Expedição Rikbaktsa
Atividade complementa o etnomapeamento da Terra Indígena Erikpatsa, na construção do PGTA.
Por: Lívia Alcântara/OPAN
Durante quatro dias em expedição pelo Rio do Sangue, no noroeste do estado de Mato Grosso, indígenas da etnia Rikbaktsa percorreram parte de seus territórios, relembrando histórias, mapeando locais de coleta de buriti, castanha, patuá, tucum, revisitando pontos de caça e de pesca, mas também conversando sobre os atuais desafios. “Existem ainda aqueles pés de limões dentro do mato!”, conta Domingas, animada por revisitar regiões onde cresceu e outras que frequenta para catar sementes para o artesanato. O Cacique Ademir também mostrou o porto onde os Rikbaktsa da aldeia Beira Rio sempre acampam para pescar, coletar patuá e caju do mato.
A expedição, que ocorreu do dia 27 ao 31 de agosto, complementa o etnomapeamento da Terra Indígena Erikpatsa, atividade que vem sendo desenvolvida desde junho deste ano como uma das ações previstas para a construção do Plano de Gestão Ambiental e Territorial (PGTA) do povo Rikbaktsa. O etnomapeamento é a construção, pelos próprios indígenas, de um mapa identificando os recursos e locais importantes de seus territórios, os usos culturais e também os impactos ambientais nas áreas.
Marcolino Apiwo, que também esteve na expedição, reclama que a pescaria não esteve boa: “peixe foi difícil, não sei se porque o rio está muito batido ou porque estava cheio. Ali no rio Sangue tem muito peixe”. Esse diagnóstico foi levantado por vários participantes da expedição. As terras Rikbaktsas estão circundadas por dois grandes rios: o Sangue e o Arinos, que tem uma de suas margens dentro das Tis e a outra acessada pelos não índios, o que implica em usos dos recursos destas águas, no mínimo, diferente dos realizados no modo de vida tradicional.
O PGTA Rikbaktsa é facilitado pelo Projeto Berço das Águas III e patrocinado pelo Petrobras, que atuam em conjunto na sub-bacia do Juruena desde 2011. Como processo de levantamento, diálogo e planejamento, o PGTA é um momento em que as reflexões coletivas sobre as terras e os modos de vida afloram. Marcolino, que costumava andar com seu pai explorando as terras de seu povo, conta que a expedição o deixou reflexivo sobre a necessidade dos jovens conhecerem seus territórios: “nossos filhos não tem a história que a gente tem, eles não conhecem nada do que a gente conheceu. Então a gente se preocupa com isso”.
Rinaldo Arruda, antropólogo e facilitador do PGTA Rikbaktsa, conta que o momento foi também de relembrar as histórias enraizadas na terra. As seis voadeiras (barcos) com 25 pessoas, passaram, por exemplo, pelo esqueleto do barco do Padre João, que fez o contato com o povo no fim da década de 50. Parte desta geração hoje viva, quando criança, foi levada pelo Padre João para o internato jesuíta de Utiariti, pertencente a Missão Anchieta. O internato abrigou crianças de diferentes etnias da região de 1930 a 1970.
O próximo passo para a complementar as atividades de etnomapeamento do Plano de Gestão Rikbaktsa será uma expedição no rio Arinos, na terra indígena Japuíra.
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