OPAN

Movimentando a política

Assembleia do povo Deni do rio Xeruã mostra a energia de sua associação os novos desafios que têm pela frente.

Assembleia do povo Deni do rio Xeruã mostra a energia de sua associação os novos desafios que têm pela frente.

Por: Dafne Spolti/OPAN

Carauari-AM – A entrada da aldeia Boiador eram só canoas. No pátio, muitas pessoas conversavam, jogavam bola. As casas tinham a barulheira das crianças e da vida acontecendo com mais ânimo do que de costume. Em toda aldeia sentia-se uma certa euforia por conta da décima assembleia da Associação do Povo Deni do Rio Xeruã (Aspodex), o mais importante evento político do povo Deni. Educação, saúde, agricultura, território e outras questões diretamente relacionadas às suas vidas foram amplamente discutidas durante quatro dias, entre 20 e 23 de agosto de 2015.

No início da assembleia, indígenas das aldeias Terra Nova, Morada Nova, Boiador e Itaúba foram, um a um, até a frente da plenária pegar o cartão de votação que mais tarde seria utilizado para referendar a nova diretoria da Aspodex. Presidida por Marizanu Makhuvi Deni, da aldeia Morada Nova, a diretoria tem entre as principais diretrizes de trabalho o fortalecimento da associação a partir da construção de uma sede da Aspodex em Itamarati (AM) – cidade mais próxima, a cerca de cinco horas de barco da Foz do rio Xeruã – e da comercialização de parte da produção Deni para gerar renda para as famílias e cobrir despesas da associação.

Nova diretoria da Aspodex. Presidente Marizanu Makhuvi Deni ao centro. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

Aproveitando que a nova gestão da Aspodex tem um caminho para trilhar até 2018, as lideranças cobraram envolvimento dos diretores e de todos os Deni. “Nossa associação. Vamos trabalhar, pessoal”, dizia Biruvi Makhuvi Deni, liderança da aldeia Morada Nova. Ele afirmou que, com a Aspodex, criada três anos após a demarcação do território, em 2006, melhorou a vida do povo indígena Deni do rio Xeruã. Para ele, hoje, passado o sofrimento do período de extração de seringa, os Deni estão vivendo um momento bom e muito propício para novas conquistas.

Biruvi e os líderes das outras aldeias insistiram na defesa da venda organizada e coletiva de seus produtos. De acordo com o anfitrião Baba Hava Deni, da aldeia Boiador, atualmente eles comercializam farinha, banana, abacaxi, vassoura e artesanatos. Mas somente de forma aleatória e individual, por conta, especialmente, da dificuldade de transporte. Vez ou outra, recebem uma encomenda da prefeitura de Itamarati. Além do roçado e do artesanato, Sakeravi Hava Deni, da aldeia Terra Nova, enfatizou as possibilidades do murumuru, da andiroba e do manejo de pirarucu em que os Deni têm trabalhado ano a ano a partir da contagem dos peixes e da reserva de alguns lagos. “Vamos levar o trabalho para frente”, incentivou a todos.

Lideranças, da esquerda para a direita: Baba Hava Deni, Sakeravi Hava Deni, Mahuru Hava Deni, Biruvi Makhuvi Deni. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

Outro tema que chamou a atenção na assembleia da Aspodex foi a saúde, sendo discutida até escurecer entre os Deni e os Kanamari do rio Xeruã, que também participaram do evento. Eles compartilham das mesmas questões e recebem, ambos, atendimento de saúde no polo da aldeia Morada Nova. Entre os assuntos, falaram muito sobre a falta de medicamentos e pontuaram outras necessidades como melhoria das estruturas de atendimento, a aquisição de instrumentos de trabalho e a contratação de mais Agentes Indígenas de Saúde (AIS), uma das principais questões para Mahuru Hava Deni, liderança da aldeia Itaúba. “Se o agente vai para município, quem fica no lugar dele? Quem dá remédio para nós?”, questiona.

Além da contratação dos AIS para as aldeias, os Deni querem também um agente para mediar os atendimentos que forem realizados no hospital municipal de Itamarati porque existem muitas dificuldades de comunicação entre os pacientes e os profissionais de saúde. “O povo indígena sempre sofre dentro do hospital porque não entende português, não sabe dizer o que sente, aonde tem mais dor. É muito complicado e por isso estamos lutando”, contou o presidente Marizanu, que é o AIS da aldeia Morada Nova. Por isso, estão decididos a solicitar providências e mais apoio à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

A pauta de educação também é comum entre os Deni e os Kanamari. A partir das discussões, eles fizeram um documento com a assinatura da assembleia para a Secretaria Municipal de Educação de Itamarati (Semed). Eles querem mais orientações pedagógicas para os professores indígenas, formação, contratação de cozinheiros para as escolas, materiais de sala de aula e melhorias estruturais, incluindo a construção de cozinhas e refeitórios, instalação elétrica e hidráulica, aquisição de ventiladores e de mais carteiras.

Além dos indígenas Kanamari, a assembleia da Aspodex teve a participação de um representante do povo Kulina, da vice prefeitura de Itamarati e de antigos parceiros do povo Deni, como o Conselho de Missão Entre Indígenas (Comin), o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e a OPAN, que atualmente executa o projeto “Arapaima: redes produtivas”, com recursos do Fundo Amazônia, visando o fortalecimento da organização comunitária, a consolidação e articulação de arranjos produtivos entre indígenas e extrativistas na região do Médio Juruá e do Médio Solimões.

Apresentação do povo Deni. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

Durante a assembleia da Aspodex houve momentos para contar piadas e para as apresentações artísticas tradicionais dos Deni com músicas sobre a associação, o fortalecimento dos Deni e a conservação do território. Disso os Deni não abrem mão, realizando vigilância diária na terra indígena. As apresentações foram gravadas em diversos aparelhos celulares e fizeram tanto sucesso que se tornaram um hit dos Deni, sendo possível ouvi-las a qualquer momento do dia quando alguém “dava o play” ou saía cantarolando Associação za iviburizape, associação za iviburizape… Os sucessos também foram cantados e dançados ao término da assembleia, na grande festa de encerramento, que durou até o dia amanhecer. “Precisamos comemorar pela nossa assembleia e pela nossa associação”, conclui o líder Baba Hava Deni, da aldeia Boiador.

Veja abaixo a composição da diretoria da ASPODEX

Marizanu Makhuvi Deni (Morada Nova) – Presidente

Pha’avi Hava Deni (Boiador) – Vice-presidente

Misiha Bukure Deni (Morada Nova) – Tesoureiro

Sumurivi Hava Deni (Itaúba) – Secretário

Varasi Kuniva Deni (Boiador) – Fiscal

Paru Kuniva Deni (Morada Nova) – Fiscal

Mahizani Minu Deni (Terra Nova) – Fiscal

Kakari Varasha Deni (Itaúba) – Fiscal

Umada Kuniva Deni (Boiador) – Secretário de mesa

Sharavi Maka Deni (Morada Nova) -Representante do povo Deni

Contatos com a imprensa

Dafne Spolti – dafne@amazonianativa.org.br

Telefone: (65) 3322-2980 / 9605-6278

www.amazonianativa.org.br