honra há mais de 35 anos a Coiab”, disse Angela Kaxuyana, que compõe a diretoria da organização como representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (Coica). Ela agradeceu às companheiras o incentivo a participar do movimento indígena: “Obrigada mulheres por terem me encorajado e acreditado que eu posso fazer parte disso, dessa história de luta, dessa história de resistência, com muito amor e compromisso na construção da Coiab”.

Toya Manchineri, coordenador geral da Coiab, saudou no evento os fundadores da organização, muitos deles presentes na festividade.

José Severino Manchineri, que fez parte da criação da Coiab, falou às novas lideranças, incentivando a todos a seguirem firmes para que a organização se fortifique ainda mais. “É um prazer eu estar aqui. Já sou de idade avançada, mas ainda estamos ajudando a coordenação”.

Toya e José Severino Manchineri. Foto: Arquivo Coiab.

Direitos e denúncias

Apesar das conquistas, muita luta ainda precisa ser feita. O atendimento negado a uma senhora Tikuna no Alto Solimões, que motivou o surgimento da Coiab, persiste ainda hoje em situações semelhantes, assim como violações a tantos outros direitos fundamentais estabelecidos na Constituição Federal de 1988.

Angela Kaxuyana. Foto: Pepyaka Krikati/Coiab

“A Coiab não vai recuar e a Coiab não vai deixar passar despercebida a homologação de somente duas terras indígenas este ano. Nós vamos exigir a homologação, a demarcação, a proteção dos povos indígenas. Dois territórios indígenas é muito pouco para muitos anos de violação dos nossos direitos”, afirmou Angela Kaxuyana, enfatizando que a organização se mantém atenta e presente.

Célia Xakriabá, liderança e deputada federal por Minas Gerais, destacou a proteção ambiental em todos os biomas do Brasil, denunciando a morte de seus defensores. “Se assassinam defensores do meio ambiente, imagina nós que somos o próprio meio ambiente. Nós somos mais que ativistas ambientais porque nós não temos como ir embora se o nosso território estiver ameaçado”.

A mineração, os ruralistas e o avanço do agronegócio foram algumas das causas de morte apontadas por ela. “Não existe morte sustentável”, disse. Por fim, defendeu que outras lideranças se coloquem como candidatas dos Poderes da República. “Nós queremos um progresso que não nos mate, por isso nesses 35 anos da Coiab, eu convido vocês a já se organizarem”.

Ministra de Estado

Sônia Guajajara nas comemorações de 35 anos da Coiab. Foto: Bruna Sirayp/Coiab

A ministra Sonia Guajajara participou do evento e situou o seu lugar hoje no Poder Executivo, como parte e resultado da mobilização dos povos indígenas: “É um motivo de muito orgulho poder estar aqui hoje falando enquanto ministra de Estado. É a primeira vez que o Brasil tem um ministério e que tem uma indígena nesse lugar. E o meu orgulho não é por estar ocupando este cargo. O meu orgulho é pelo movimento que me preparou. Pela universidade que eu considero que foi a Coiab, de me preparar na luta”, afirmou.

Apesar da conquista, concretizada também na nomeação de Joenia Wapichana para a Fundação dos Povos Indígenas (Funai), Weibe Tapeba na Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), e a eleição de Célia Xakriabá no Congresso Nacional, a ministra reforçou que a ocupação desses lugares não substitui o movimento indígena.

Sonia Guajajara contou também as dificuldades enfrentadas nas instâncias de governo. “O Estado brasileiro ainda não está preparado para receber a nossa presença na sua estrutura. Nós ainda precisamos lutar muito para sermos reconhecidos como povos indígenas do Brasil”, disse, destacando ainda a necessidade de repetição de que são 305 povos indígenas vivos, lutando todos os dias, de que o Brasil tem 274 línguas e povos isolados na Amazônia Brasileira e em toda a Amazônia Legal. “Nós temos que normalizar essa presença indígena, o cocar, os colares e a pintura em todos os lugares e é isso que nós chamamos de aldear o Estado”.