A forma como um povo se relaciona com o meio em que vive, ou seja, com sua terra, lagos, rios, igarapés e floresta, em muito influencia no modo como as gerações futuras permanecerão usufruindo com qualidade desses mesmos recursos.
Sujeitados a um longo e destrutivo processo de colonização, marcado pela exploração desenfreada dos recursos naturais existentes em seu território, o povo indígena Paumari do rio Tapauá, um afluente do rio Purus no oeste amazônico, viu ameaçado o seu modo tradicional de vida a partir do momento em que um sistema econômico estranho passou a influenciá-lo constantemente, causando desagregação social.
A presente publicação visa trazer a rica experiência de todo o processo da reconquista da autonomia territorial do povo Paumari, que também significa a reconquista de sua auto-estima enquanto povo. Este objetivo foi alcançado através de uma parceria profícua e duradoura entre o povo Paumari, a OPAN e demais parceiros que fazem parte dessa longa caminhada. O povo Paumari visualizou que o processo administrativo demarcatório e de registro de suas terras foi importante, mas a gestão ambiental e territorial do local onde moram era caro ao bem-estar de filhos e netos. Através do diálogo e amarrações internas, por meio de muitas reuniões e conversas entre as comunidades locais, foram possíveis realizações nas quais muitos não acreditavam e poucos apostavam. Construir coletivamente o seu Plano de Gestão Territorial, fazer a vigilância de suas terras, entendendo e cobrando do governo a necessidade da revisão e ampliação das mesmas, realizar de forma consecutiva e transparente o manejo de seus lagos, tornando-se uma referência nacional em projetos de manejo e comercialização do pirarucu proveniente de terras indígenas, tudo isso foi possível para o povo Paumari das Terras Indígenas (TI) Paumari do lago Manissuã, Paumari do lago Paricá e Paumari do rio Cuniuá, e para quem acreditou junto. Hoje, eles podem se orgulhar de estar podendo contar essa história.
Boa leitura!