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Sem comida até o próximo ano, povo Kajkwakhratxi-Tapayuna pede ajuda

Campanha busca arrecadação para 44 famílias que estão sem alimento após incêndio.

O povo Kajkwakhratxi-Tapayuna da Aldeia Kawêrêtxikô, na Terra Indígena Capoto Jarina, em Mato Grosso, vive um drama: roças carbonizadas, sementes perdidas e um ar irrespirável, após um incêndio que atingiu o território.

Yaiku Suya Tapayuna, uma das lideranças, contou que o fogo começou no início de setembro em outras aldeias do território. Mas, no final do mês chegou até a comunidade, que acabou cercada pelas chamas.

Imagem de drone mostra incêndio no entorno da aldeia. Foto: Associação Indígena Tapayuna

“O fogo veio dos dois lados, da parte de cima e embaixo do rio Xingu. Queimou toda a plantação, a mata e os medicamentos naturais”, relatou Yaiku.

A Associação Indígena Tapayuna (AIT) classificou o incêndio como o pior da história, que transformou em cinzas a floresta no entorno da comunidade, colocando em risco a sobrevivência de 44 famílias.

“Sem chuva, sem umidade, o fogo não dá descanso. Destruiu nossas árvores, nossos bichos, nossas ervas medicinais. Queimou as nossas plantações, mandiocas, batatas-doces, carás, melancias e abóboras. Somos indígenas e vivemos da floresta. O supermercado mais próximo fica a oito horas de viagem. Não temos mais nenhuma comida”, relatou a associação em carta.

Além da falta de alimentos, as pessoas sofrem com a fumaça e muitos dos 432 moradores estão doentes, segundo a associação. 

“Dentro das nossas casas de palha, não conseguimos respirar. A floresta arde, e com ela ardem nossos olhos e nossas gargantas. Mesmo com tosse, dor de garganta, de cabeça e dispneia, os adultos e idosos têm que caminhar quilômetros para tentar encontrar alguma comida. Não aguentamos mais”, disseram.

Wetaktxi Tapayuna, presidente da AIT, ainda alertou para a falta de medicamentos, tanto os tradicionais quanto os convencionais, na aldeia. “Estamos doentes, devido à fumaça. Muitos precisaram ir para farmácia tomar remédio e a cada dia diminui a medicação. Alguns já acabaram”, afirmou. 

A situação ainda é mais complexa, segundo Yaiku, porque a comunidade fica em local de difícil acesso e, em momentos de emergência, com muitas pessoas doentes, eles têm dificuldade para sair do território. E um barco e motor novos, que eles não têm, auxiliariam no deslocamento. 

Incêndios em MT 

As chuvas dos últimos dias aliviaram a situação dos incêndios em Mato Grosso, mas o problema persiste. O estado ainda enfrenta um cenário preocupante, com 527 novos focos de calor nas últimas 48 horas, de acordo com o Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Em setembro, Mato Grosso liderou o país em número de incêndios, com 19.964 focos de calor. A terra indígena mais afetada foi a TI Capoto/Jarina, com 479 focos de calor, seguida pela TI Pimentel Barbosa, com 412.

O fogo também atingiu as terras indígenas Urubu Branco e Utiariti, que registraram 395 e 381 focos de calor, respectivamente.

Pressão do STF sobre os estados campeões de incêndios 

Em 19 de setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) realizou uma audiência de conciliação para discutir soluções para os incêndios na Amazônia e no Pantanal. No encontro, o ministro Flávio Dino determinou o cumprimento de uma série de medidas para combater as queimadas nas duas regiões.

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e os 10 estados presentes na audiência deveriam, em 30 dias, apresentar relatório a partir de fiscalização conjunta que deverá ser realizada nos municípios que concentram 85% dos focos de calor. A esses estados foi também determinado que entregassem um diagnóstico com as razões que levam ao alto índice de incêndios em suas localidades.

Desde março deste ano, o STF, no âmbito das Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPFs) 743, 746 e 857, determinou a elaboração do plano de prevenção e combate a incêndios no Pantanal e na Amazônia. 

No entanto, diante do agravamento da situação com o aumento significativo dos incêndios em todo o território nacional, o ministro convocou audiências para apurar as medidas concretas adotadas pelos estados.

Durante essas audiências, os representantes estaduais foram questionados sobre o efetivo empregado no combate direto às chamas, os critérios utilizados para contabilizar a extensão dos incêndios em 2023 e 2024, além das estratégias de mobilização e articulação com os municípios para enfrentar a crise. Os estados também precisaram detalhar quais órgãos estaduais são responsáveis por coordenar essas ações em conjunto com os municípios.

Campanhas em MT 

Para ajudar as comunidades afetadas pelos incêndios, a Federação dos Povos Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt) organizou uma campanha de arrecadação. As pessoas que desejam contribuir podem levar alimentos, itens de higiene pessoal e limpeza na sede da instituição, na rua Estevão de Mendonça, número 1876, no bairro Quilombo, em Cuiabá. 

Além disso, também é possível contribuir com qualquer valor, via pix na conta da federação. A chave para envio é o CNPJ da Fepoimt: 32.678.220/0001-65.  

Vakinha Kajkwakhratxi-Tapayuna

Uma campanha de arrecadação também foi criada para auxiliar as 44 famílias Kajkwakhratxi-Tapayuna. A destinação dos recursos será definida coletivamente pela comunidade. 

Porém, as prioridades já identificadas são a compra de alimentos, reposição de medicamentos no posto de saúde da aldeia, aquisição de mudas e sementes para recuperar as roças devastadas e a aquisição de um barco para facilitar o acesso às aldeias mais distantes.

Para contribuir com a comunidade é só acessar o link aqui!

A campanha é organizada por instituições parceiras do povo Kajkwakhratxi-Tapayuna: Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, Operação Amazônia Nativa (OPAN) e Observatório dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI).