OPAN passa a integrar conselhos deliberativos da Resex Médio Juruá e RDS Uacari
Presença reforça a união entre as pautas dos extrativistas e povos indígenas no Médio Juruá
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A Operação Amazônia Nativa (OPAN) agora faz parte dos conselhos deliberativos de mais duas importantes Unidades de Conservação no sudoeste do Amazonas: a Reserva Extrativista (Resex) Médio Juruá e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uacari, ambas localizadas no município de Carauari.

A posse dos novos conselheiros ocorreu nos dias 23 e 24 de abril, durante a 33ª Reunião do Conselho Deliberativo da Resex Médio Juruá e a 31ª Reunião do Conselho Deliberativo da RDS Uacari, realizadas no auditório da Secretaria Municipal de Assistência Social do município. Cerca de 60 pessoas, entre conselheiros e convidados, participaram da reunião, que contou com a representação de todas as comunidades das duas unidades de conservação, além de organizações de base e parceiras.
Dois territórios, um mesmo rio
As reuniões dos conselhos acontecem juntas, com uma pauta única discutida para as duas reservas. “Os conselheiros são os mesmos para as duas unidades, refletindo o que foi dito durante a reunião: a única coisa que divide as comunidades é o rio. A demarcação dessas reservas é apenas a formalização de um território e de políticas, mas a luta é uma só”, conta José Cândido, indigenista e suplente nos conselhos representando a OPAN.

Frutos de muita luta de classe, conscientização e, sobretudo, união da população ribeirinha e dos povos indígenas, as duas unidades de conservação compartilham o mesmo rio: o sinuoso Juruá.
Em 1997, foi criada a Resex Extrativista Médio Juruá, na margem esquerda do rio, abrangendo uma área de 286.954,81 hectares e abrigando mais de 2,6 mil pessoas. Já em 2005, após anos de articulação social, nasceu a RDS Uacari, à margem direita, com 632.949,02 hectares e uma população estimada em 1,3 mil pessoas.
Participação indígena e indigenista
A OPAN passou a atuar pela primeira vez como conselheira das duas unidades de conservação, trazendo um reforço importante para o debate sobre as demandas indígenas nesses espaços. “A organização também trabalha com as populações extrativistas, contribuindo na formulação dos protocolos de consulta e do monitoramento de pedidos de mineração e empreendimentos de gás na calha do Juruá. Essa participação nos conselhos complementa e fortalece ainda mais a nossa contribuição na região”, observa José.

Embora se trate de reuniões de conselhos de Unidades de Conservação, os povos Madija Kulina, Deni e Kanamari vivem próximos as duas UCs, em terras demarcadas ou não, e estabelecem relações com essas comunidades. Um dos novos conselheiros a tomar posse foi a liderança Edson Kulina, representando o povo Indígena que luta pela demarcação da Terra Indígena (TI) Kulina do rio Ueré. O território, que ainda está em processo de demarcação, é vizinho à Resex Médio Juruá e à RDS Uacari.
“Existe um entendimento da luta e da história dos diferentes movimentos. Eu acredito que este seja mais um espaço propício para, coletivamente, construir formas comuns de gestão de uso desse ambiente para além das delimitações territoriais oficiais — Terra Indígena, Resex, RDS, Acordo de Pesca – assegurados o usufruto exclusivo dos povos indígenas e os direitos territoriais das comunidades tradicionais”, reflete José Cândido.
Histórico de participação em conselhos
Além da Resex Médio Juruá e RDS Uacari, a OPAN integra também os conselhos deliberativos da Resex Ituxi e Médio Purus, ambas no sudoeste do Amazonas. Também faz parte, desde 2018, do conselho consultivo do Parque Nacional do Juruena, no Mato Grosso, que apresenta sobreposição com a TI Apiaká do Pontal e Isolados.