Os contornos desiguais do debate sobre o domínio da Terra Indígena Marãiwatsédé, no nordeste de Mato Grosso, motivaram uma verdadeira força-tarefa para registro, pesquisa e edição de uma obra que já nasce como referência para as discussões sobre o povo Xavante. Com apoio da Articulação Xingu Araguaia (AXA), acaba de ser lançado Marãiwatsédé – Terra de Esperança, um livro que reúne elementos históricos, culturais, jurídicos e antropológicos para a compreensão do que está em jogo quando os Xavante afirmam que de sua terra não vão mais sair.
O livro, de 58 páginas, foi escrito pelo indigenista Marcos de Miranda Ramires, que viveu entre os Xavante entre 2009 e 2011, realizando levantamentos e reunindo documentos essenciais na região sobre o processo articulado com apoio de políticos para a invasão do território de Marãiwatsédé após o anúncio de que aquela terra seria devolvida aos indígenas que haviam sido retirados à força de lá nos anos 60, durante a ditadura militar. Graças a este movimento organizado de grilagem e conversão de florestas em pastagens e lavouras, Marãiwatsédé ficou marcada como a Terra Indígena mais desmatada da Amazônia brasileira.
De maneira bem clara e objetiva, o texto traz também características da cultura Xavante, dados e mapas atuais sobre a situação ambiental no território, além de imagens emocionantes do cotidiano de Marãiwatsédé tiradas por diversos colaboradores e pelo renomado fotógrafo Adriano Gambarini.
A publicação deste livro marca o início da campanha que cobra o cumprimento das promessas feitas 20 anos atrás, durante a Eco 92, quando o governo brasileiro e a empresa italiana Agip Petróleo, que ocupava o território Xavante, se comprometeram a devolver o território aos seus legítimos donos. Mesmo após a sentença judicial proferida no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em 2010, que reconheceu o direito dos Xavante ao território e considerou que os ocupantes não indígenas entraram na área de má-fé, até agora ninguém foi retirado. E, lamentavelmente, os Xavante seguem sofrendo ameaças à sua integridade física, cultural e territorial, só podendo circular por cerca de 10% da área homologada pelo presidente da República desde 1998.