A bacia do rio Juruena possui uma área de 19,8 milhões de hectares e está localizada no noroeste do estado de Mato Grosso. É composta por uma rede de rios de águas claras e rápidas que nascem na Chapada dos Parecis, no meio do Cerrado. Todos os canais deságuam no rio Juruena que, ao se juntar ao rio Teles Pires, forma o Tapajós, abastecendo cerca de 58% de suas águas. Essa vasta região abriga mais de uma dezena de povos indígenas, com suas próprias culturas e línguas, como os Apiaká, os Bakairi, os Enawene Nawe (Salumã), os Haliti (Paresi), os Kawaiwete (Kayabi), os Kajkwakratxi (Tapayuna), Kawahiva, Manoki (Irantxe),
Myky, Munduruku, Nambikwara e Rikbaktsa, bem como povos isolados.
A sub-bacia do Alto Juruena é formada pelos rios Juruena, Camararé, Doze de Outubro, Iquê, Canoas, Juína, Formiga, Primavera e outros. É composta predominantemente por solos arenosos, recoberto por vegetação de transição Amazônia/Cerrado e drena o território tradicional do povo Enawene Nawe.
Em sua parte alta, o rio Juruena e seus principais afluentes apresentam a ocorrência de diversas lagoas do tipo “ferradura”, ligadas periodicamente ou durante o período das cheias. Tais ecossistemas são utilizados por diversas espécies, como viveiros e criadouros naturais de comunidades de peixes, os quais também contribuem para o estabelecimento das condições ecológicas que mantém uma alta produtividade biológica.
A Terra Indígena (TI) Enawenê-Nawê está registrada com uma área de 742.088 hectares e localiza-se nos municípios de Comodoro, Juína e Sapezal, na região noroeste de Mato Grosso. Ela está sob a jurisdição da Coordenação Regional Noroeste de Mato Grosso (CR/Funai Noroeste de MT) e Distrito Sanitário Especial Indígena Cuiabá (DSEI Cuiabá). A área protegida é banhada quase que na sua totalidade pela sub-bacia do Alto Juruena.
Os ecossistemas aquáticos presentes na região sempre proporcionaram aos Enawene condições ideais para a prática de diversas técnicas e estratégias de pesca, tornando a pesca uma das atividades mais energizantes da vida social desse povo (RCID, 2011).
Entretanto, após a instalação e operação de um complexo de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no alto curso do rio Juruena, todo o ecossistema aquático da sub-bacia do Alto Juruena foi alterado e, consequentemente, foram perdidas áreas de desova. Rotas migratórias das principais espécies de peixes capturadas pelos Enawene foram bloqueadas.
Assim, o objetivo do trabalho realizado com os Enawene Nawe foi registrar as percepções desse povo com relação à atividade pesqueira desenvolvida atualmente. A partir dos registros, também se estabeleceram condições de comparação com resultados de outras pesquisas realizadas com esse povo décadas antes, tratando do mesmo assunto.
Tais informações servirão de base para o início de um trabalho de monitoramento e avaliação dos impactos reais sobre os peixes e a pesca na sub-bacia do Alto Juruena e, consequentemente, sobre a sociedade Enawene Nawe.