OPAN

Combatendo o preconceito

Ações de educação ambiental em escolas de Brasnorte valorizam a diversidade cultural da região.

Ações de educação ambiental em escolas de Brasnorte valorizam a diversidade cultural da região.

Por: Mel Mendes

Brasnorte, MT – No ultimo dia 5 de outubro, cerca de 20 professores e técnicos da Escola Estadual Edwaldo Meyer Roderjan, em Brasnorte, participaram de um minicurso sobre agroecologia promovido pela Operação Amazônia Nativa (OPAN), através do Projeto Berço das Águas, patrocinado pela Petrobras. Além de aprender técnicas de adubação verde e compostagem, os participantes discutiram o sistema de cultivo do agronegócio com seus impactos ambientais e sociais. A atividade encerrou um ciclo de palestras e oficinas de educação ambiental que abordou também a situação dos povos indígenas no Brasil, a riqueza e diversidade cultural da região noroeste de Mato Grosso e desmistificou alguns dos preconceitos mais difundidos nas cidades em relação aos indígenas.

Em sete etapas, realizadas entre agosto e outubro deste ano, esta iniciativa inédita na região envolveu professores e estudantes de Brasnorte e dos distritos de Água da Prata e Cerejal, em um diálogo permanente sobre as condições vida dos povos indígenas, suas lutas, dificuldades e especificidades e também sobre experiências alternativas ao modelo de desenvolvimento hegemônico na região.

Professores aprenderam conceitos da agroecologia e discutiram modelos de agricultura. Foto: Luana Fowler/OPAN.

De acordo com Fabiano da Matta, coordenador de campo do projeto Berço das Águas, o objetivo dessas atividades foi oferecer outras informações para a população para além do senso comum, aproveitando o espaço da escola, fundamental de formação das novas gerações. “O preconceito é fruto da desinformação. Quando as pessoas possuem informações qualificadas sobre a realidade dos povos indígenas, isso tende contribuir para um clima mais amistoso e de respeito às diferenças”, completou o indigenista.

Diálogo aberto

A primeira oficina foi realizada no dia 1º de agosto e contou com a participação de professores tanto de Brasnorte quanto das escolas rurais. Nessa etapa, através da exibição de vídeos e rodas de conversa, a equipe da OPAN esclareceu dúvidas sobre a relação dos indígenas com o território, com o ambiente e com as políticas públicas locais e nacionais.

Na segunda etapa de formação com os professores, realizada no dia 8 de agosto, os temas debatidos anteriormente foram aprofundados e, por demanda dos participantes, foi discutido o cenário político nacional, com foco nos direitos constitucionais das populações tradicionais ameaçadas pelas propostas de leis em tramitação no Congresso, como a PEC 215, que propõe transferir do poder executivo para o legislativo a atribuição de criar terras indígenas e unidades de conservação, e a PEC 71, que estabelece indenização a proprietários que ocuparam de boa fé terras indígenas, entre outras.

As oficinas foram uma oportunidade para que os professores esclarecessem também dúvidas sobre como se dá o processo de estudo, delimitação, demarcação e regularização fundiária das terras indígenas (TIs) e, considerando o contexto de grandes obras de infraestrutura previstas para a região, debateram a importância da convenção 169 da Organização Internacional do trabalho (OIT), que prevê a consulta prévia, livre e informada das comunidades tradicionais sobre qualquer projeto que interfira em seu modo de vida.

Nas etapas seguintes, realizadas nos dias 10, 11 e 13 de agosto, a equipe da OPAN, com apoio dos professores participantes das etapas anteriores, levaram esta discussão para os estudantes. Houve grande participação dos jovens em todas as atividades, ouvindo atentamente, fazendo perguntas, solicitando esclarecimentos e contribuindo com exemplos de situações reais vividas na região, como pedágios e protestos de indígenas.

Estudantes de Brasnorte discutem precoonceitos e mitos em relação aos indígenas. Foto: Catiuscia Custódio/OPAN.

Para Teodora da Silva, professora da Educação de Jovens e Adultos (EJA) na escola anexa em Água da Prata, este diálogo aberto é fundamental para que os professores e estudantes compreendam melhor a forma de vida dos indígenas. “É uma população que sofre muito e luta para ser inserida e considerada nas políticas públicas. Toda a sociedade deveria se juntar para buscar melhorar a qualidade de vida desses povos, mas, para isso, é preciso conhecê-los e respeitá-los”, afirmou a professora, que participou de todas as etapas da atividade e fez questão de discutir o assunto com seus alunos.

Simone Pardinho, professora em Brasnorte, contou que enxerga o trabalho com os jovens como a esperança de uma sociedade mais justa e plural no futuro. “É importante esse tipo de informação para que essa geração tenha uma visão mais ampla e clara da importância deste tema, respeitem e defendam a diversidade”, afirmou Pardinho. Ele aposta na continuidade da parceria entre a escola e a OPAN como parte da formação de cidadão melhores. “Há muito incompreensão, precisamos avançar nessa conversa e nessa vivência”, concluiu a professora.

Foram explorados, ainda, tanto no diálogo com professores quanto com os alunos, os aspectos positivos de políticas públicas existentes em função de melhores alternativas para a gestão ambiental municipal, como o ICMS Ecológico. Novas perspectivas puderam ser criadas e debatidas, sobre as potencialidades deste recurso direcionado aos municípios, bem como o entendimento de que parcerias com os povos indígenas são necessárias e desejáveis para a sociedade do entorno.

Agroecologia como alternativa

A partir da discussão das roças tradicionais indígenas e a sua interação com a natureza, passando pela importância do território e pelas diferentes formas de lidar com a terra, os professores envolvidos nessa formação apresentaram a necessidade de conhecer mais a agroecologia. Foram, então, realizadas duas oficinas, nos dias 9 de setembro e 5 de outubro.

Fabiano da Matta explicou que a oficina teve como objetivo apresentar conceitos básicos da agroecologia e dos Sistemas Agroflorestais (SAFs), discutindo a importância da agricultura familiar e da produção dos povos indígenas no abastecimento das cidades e na oferta de alimentos saudáveis. “Nessa região onde o agronegócio ganha cada vez mais espaço, é preciso discutir e valorizar as alternativas concretas de desenvolvimento e trabalho com a agricultura”, concluiu.

A professora Francisca Teixeira, que na primeira etapa da oficina ganhou mudas de feijão-de-porco, contou que já plantou e que pretende reproduzir as técnicas em seu sítio. Para ela, um dos pontos importantes da discussão foi sobre o uso de agrotóxicos: “Esse tema é importante, mas a gente não ouve ninguém discutir. Tenho um sítio, não queremos usar agroquímicos lá, mas fico preocupada, pois o vizinho usa muito. Isso prejudica nossa saúde”, afirmou. A professora se diz ansiosa pela continuidade deste trabalho e espera que os estudantes também tenham oportunidade de participar.

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