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Muito além de um clique

Belém+30 abre discussões sobre ferramentas tecnológicas para proteção de povos e territórios.

Por: Dafne Spolti/OPAN.

Belém, PA – Povos indígenas de diversas regiões da Amazônia estão dominando cada vez mais as ferramentas tecnológicas, não apenas para selfies, games e compartilhamento de posts, mas como instrumento político para seu fortalecimento. Usando os novos instrumentos com o conhecimento dos mais velhos, desenvolvem estratégias mais eficazes de gestão e proteção territorial. Uma gama delas foi apresentada na oficina “Povos da floresta: conexões e autodeterminação – ferramentas jurídicas e tecnológicas para a gestão territorial na Amazônia”, nos dias 6 e 7 de agosto de 2018, abrindo o Congresso Internacional de Etnobiologia e Etnoecologia – Belém+30.

“Não vamos abandonar nossos conhecimentos tradicionais, mas vamos usar essas ferramentas”, explicou Genisvan Melquior, do povo Macuxi, ao apresentar junto a Roiti Metuktire Kayapó o aplicativo Alerta Clima Indígena, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) em parceria com eles. A partir do “app”, é possível ver áreas de desmatamento, queimadas e outras informações que possam mostrar ameaças às terras, de forma simples, e se proteger delas, inclusive envolvendo órgãos públicos como o Instituto Nacional de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Fundação Nacional do Índio (Funai).

Genisvan Melquior. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

“A gente tem que ter um meio de divulgar a morte dos peixes”, disse Eliano Waro, do povo Munduruku. Ele disse que por conta da hidrelétrica de Teles Pires presenciaram morte de botos e jacarés, o que antes não acontecia a animais desse porte. Eliano e Cândido Waro apresentaram um outro aplicativo, o Proteja Amazônia, que reúne as informações sobre os impactos e andamentos dos processos judiciais envolvendo as hidrelétricas do Complexo Teles Pires. “Criamos nossos aplicativos para fortalecer nossas lutas”, disse ele.

No rio Negro, em cinco regiões de seus afluentes, os indígenas têm utilizado dispositivos também para registrar a dinâmica da natureza em suas terras, escrevendo sobre peixes, plantas e animais; períodos de floração e reprodução das espécies, épocas de plantio das roças. “Tudo é incluído no tablet ou em diários”, disse Ronaldo Apolinário, do povo Baniwa.

Aplicativos não dispensam o uso de anotações em diários. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

Atualmente são diversos os instrumentos tecnológicos construídos para e com as comunidades, facilitando o encaminhamento de denúncias, a visibilidade de seu olhar sobre as intervenções de infraestrutura planejadas ou em andamento, como a plataforma SOMAI e a Rede Xingu+. Entretanto, outras ferramentas essenciais à defesa dos direitos dessas populações foram motivo de uma engajada e rica discussão, como os planos de gestão territorial e os protocolos de consulta.

“Eu participo de um grupo de formação chamado ‘guerreiros da caneta’, mas não deixamos de usar a borduna”, avisa Marta Tipuici, do povo Manoki. Ela contou sobre as ameaças ao rio Juruena, em Mato Grosso, e citou que neste mês foram realizadas oficinas de comunicação para fortalecer sua atuação. Com esse movimento e com o reconhecimento entre os mais velhos de que é preciso dominar melhor essas tecnologias para pensar no futuro da água, dos rios e da cultura, os jovens começam a se envolver mais. “Quando a gente começa a se preocupar, a gente participa mais da nossa comunidade”, disse. Ela destacou a mobilização no Juruena e seu resultado para o Tapajós e outros rios: “É trabalho de base, na veia do Juruena para que essa aorta não pare de pulsar”, disse Marta.

Marta Tipuici falando sobre a Rede Juruena Vivo. Foto: Dafne Spolti/OPAN.

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