Uma grande estratégia para a conservação
Diagnóstico aponta crescimento da quantidade de peixes e outros benefícios do manejo de pirarucu.
Manaus (AM) – O manejo de pirarucu, desenvolvido por comunidades ribeirinhas e indígenas do Amazonas, é fruto de um longo processo de construção, e por isso tem uma solidez proporcional à própria existência da espécie, cuja ancestralidade remonta ao período de 200 a 250 mil anos atrás. Hoje, a segurança do Arapaima gigas, como é chamado cientificamente, e de toda história que ele carrega, se deve especialmente às populações dos rios Solimões, Negro, Juruá e Purus e outros afluentes da bacia amazônica, que, pelas etapas do trabalho, livraram a espécie das ameaças de extinção*.
Com a vigilância aos lagos e a retirada de no máximo 30% dos animais adultos (acima de 1,5 metros) identificados no local, como estabelecido na Instrução Normativa 001/2005, do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e pelo decreto estadual 36.083/2015, os pirarucus dobraram em quantidade. Hoje são 210,3 mil peixes a mais do que em 2012, o que representa um aumento médio de 60%, como foi apresentado na última semana, em Manaus, durante o seminário “Diagnóstico do manejo de pirarucu em áreas protegidas do Amazonas”.
Além do pirarucu, isso demonstra o ganho ecológico de todas as regiões manejadoras, que hoje têm fartura de outros peixes, quelônios e ainda a garantia da floresta em pé, já que o manejo envolve diversas etapas como o zoneamento dos lagos – alguns são guardados exclusivamente para a proteção da espécie, para consumo da comunidade e outros para a retirada de uma cota de peixes – e a vigilância territorial realizada em 100% das 34 áreas protegidas e regiões de acordos de pesca analisadas no diagnóstico.
Nessas regiões, que representam 78% de toda a cota do Amazonas em 2017, são 150 mil quilômetros quadrados de áreas protegidas com contribuições do manejo**. “Esta é uma atividade que evita o desmatamento na Amazônia. Não é zero porque tem o uso das comunidades, mas é quase zero”, destacou Ocemir Salve dos Santos, coordenador do manejo da Associação dos Comunitários Que Trabalham com o Desenvolvimento Sustentável no município de Jutaí (ACJ).
Além dos ganhos ambientais, o manejo de pirarucu, realizado desde 1999, tem ganhos culturais e para a organização social. É inerente à atividade o trabalho em equipe e, com isso, as comunidades conseguem ficar unidas e fortalecidas. “A organização é a sustentação que garante que o manejo possa acontecer”, destacou Ana Cláudia Torres, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
Por esses resultados, o manejo tem sido reconhecido como um dos projetos de conservação mais eficientes do mundo. O pesquisador João Vítor Campos-Silva observou que cada vez mais há iniciativas conciliando conservação ambiental e melhoria da qualidade de vida de populações em todo o planeta e que isto é medido por um conjunto de critérios, entre eles, ter lideranças fortes, trabalhar espécies com importância cultural, consolidar o zoneamento espacial e desenvolver o monitoramento participativo. “Talvez o manejo de pirarucu seja o único caso do mundo que satisfaça todos esses critérios”, disse ele, apontando que a atividade, portanto, tem tudo para se fortalecer ainda mais.
Um dos maiores desafios é a comercialização a preços justos. Apesar de avanços na geração de renda, que aumentou em 55% entre 2012 e 2016, os preços pagos pelo quilo só vêm diminuindo. A questão foi apontada no diagnóstico e discutida pelos participantes durante o seminário. Leia mais sobre o mercado do manejo de pirarucu, clicando aqui.
* Consultar espécies ameaçadas no portal da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).
* Corrigimos a informação de 120 mil para 150 mil quilômetros quadrados após conclusão do diagnóstico sobre a atividade, com resultados disponíveis no link.
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