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Caimi Waiassé fala sobre Waté’wa, filme Xavante premiado

“Waté’wa: os jovens Xavante que batem água” aborda o ritual de passagem para a vida adulta e foi realizado na Terra Indígena Marãiwatsédé, para a qual os Xavante retornaram em 2013.

Por Dafne Spolti e Lívia Alcântara/OPAN

Caimi Waiassé Xavante dirigiu o filme “Waté’wa: os jovens Xavante que batem água”, junto com seu irmão, Leandro Parinai’a. Ambos vivem na Terra Indígena Pimentel Barbosa, mas foram até Marãiwatsédé para gravar o ritual de passagem para a vida adulta dos Xavante. 

Ele começou a trabalhar com cinema por sugestão dos anciãos de seu povo na década de 90. Hoje, possui mais de dez filmes, sendo quatro deles premiados em festivais nacionais e internacionais. Também é membro do Núcleo de Escritores e Artistas Indígenas e formado em Línguas, Artes e Literaturas pela UNEMAT.

Em entrevista, Caimi conta sobre a importância do documentário para a Terra Indígena Marãiwatsédé, invadida até 2013, quando os Xavante conseguiram voltar para o seu território. Depois de muitos anos de luta, o filme retrata a força da cultura de seu povo. A “imagem é uma linguagem muito forte, muito importante para você atingir de cheio as pessoas que estão distantes”, defende. O curta acaba de ganhar a mostra competitiva do Festival de Cinema de Alter do Chão

Exibição do filme Waté’wa no CineECCO/UFMT. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

De onde veio a ideia de fazer o “Waté’wa: os jovens Xavante que batem água” e como foi o processo de produção?

O pessoal de Marãiwatsédé, desde a saída da Terra Indígena São Marcos, passou um bom tempo no território de Pimentel Barbosa, onde eu vivo. Então tínhamos muito contato com as lideranças, as pessoas que tinham esse desejo de retornar. O território de Pimentel Barbosa foi importante porque lá eles se fortaleceram para conquistarem onde estão agora. 

E naquela época o pessoal já conhecia o trabalho de audiovisual que a gente passava para as pessoas que iam para aldeia. Viam e queriam cópia. A gente sempre compartilhava as coisas que a gente filmava. Através desse trabalho a gente foi se conhecendo melhor. 

E o Waté’wa foi uma das propostas. Sempre os jovens, os velhos, pediam as imagens dos rituais Xavante. E a OPAN teve a oportunidade de realizar esse trabalho conjunto com a comunidade e isso foi importante. Desde que eles fizeram o primeiro ritual da furação de orelhas na terra reconquistada, eles tinham vontade de registrar. Esse é o terceiro ritual que foi feito. Através do ponto de cultura da aldeia Wederã, a gente teve mais liberdade porque tínhamos os equipamentos do ponto de cultura. 

Foi um desafio grande, porque é difícil trabalhar com o curta-metragem. Tem que colocar muita informação e é uma coisa bem cara. Tem que ser muito objetivo. Mas acho que deu pra contar um pouco de história do ritual, do território. Ficou uma linguagem didática. O esforço deles de fazer essa formação de jovens deu para mostrar que esse grupo de anciãos estão fortes ainda. Porque além de estar repassando seus conhecimentos, retornaram para Marãiwatsédé, de onde eles saíram quando eram muito jovens. 

Caimi Waiassé durante exibição do filme no CineECCO/UFMT. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

Que peso e importância este filme tem, considerando a recente desintrusão de Marãiwatsédé?

Para mim este documentário foi verdadeiro e forte porque teve participação de dois territórios: Pimentel Barbosa e Marãiwatsédé, além das lideranças. Eu acho que pelo material que foi colhido, está bem claro que eles queriam mostrar a sua resistência e também a alegria de estar no território de onde seus pais foram retirados. Isso marcou muito eu e o Leandro. Estão resistindo com a presença de seus pais, seus avós. Eles estão lá apesar das ameaças territoriais, sem perder sua espiritualidade de guerreiro, defendendo uma coisa que pertence a eles. Nas entrevistas dos anciões é muito clara a alegria de terem retornado. E também a fala dos jovens tinha o mesmo sentido, mas de terem participado do retorno e fazer o trabalho para continuar a formação dos jovens. Eles estão fazendo um trabalho para que alguma parte seja recuperada, morar em Marãiwatsédé de fato, isso está sendo feito, mas isso vai levar tempo. 

O trabalho foi bem feito porque a gente trabalhou com os anciões. A gente não coloca as coisas que os mais velhos não aprovem. Foi interessante ter contado a história deles. Dá para mostrar que o pessoal de Marãiwatsédé não está só, é uma família. Através dos documentários, dos trabalhos, a gente está se fortalecendo junto com eles. 

O que você acha que é mais importante que essa juventude que está trabalhando com vídeo mostre?

Nos livros eles nos mataram. Essa é uma oportunidade de os jovens mostrarem que estão vivos, que tem orgulho de serem indígenas, não negar sua identidade. Acho que a imagem é para isso, fortalecer cada indivíduo. Mas é preciso tomar cuidado de como vai apresentar para a sociedade, porque na sociedade brasileira, também na europeia, as coisas estão congeladas. Precisa descongelar, dizer que a gente ainda existe. Para isso o pessoal tem que mostrar que as pessoas ainda ocupam estes pequenos lugares que sobraram para cada etnia. Outros ainda estão lutando para ter o seu pedacinho de terra. Através de apresentações a gente vai se fortalecer. E acaba sendo conhecido não só pelo não indígena, mas também por outras etnias que se aproximam através da imagem e futuramente estão na mesma manifestação por direitos.

 Você gostaria de falar algo mais?

Eu sempre venho incentivando os jovens, as mulheres a participarem mais. Claro que aos poucos as mulheres estão se envolvendo nos trabalhos que vem de fora. Tem alguns parentes que já tem as mulheres que trabalham com a imagem. Para não ficar uma coisa muito puxada para o trabalho masculino… Acho que as portas estão abertas para as mulheres contarem seu mundo feminino. 

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Dafne Spolti

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