Pela descolonização do Brasil
Povos indígenas decidem fazer plataforma política unificada em prol da sociedade e contra o agronegócio.
Por: Dafne Spolti/OPAN.
Brasília (DF) – Cansados de lutar todos os anos pela garantia à terra e por acesso a políticas adequadas de saúde e educação, representantes indígenas querem ocupar espaços para fazer a gestão do país, criar e defender as leis que sejam de interesse coletivo. Durante o Acampamento Terra Livre, a maior mobilização indígena do Brasil, fizeram reuniões e manifestações para cobrar seus direitos e, dessa vez, para apresentar pré-candidatos dos povos Waiãpi, Terena, Kaiowá, Guarani, Kayapó, Xerente, Xukuru, Kaingang, Karajá, Wapixana e outros, de todas as regiões do país.
“Estamos aqui para mostrar que a nossa luta é coletiva. O princípio da luta indígena sempre foi assim, construir junto”, disse a pré-candidata à eleição ao executivo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Sônia Guajajara, que divide a chapa com Guilherme Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Os anúncios de candidaturas foram colocados como urgentes porque no atual momento político, a estreita vinculação entre a bancada ruralista do Congresso Nacional e a Presidência da República, têm causado uma quantidade imensa de investidas contra os povos indígenas, gerando insegurança e mortes – não só por violência, mas por falta de políticas públicas de saúde, por exemplo, como destacaram os indígenas no ATL. “Quem dita esse país é o agronegócio, é a pecuária”, disse Sônia Guajajara, que mencionou a injustiça cometida pelo Estado ao longo da história, que retirou a terra dos indígenas para entregar aos latifundiários e que agora faz de tudo para não devolvê-las.
Em suas apresentações, muitos candidatos mencionaram a importância da abertura dos partidos para as candidaturas. Apesar disso, deixaram marcado que, mais importante que o partido, é a causa que defendem. “O movimento indígena é um tema separado. O partidário vem como um reforço”, disse Mário Nicássio Wapixana, candidato em Roraima. “Nós não temos que ter partido. Temos que ser suprapartidários”, complementou o pré-candidato à deputado pelo Distrito Federal, Kamu Dan, também do povo Wapixana.
Além de defenderem um projeto diferente, os candidatos alertaram sobre a forma como os políticos não indígenas vão abordar os eleitores indígenas. “Não se enganem com dinheiro. É hora de eleger nossos parentes que vão disputar a eleição de 2018”, disse Jauaruá Waiãpi, que vai concorrer a deputado federal pela Rede Sustentabilidade. “Eles vão oferecer uma caixa de frango, 10 litros de gasolina, e quando se elegerem não vão mais lembrar de nós”, disse ainda Matias Kumenê, também do Amapá.
Durante a apresentação dos pré-candidatos no Acampamento Terra livre foi decidida a criação de uma plataforma conjunta dos povos indígenas, um site em que esteja disponível o plano coletivo para atuação, contendo diretrizes voltadas à proteção dos rios e florestas, ao respeito à diversidade e outros, como falou Valéria Paye Pereira, da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
Valéria defendeu a candidatura dos indígenas. “Depois de 518 anos, é preciso que a gente chegue nesses espaços”, disse ela. Seu colega da APIB, Dinamã Tuxá, também traçou o caminho histórico de exploração do Brasil. Ele acredita que os indígenas é que realmente estão preocupados com a condução do país. Para Dinamã, cabe aos indígenas, então, a difícil função de “descolonizar” o país.
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