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Mulheres Xavante coletoras de sementes dão um novo passo em seu trabalho

Reunidas na Terra Indígena Marãiwatsédé, coletoras atualizam modelo de gestão das atividades em parceria com a OPAN e a Rede de Sementes do Xingu

Urucum coletado pelas mulheres Xavante. Foto: Adriano Gambarini/OPAN

As mulheres Xavante coletoras de sementes, que há uma década iniciaram sua organização, contam hoje com 120 pessoas no grupo. Mais autônomas nas diversas etapas da atividade, irão fazer a gestão dos trabalhos diretamente com a Rede de Sementes do Xingu (RSX), que organiza a compra e a distribuição das diversas espécies. Com essa iniciativa, áreas degradadas ganham vida fora e dentro da Terra Indígena Marãiwatsédé.

A Operação Amazônia Nativa (OPAN) tem apoiado a organização das mulheres desde o início dessa trajetória, em 2011, contribuindo com a estruturação do trabalho, o mapeamento de áreas de coleta, a realização de formações, e, anualmente, com o levantamento de espécies, pesagem e entrega das sementes. Agora, as etapas anuais do trabalho passam a ser realizadas diretamente com a Rede de Sementes do Xingu. Essa nova configuração se deu a partir de um encontro de alinhamento em Marãiwatsédé, entre os dias 17 e 19 de julho, que mobilizou boa parte dos membros da Rede, além de representantes das coletoras de diversas aldeias e a equipe da OPAN.

A coordenadora do Programa Mato Grosso da OPAN, Artema Lima, explicou que as mulheres estão fortes e com maior desenvoltura para desenvolver o trabalho, o que se demonstrou nitidamente no período da pandemia, quando deram continuidade às ações sem apoio presencial dos parceiros. “No tempo da pandemia a gente não ficou em casa. A gente trabalhou”, lembrou Carolina Rewaptu, cacica da aldeia Mazabdzé e liderança entre as coletoras de sementes.

Além da maior autonomia, Carolina destaca o aumento no número de mulheres coletoras das 21 aldeias de Marãiwatsédé e a importância do trabalho. “A gente tem que valorizar o nosso conhecimento. Somos mulheres guardiãs das nossas sementes. Nós produzimos como mães da terra. É importante cuidar da terra para os bichinhos virem de volta, para ter tudo”, disse ela.

Encontro com as coletoras de Marãiwatsédé. Foto: Lia Rezende Domingues/Rede de Sementes do Xingu

A coordenadora da área de fortalecimento da diversidade na Rede de Sementes do Xingu, Claudia Alves de Araújo, falou que as Xavante são muito importantes na rede, sendo o grupo que coleta maiores quantidades, apresentando qualidade no trabalho. “Elas são coletoras que têm um cuidado com a semente”, destacou.

Claudia acrescentou que a expectativa para esse novo momento é positiva e frisou particularidades das mulheres Xavante, como a coleta da espécie crotalária nativa [nome popular], de adubação verde. “É uma semente exclusiva delas”, pontuou. Além dessa, elas ainda coletam diversas espécies comuns como baru, buriti, jatobá, caju, copaíba, pequi e outros.

A Rede de Sementes do Xingu contribui com o reflorestamento em regiões de Cerrado e Amazônia, comercializando as sementes para fazendas na região do Xingu e do Araguaia, em municípios como Querência, Canarana, Barra do Garças e Nova Xavantina. As sementes também são comercializadas para outras regiões do Brasil. E parte delas é plantada em Marãiwatsédé.