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Suyani Terena leva a luta dos povos da bacia do Juruena (MT) para a COP da Juventude

300 jovens de 19 países da América Latina uniram suas vozes em Belém (PA) para construir um futuro mais sustentável.

A jovem Suyani Terena, de 19 anos, da Terra Indígena Tirecatinga, em Sapezal (MT), foi escolhida para uma importante missão: levar as necessidades e as propostas dos jovens da bacia do rio Juruena e do estado de Mato Grosso para a Conferência Regional da Juventude sobre o Clima da América Latina (RCOY 2024), que têm sido chamada de COP da Juventude.

Evento teve a participação de 300 jovens. Foto: Liliane Xavier | OPAN

A RCOY América Latina, principal fórum da juventude para discutir as mudanças climáticas na região, reuniu em Belém (PA), entre os dias 6 e 10 de setembro, 300 jovens de 19 países. O evento, organizado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), proporcionou um espaço para que os jovens pudessem compartilhar suas ideias, experiências e propostas para um futuro sustentável.

“Para que a gente tenha um futuro, a gente precisa ter o presente preservado. Eu moro ao lado do rio Buriti, que a gente nunca tinha visto secar. Este ano foi a primeira vez. Os anciões falam que o mundo está mudando e está mudando para pior. É uma grande crise e é uma preocupação que tenho com meu território e foi isso que me fez chegar até aqui”, disse Suyani Terena. 

Após 10 sessões de treinamento virtual, quatro assembleias e intensas negociações em quatro salas temáticas, os jovens consolidaram propostas sobre sociobiodiversidade, educação climática, participação e governança climática.

As propostas que foram levadas por Suyani são o resultado de um processo colaborativo e democrático que aconteceu durante as formações em justiça climática realizadas pela Rede Juruena Vivo, em parceria com a Operação Amazônia Nativa (OPAN) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), nas aldeias Serra Azul (TI Tirecatinga) e Ytu (TI Apiaka-Kayabi), com jovens das regiões dos rios Buriti, Sangue e Papagaio e dos povos Kawaiwete, Apiaká e Munduruku. Participaram também representantes da Casa de Umbanda São Sebastião e equipe de saúde. Essas oficinas tiveram o apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), da Coalizão Nós – Vozes pela Ação Climática (VAC) e Fundo Brasil de Direitos Humanos (FBDH). 

Foto: Liliane Xavier | OPAN

“Antes de estar na RCOY 2024, dentro dos territórios tivemos a escuta do que os jovens pensam sobre as mudanças climáticas no seu contexto de vida cotidiana. As mesmas falas e declarações foram levadas para Belém para serem inseridas na carta declaratória da juventude da América Latina com proposta de enfrentamento climáticos. Espero muito que nos próximos eventos da RCOY tenha mais participação da juventude indígena como um todo e também das comunidades tradicionais”.

Entre elas, estão a implementação de programas de reflorestamento comunitário e políticas de conservação que protejam áreas sensíveis, além de fortalecer as práticas de manejo sustentável e promover momentos formativos regulares para capacitar todos os territórios em conceitos climáticos e fornecer ferramentas para monitorar e se adaptar às mudanças climáticas. 

Foto: Liliane Xavier | OPAN

A secretária executiva da Rede Juruena Vivo, Liliane Xavier, também participou do evento e ressaltou que é fundamental estar presente nesses espaços de incidência pautando as realidades e efeitos que estão sendo sentindo na pele, contribuindo com propostas para enfrentar esse momento de ebulição climática, desde o nível local do chão das comunidades até o global.

“É preciso avançar com políticas de fortalecimento econômico que valorizem a biodiversidade que temos e os saberes de quem vive aqui, desde os tempos imemoriais. Além disso, ouvir essas populações e junto com elas trabalhar na criação dos planos de enfrentamento locais, planos municipais e estaduais em que constem ações sérias de mitigação e adaptação, envolvendo os diferentes setores da sociedade e que promovam as mudanças necessárias num planeta que também está mudando”.

O texto final da RCOY2024 foi entregue oficialmente à relatora da ONU e às autoridades do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e Ministério dos Povos Indígenas (MPI), um passo importante para que as vozes dos jovens sejam ouvidas nos mais altos níveis de decisão.

O documento será reunido com as declarações de outras seis regiões do mundo na Conferência Mundial das Juventudes, que ocorre todos os anos uma semana antes da COP do Clima.

Além dos jovens, o evento reuniu lideranças de diversas origens, como o cacique Raoni Metuktire, a neta e a bisneta de Chico Mendes, e representantes de comunidades quilombolas, extrativistas e periféricas.

A RCOY 2024 também foi marcada por uma homenagem ao cacique Raoni, que recebeu um prêmio simbólico em reconhecimento à sua liderança e dedicação à causa ambiental. Naquele momento, os participantes reafirmaram a aliança entre os povos da floresta, fortalecendo os laços que unem indígenas, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas e comunidades tradicionais na luta pela proteção dos biomas.