OPAN

Aprendendo com os povos Apurinã e Paumari

Evento promoveu intercâmbio de experiências entre cinco projetos socioambientais e povos indígenas do sul do Amazonas

“Precisamos estar com os ouvidos atentos para compreendermos como viver na Amazônia e mantê-la da forma como os povos indígenas fazem há pelo menos 8 mil anos”, sugere Felipe Rossoni, indigenista da Operação Amazônia Nativa (OPAN) e coordenador do projeto Raízes do Purus. A fala foi feita na abertura do intercâmbio que reuniu os povos indígenas Apurinã e Paumari, representantes de cinco projetos socioambientais patrocinados pelo Programa Petrobras Socioambiental e parte da equipe de responsabilidade social da Petrobras.

O intercâmbio reuniu representantes dos projetos socioambientais patrocinados pelo Programa Petrobras Socioambiental, parte da equipe de responsabilidade social da Petrobras e representação dos povos indígenas Apurinã e Paumari. Foto: Adriano Gambarini/OPAN

A Terra Indígena Caititu, do povo Apurinã, em Lábrea (AM), foi a sede do evento, reunindo as experiências dos projetos No Clima da Caatinga, Viveiro Cidadão, Semeando Água, Florestas de Valor e Raízes do Purus, o anfitrião do intercâmbio. O encontro foi uma oportunidade de aprender com a experiência do Raízes do Purus, que vem apoiando os povos indígenas na gestão territorial de seis terras indígenas no sul e sudoeste do Amazonas há mais de 10 anos. A programação de cinco dias envolveu conversas sobre sociobiodiversidade, bioeconomia, manejo de pesca, além de visitas aos Sistemas Agroflorestais (SAFs) e demais sistemas produtivos do povo Apurinã. 

“Os projetos buscam gerar transformações e legados no território, e quando nós estamos presentes no território a gente tem uma imagem vívida dessa transformação, dessa parceria entre os projetos e as comunidades, com a Petrobras sendo parte dessa engrenagem transformadora”, avalia Gregório Araújo, gerente de projetos ambientais na área de responsabilidade social da Petrobras.

Mulheres indígenas e a sociobiodiversidade

O trabalho com os SAFs, com os canteiros medicinais, o manejo do pirarucu, o artesanato e a organização social foram trazidos a partir do olhar das mulheres indígenas dos povos Apurinã e Paumari na primeira roda de conversa do intercâmbio. 

A implementação dos sistemas agroflorestais na Terra Indígena Caititu, do povo Apurinã, começou em 2013, na primeira edição do projeto Raízes do Purus. Hoje já são 37 unidades de SAFs, distribuídas em 21 aldeias do território, somando uma área de 41,6 hectares que estão em plena produção de frutos, feijões, tubérculos e outros alimentos.

Roda de conversa reuniu mulheres dos povos Apurinã e Paumari para compartilhar as experiências em seus territórios. Foto: Adriano Gambarini/OPAN

“É através do SAF que a gente consegue trazer a comida e a riqueza para a nossa mesa. O SAF fortaleceu o nosso conhecimento no plantio e também sobre como utilizar nossas plantas medicinais”, relatou Maria dos Anjos, indígena do povo Apurinã, conhecida como a ‘rainha dos SAFs’.

O povo Paumari do rio Tapauá realiza o manejo de pirarucu há mais de uma década e é referência para outros povos pela excelência na coordenação do trabalho e qualidade do pescado. Além de recuperar a população de pirarucu, gerar renda e fortalecer a gestão territorial, a atividade também proporcionou a ocupação de espaços pelas mulheres e remuneração igualitária entre os homens e mulheres. 

“No início do manejo, os homens trabalhavam só e nós víamos eles chegarem cansados. Então começamos a participar e a partir daí a gente vem se fortalecendo cada vez mais. Começamos também a resgatar nossa cultura do artesanato”, relembrou Kamelice Paumari, coordenadora da coordenação temática do trabalho das mulheres da Associação Indígena do Povo das Águas (Aipa).

Culinária tradicional

As refeições, feitas pelas mulheres Apurinã com alimentos cultivados nos sistemas agroflorestais, foram oferecidas no chão da aldeia. Foto: Adriano Gambarini/OPAN

Um dos pontos altos do intercâmbio foi a culinária tradicional oferecida pelas mulheres do povo Apurinã. A maior parte dos alimentos consumidos no evento foram plantados e colhidos pelo povo Apurinã em seus sistemas agroflorestais. Macaxeira, legumes diversos, cupuaçu, açaí, banana, jenipapo, coco babaçu, castanha, tapioca, feijão de praia e capim santo foram alguns dos ingredientes consumidos nas refeições.

“A macaxeira é a rainha, a gente não podia fazer nenhum tipo de celebração sem a macaxeira. Estamos comendo uma macaxeira que vamos ‘parir’ hoje, pois faz nove meses que ela foi plantada pela dona Tereza, uma das pessoas que plantou o que a gente está comendo hoje”, relatou, emocionada, Renata Peixe-boi, indígena do povo Mura e cozinheira responsável pela coordenação da cozinha durante o evento.

Conhecendo as agroflorestas e os sistemas produtivos do povo Apurinã

Como parte da programação, os participantes puderam conhecer a agrofloresta cultivada pelo povo Apurinã. A visita incluiu caminhada nos canteiros medicinais, nos sistemas agroflorestais, açaizais e castanhais manejados pelo povo Apurinã.

Participantes do intercâmbio durante caminhada pelo castanhal na Aldeia Idecorá, do povo Apurinã. Foto: Adriano Gambarini/OPAN

“É uma cadeia extrativista que é importante para essas comunidades, mas também para a manutenção da floresta em pé, eles são os guardiões da floresta e isso beneficia todos nós. Enquanto temos a floresta em pé, bem conservada e bem manejada, a gente continua tendo a oferta de serviços ecossistêmicos”, reflete Daniel Fernandes, coordenador geral da Associação Caatinga, que participou do intercâmbio.

A programação incluiu ainda rodas de conversa sobre as cadeias produtivas do açaí e da castanha-da-amazônia, protagonizadas pelo povo Apurinã, e sobre o manejo pesqueiro, liderado pelo povo Paumari. O grupo visitou também o galpão de beneficiamento da castanha-da-amazônia da Associação dos Produtores Indígenas da Terra Indígena Caititu (APITC).