Brigada Indígena no território Apurinã (AM) conquista reconhecimento oficial
Brigadistas da Terra Indígena Caititu são contratados pelo Ibama/Prevfogo e ganham estrutura para seguir protegendo seu território
Áudio gerado por IA
Por Talita Oliveira | OPAN
Depois de três anos atuando de forma voluntária, a Brigada Indígena de Incêndio da Terra Indígena (TI) Caititu, do povo Apurinã, no sul do Amazonas, foi oficialmente contratada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), através do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), em cooperação técnica com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Com a contratação, a brigada passa a contar com estrutura mais adequada para o trabalho, que inclui Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), ferramentas, veículos e remuneração para os brigadistas. “Antes da contratação, contávamos com o apoio de boas parcerias que nos ajudaram a fazer o nosso trabalho voluntário”, relembra Antônio Roberto Apurinã, chefe geral da brigada.
Com o início da temporada da seca, período com maior ocorrência de incêndios florestais, o grupo já começou as atividades de prevenção, com uma agenda de visitas às aldeias da TI Caititu, promovendo conscientização sobre o uso seguro e controlado do fogo, além da implementação de viveiros de mudas.
“O nosso trabalho agora está mais reconhecido, tanto na cidade quanto na Terra Indígena. Em toda queima de roçados as comunidades nos acionam para estar lá com elas para que haja uma proteção, para o fogo não se alastrar. A atuação da Brigada representou uma mudança para as comunidades”, reflete Antônio.
Como funcionam as Brigadas Indígenas
Tudo começa com a consulta às comunidades, que decidem se desejam ou não implementar uma brigada. A partir daí, ocorre o processo de seleção e capacitação dos brigadistas, que passam por treinamentos técnicos com foco em estratégias de combate direto, como uso de abafadores e bombas costais, e também ações preventivas, como a queima prescrita.

Após a formação, os brigadistas são contratados por um período de seis meses e passam a receber EPIs, ferramentas e apoio logístico para atuarem em campo. Além do combate ao fogo, eles também realizam ações de educação ambiental nas aldeias, orientando sobre o uso controlado do fogo e os riscos das queimadas.
Em alguns territórios, implementam ainda viveiros e realizam o plantio de mudas nativas, contribuindo para a recuperação de áreas degradadas. Ao unir conhecimentos tradicionais com técnicas modernas, as Brigadas Indígenas fortalecem a gestão territorial, protegem a biodiversidade e tornam os territórios mais resilientes diante das mudanças climáticas.
Histórico da Brigada Indígena da TI Caititu
O processo de criação da Brigada Indígena de Incêndio da Terra Indígena Caititu começou em 2022, como uma estratégia de proteção do território, das roças e Sistemas Agroflorestais (SAFs) implementados pelo povo Apurinã. Na época, Francisco Padilha, indígena do povo Apurinã que já tinha formação na área de combate a incêndios, ofereceu uma formação básica a um pequeno grupo. No mesmo ano, os Apurinã também fizeram a aquisição de equipamentos necessários para iniciar o trabalho.
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Em 2023, em uma articulação liderada pela Associação de Produtores Indígenas da Terra Indígena Caititu (APITC) e Operação Amazônia Nativa (OPAN), foi solicitado ao Ibama/Prevfogo a aplicação de um curso técnico avançado para aprimoramento e formalização da brigada. O curso foi finalmente aplicado em 2024, formando 23 indígenas que atuaram voluntariamente ao longo do ano no combate aos focos de incêndio.
Atualmente, a Brigada Indígena de Incêndio da TI Caititu é formada por 15 pessoas, sendo 12 brigadistas, dois chefes de esquadrão e um chefe geral.