Povos do AM participam de intercâmbio na TI Zoró
Eles puderam conhecer o trabalho dos Zoró com a castanha-do-Brasil.
Eles puderam conhecer o trabalho dos Zoró com a castanha-do-Brasil.
Por: Carla Ninos/OPAN
Lábrea, AM – No final do mês de julho, a Terra Indígena Zoró, localizada no noroeste de Mato Grosso, foi palco de um intercâmbio de experiências sobre manejo da castanha-do-Brasil e organização comunitária. Os anfitriões receberam os povos Apurinã, Jamamadi e Paumari, que habitam a região do Médio Purus, no Amazonas, onde a Operação Amazônia Nativa (OPAN) atualmente executa o Projeto Raízes do Purus, patrocinado pela Petrobras.
O povo Apurinã da Terra Indígena Caititu vem elaborando, nos últimos três anos, o diagnóstico socioeconômico da produção da castanha, estudo que vai servir de base para a organização coletiva acerca do produto. Entre eles, era grande a expectativa de poder conhecer a forma de trabalhar do povo Zoró, que tem como carro-chefe o manejo da castanha, e que ao longo de dez anos vêm desenvolvendo uma experiência bem sucedida nas boas práticas da produção e comercialização desse produto.
Para os Apurinã, a oportunidade do intercâmbio serviu como inspiração para a extração da castanha e para as práticas agroecológicas desenvolvidas na terra indígena. “Foi uma ótima chance para discutir e debater os possíveis caminhos que o povo Apurinã deverá trilhar tendo como referência o povo Zoró, que conseguiu lidar com os desafios do mundo externo, onde a falta de organização impossibilita o acesso ao mercado e as políticas públicas”, analisa o indigenista da OPAN, Diogo Giroto.
Foram dois dias de atividades dentro da aldeia Escola. O primeiro momento foi dedicado às apresentações, em que os visitantes falaram um pouco do seu povo e suas experiências. Os Paumari explicaram suas ações com o manejo pesqueiro do pirarucu e impactaram positivamente os Zoró, que ficaram impressionados com a abundância de água, o tamanho do peixe e com o trabalho em si.
O segundo momento foi dedicado às atividades práticas dentro de um castanhal, onde foram discutidas técnicas de extração da amêndoa. Cada povo mostrou como faz para abrir, limpar, acomodar e transportar a castanha. “O cacique Davi Zoró fez uma contextualização histórica de como eles adquiriram as boas práticas e explicou, através de demonstrações, todo o processo – da coleta ao transporte – enfatizando o zelo na manipulação da amêndoa, lembrando sempre que esse cuidado com a qualidade adere valor ao produto”, explica o indigenista da OPAN, Magno dos Santos.
Além dessas trocas, os indígenas aproveitaram para dividir um pouco da vivência de cada povo nos usos dos recursos da floresta. Os Paumari demonstraram como fazem a coleta do cacho de açaí e os Apurinã mostraram como o povo faz o ‘panaco’, uma espécie de bolsa trançada com palha, usada para o transporte de várias coisas, como da própria castanha, mandioca, e outros. “Foi interessante ver cada um demonstrando e fazendo seus cestos de palha, cada um com seu modelo e técnica de confecção”, comenta Giroto.
“Eu gostei de ver o trabalho dos Zoró no castanhal, agora vou tentar trabalhar a castanha na nossa terra, que está se estragando. Também ver eles fazendo os cestos de palha foi interessante porque os Jamamadi só fazem com cipó titica”, comentou admirado Chaga Jamamadi, da aldeia São Francisco.
No último dia de atividade, todos foram ao município de Ji-Paraná, em Rondônia, cidade que fica bem próxima à terra indígena, para conhecer a estrutura da Associação do Povo Indígena Zoró (APIZ), onde eles fazem o armazenamento e o beneficiamento da castanha que vai ser comercializada. Toda a organização do povo, tanto na forma de se relacionar na aldeia quanto nos processos de produção da castanha-do-Brasil, chamaram atenção dos povos visitantes.
Os Zoró conectam todas as suas estruturas organizacionais com a educação, com a formação comunitária, para poder gerir o seu território, a sua produção e a associação. Os jovens são preparados para assumir uma posição no corpo institucional da associação, sempre com a supervisão dos mais velhos. “Os Zoró entendem que, para se ter a continuidade desse processo, as coisas não podem ficar concentradas em uma só pessoa. É preciso discutir coletivamente sem perder seu modelo tradicional e sem extrapolar os limites da cultura. Por isso, eles formam os jovens da aldeia, para que eles se apropriem dos processos”, analisa Giroto.
Para o representante da Cooperativa Mista Agroextrativista Sardinha (Coopmas), de Lábrea, a região do Médio Purus, há semelhanças com a realidade Zoró, mas falta a organização e a união deles. “Vou levar essa experiência para os colegas. Destaco a sinceridade que existe entre os Zoró, o respeito que os novos têm com os velhos, valores importantes para uma organização”, declara Gerson Galvão Gomes.
“Eu vou levando para meu povo o modo de organização e união dos Zoró, que envolve as mulheres, crianças, adultos e velhos. Cada um tem uma função nos trabalhos. Que bom seria se as pessoas, que duvidam desse modo de organização, pudessem vivenciar uma experiência dessa”, analisa Nilson Paumari, da aldeia Capanã, na TI Paumari do Lago Manissuã.
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Carla Ninos – carla@amazonianativa.org.br
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