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Um teste de verdade

Por: Dafne Spolti/OPAN

Deni participam de oficina para aprimorar seus conhecimentos para realização do manejo do pirarucu.
Foto de Tarsila Menezes/OPAN.

Carauari-AM – O povo Deni do rio Xeruã está próximo de realizar uma experiência inédita: a pesca manejada de pirarucu, após seis anos de contagens e vigilância de lagos, para avaliarem suas condições de enfrentar os desafios desta atividade. Além disso, eles estão apostando na comercialização de excedentes do roçado de produtos florestais não madeireiros, como ucuuba, murumuru e andiroba.

Em julho, os Deni fizeram o planejamento da pesca experimental e aprenderam a produzir apetrechos pesqueiros em uma oficina com a ajuda de moradores da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Uacari. Lá, eles conheceram a confecção da rede para a pesca do pirarucu e puderam usar a agulha para tecer e remendar a malhadeira, além de entralhar (colocar uma boia e um peso nas pontas da rede). “É trabalhoso, mas não é difícil. Depois de aprender, vai fazendo devagarinho”, disse Poaravi Makhuvi Deni, coordenador da contagem de pirarucu da aldeia Morada Nova.

Oficina de apetrechos.
Foto de Tarsila Menezes/OPAN.

Após essas atividades, os Deni se reuniram para programar as atividades do manejo de pirarucu deste ano. Farão em agosto a contagem dos lagos e uma pesca experimental de nove peixes, suficientes para alimentar a população de quatro aldeias, com base nas diretrizes legais do manejo. Pode parecer muito esforço para pouco pirarucu, mas isso representa uma conquista para os Deni. “Eles estão envolvidos com o manejo desde a elaboração do seu plano de gestão territorial, finalizado em 2011. Durante três anos, mesmo sem apoio de parceiros, eles continuaram a realizar as reuniões para planejar ações de contagens e estratégias de vigilância em seu território. Cientes dos desafios do manejo pesqueiro, têm clareza de onde querem chegar. Seu principal objetivo é fortalecer sua associação, a Aspodex”, conta Vinícius Benites Alves, coordenador do projeto Arapaima, da OPAN. A motivação é tanta que após a pesca será realizada a Amusinaha putaharu ve’e (Festa do Pirarucu).

Para esta pesca experimental, os Deni listaram tudo o que irão precisar de materiais e as funções que necessárias nessa pesca. “Nós estamos quase prontos para fazer a pesca. Decidimos quem vai fazer cada tarefa. Por exemplo, quem será o cozinheiro, o carregador, o pescador. Cada aldeia vai fazer um pouco”, explicou o cacique da aldeia Terra Nova, Shakeravi Minu Deni. Apesar das funções definidas, as pessoas que irão desempenhar cada papel serão escolhidas somente em assembleia, durante os dias 5 e 7 de agosto, para que tenha o aval de todo o povo.

Fortalecendo a produção

Indígenas de todas as aldeias também tiraram a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Com as DAPs feitas na Terra Indígena Deni pelo Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Amazonas (IDAM), eles poderão comercializar produtos do seu roçado e futuramente o peixe manejado em programas do governo, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Eles esperam que um dia sua merenda escolar seja adquirida por meio do PAA e se incorpore à vida escolar, já que são produtos saudáveis. “É importante porque é natural. Se vem para aluno carne enlatada, depois dá dor de barriga, fica doente. O melhor é o alimento do roçado, abacaxi, cará, macaxeira…”, defendeu o cacique da aldeia Morada Nova, Biruvi Makhuvi Deni.

Os Deni querem gerar renda a partir da conservação dos recursos naturais para ajudar a comunidade, fortalecendo a Associação do Povo Deni do Rio Xeruã (Aspodex). “Vamos receber o aphani [dinheiro] e usar na Aspodex, porque Aspodex é dos Deni. Temos que investir na Aspodex para ficar forte. Depois, quando a comunidade precisar de uma coisa, a Aspodex pode ajudar”, disse Biruvi, da Morada Nova. De acordo com ele, esse processo tem que ser feito com calma, uma etapa de cada vez: “A nossa fala é rápida, mas o trabalho tem que ser devagarzinho para construir e chegar lá”, ensinou.

Phaavi Hava Deni anotando itens para a pesca experimental de pirarucu.
Foto de Tarsila Menezes/OPAN.

Para a indigenista da OPAN, Tarsila Menezes, o que falta agora aos Deni são as ações para que a Aspodex consiga gerir melhor a associação do ponto de vista administrativo, algo em que eles estão muito interessados. “O trabalho está incrível, mas ainda é preciso apoiar o fortalecimento da Aspodex, para a associação saber como gerir a renda que vai entrar com os trabalhos que estão desenvolvendo”, avaliou.

Nos próximos meses, com o projeto Arapaima, serão realizadas três atividades voltadas à organização comunitária. Haverá um programa de capacitação em gestão administrativa e gestão de projetos; de fortalecimento do associativismo, cooperativismo e apoio à associação; e, ainda, uma formação com oficinas de planejamento familiar e comunitário e de organização comunitária para a comercialização – este focado em lideranças e pessoas alfabetizadas (na língua Deni ou em português), que poderão replicar o aprendizado sobre economia familiar com toda a comunidade.

Mais informações na página do projeto “Arapaima: redes produtivas”, executado com recursos do Fundo Amazônia.