Mulheres Xavante coletoras de sementes dão um novo passo em seu trabalho
Reunidas na Terra Indígena Marãiwatsédé, coletoras atualizam modelo de gestão das atividades em parceria com a OPAN e a Rede de Sementes do Xingu
As mulheres Xavante coletoras de sementes, que há uma década iniciaram sua organização, contam hoje com 120 pessoas no grupo. Mais autônomas nas diversas etapas da atividade, irão fazer a gestão dos trabalhos diretamente com a Rede de Sementes do Xingu (RSX), que organiza a compra e a distribuição das diversas espécies. Com essa iniciativa, áreas degradadas ganham vida fora e dentro da Terra Indígena Marãiwatsédé.
A Operação Amazônia Nativa (OPAN) tem apoiado a organização das mulheres desde o início dessa trajetória, em 2011, contribuindo com a estruturação do trabalho, o mapeamento de áreas de coleta, a realização de formações, e, anualmente, com o levantamento de espécies, pesagem e entrega das sementes. Agora, as etapas anuais do trabalho passam a ser realizadas diretamente com a Rede de Sementes do Xingu. Essa nova configuração se deu a partir de um encontro de alinhamento em Marãiwatsédé, entre os dias 17 e 19 de julho, que mobilizou boa parte dos membros da Rede, além de representantes das coletoras de diversas aldeias e a equipe da OPAN.
A coordenadora do Programa Mato Grosso da OPAN, Artema Lima, explicou que as mulheres estão fortes e com maior desenvoltura para desenvolver o trabalho, o que se demonstrou nitidamente no período da pandemia, quando deram continuidade às ações sem apoio presencial dos parceiros. “No tempo da pandemia a gente não ficou em casa. A gente trabalhou”, lembrou Carolina Rewaptu, cacica da aldeia Mazabdzé e liderança entre as coletoras de sementes.
Além da maior autonomia, Carolina destaca o aumento no número de mulheres coletoras das 21 aldeias de Marãiwatsédé e a importância do trabalho. “A gente tem que valorizar o nosso conhecimento. Somos mulheres guardiãs das nossas sementes. Nós produzimos como mães da terra. É importante cuidar da terra para os bichinhos virem de volta, para ter tudo”, disse ela.
A coordenadora da área de fortalecimento da diversidade na Rede de Sementes do Xingu, Claudia Alves de Araújo, falou que as Xavante são muito importantes na rede, sendo o grupo que coleta maiores quantidades, apresentando qualidade no trabalho. “Elas são coletoras que têm um cuidado com a semente”, destacou.
Claudia acrescentou que a expectativa para esse novo momento é positiva e frisou particularidades das mulheres Xavante, como a coleta da espécie crotalária nativa [nome popular], de adubação verde. “É uma semente exclusiva delas”, pontuou. Além dessa, elas ainda coletam diversas espécies comuns como baru, buriti, jatobá, caju, copaíba, pequi e outros.
A Rede de Sementes do Xingu contribui com o reflorestamento em regiões de Cerrado e Amazônia, comercializando as sementes para fazendas na região do Xingu e do Araguaia, em municípios como Querência, Canarana, Barra do Garças e Nova Xavantina. As sementes também são comercializadas para outras regiões do Brasil. E parte delas é plantada em Marãiwatsédé.