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Manejo Paumari vence prêmio

Foi o reconhecimento por ações de fortalecimento da organização indígena e manejo do pirarucu.

Foi o reconhecimento por ações de fortalecimento da organização indígena e manejo do pirarucu.

Por: Carla Ninos/OPAN

Brasília (DF) – A experiência do manejo sustentável do pirarucu rendeu à OPAN o Prêmio Nacional de Biodiversidade na categoria sociedade civil, entregue pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) na última sexta-feira, 22 de maio. O trabalho, desenvolvido desde 2008, tem trazido resultados concretos para o fortalecimento da organização social do povo Paumari do rio Tapauá, além de gerar renda e garantir a conservação do pirarucu, espécie ameaçada de extinção no estado do Amazonas.

O povo da água, de fala mansa e cadenciada,  conhecedor do mundo aquático, deu uma grande volta por cima, reconquistou a autoestima e hoje é referência no sul do Amazonas quando se fala em manejo pesqueiro.

Para saber o que esse prêmio significa para o povo Paumari, bastou observar Germano Paumari, que foi à Brasília participar da cerimônia de entrega realizada no Auditório Wladimir Murtinho, subsolo do Palácio do Itamaraty. Com o já conhecido sorriso largo no rosto, eram os olhos brilhantes que falavam e mostravam o orgulho de estar ali vivenciando aquele momento. Sempre confiante e sentindo a importância desse prêmio para o povo, confessou ter ficado com frio na barriga na hora do anúncio do vencedor da categoria sociedade civil. “Fiquei orgulhoso de poder representar o meu povo Paumari dentro do Palácio do Itamaraty e de poder receber o prêmio. Isso fortalece o nosso trabalho. É muito bom saber que estamos sendo vistos nacionalmente”, comentou, emocionado, já com o prêmio em mãos.

A emoção de Germano foi traduzida em aplausos da plateia quando ele foi apresentado por Gustavo Silveira, coordenador do Programa Amazonas da OPAN, ao receber a homenagem “O prêmio foi o reconhecimento de um trabalho, tanto da OPAN quanto dos Paumari, da preocupação diante de um desafio que eles tinham, que era o comprometimento do estoque pesqueiro do pirarucu e outras espécies, e de recuperar esse estoque para a alimentação e comercialização legal ”, comentou Silveira.

A premiação contou com a presença de autoridades como a ministra do Meio Ambiente, Isabella Teixeira, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que discursou na abertura da cerimônia e disse que esta é uma oportunidade “para assumirmos compromissos comuns”, ao destacar a importância do tema para Brasil e o mundo.

Gustavo Silveira falou sobre a conservação da biodiversidade, que não é uma tarefa fácil, principalmente quando se trabalha com espécies ameaçadas de extinção, caso do pirarucu. “A pressão externa é muito grande e a falta de apoio do governo tanto para as fiscalizações quanto para a estruturação da cadeia produtiva são dois dos principais gargalos para se manter um projeto como esse”.

Vencedores em todas as categorias do Prêmio Nacional de Biodiversidade. (Foto de Carla Ninos)

A ministra Isabella Teixeira discursou ao final da entrega dos prêmios e confessou estar muito “orgulhosa de ver a iniciativa do manejo do pirarucu como um dos vencedores do prêmio”. Ela reforçou a preocupação de Gustavo Silveira ao citar “a mensagem do vencedor aqui é importante em função de toda pressão que nós sentimos quando a gente edita uma lista de espécies ameaçadas de extinção. Passam a ideia de que queremos inviabilizar a pesca no Brasil. Essa iniciativa é prova de que o manejo, como noção de sustentabilidade, não só recupera espécies como também é possível oferecer a proteína (o alimento) e não degradar a natureza”.

Esta é a primeira edição do Prêmio Nacional da Biodiversidade, quando o Ministério do Meio Ambiente reconhece o mérito das iniciativas que visam à melhoria ou manutenção do estado de conservação das espécies da biodiversidade brasileira em seis categorias: academia, empresa, imprensa, organizações não-governamentais, órgãos públicos e sociedade civil. Também houve a categoria Júri Popular, que contou com votação realizada pela internet com participação de 63 mil votos. Elas escolheram o projeto “Conservação do peixe-boi amazônico na Amazônia brasileira”, desenvolvido pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

O manejo

Inicialmente, o povo Paumari do rio Tapauá optou por ficar cinco anos protegendo o pirarucu da pesca predatória em seus lagos, mantendo apenas atividade para subsistência. Esse era um esforço para recuperar o estoque que estava muito baixo. Essa experiência é a única de que se tem notícia realizada em terras indígenas na região do Purus, consolidando-se como uma alternativa para o povo Paumari na garantia da gestão e da proteção de seu território.

O manejo proporcionou a volta do pirarucu às terras indígenas Paumari. (Foto de Adriano Gambarini)

A primeira pesca autorizada pelo Ibama, realizada em setembro de 2013, foi permeada por uma grande expectativa  por parte dos Paumari, da OPAN e parceiros.. Ao todo, 50 peixes foram pescados, totalizando 3.500 kg de pirarucu e uma renda total de R$ 26.422,50. Com os números positivos e os sinais de recuperação dos peixes, os Paumari abraçaram de vez o manejo.

Em outubro de 2014, a segunda pesca rendeu 4.950 quilos. A média de peso foi de 58 quilos, vendidos a R$ 7,50 (valor unitário por quilo). Os 85 peixes foram comercializados por R$ 37.125,00 e 30% deste valor foi guardado pelos indígenas para investimentos futuros na própria pesca. O restantefoi dividido entre os Paumari através do sistema de pontos, uma forma de tentar remunerar cada um de acordo com o seu envolvimento no trabalho do manejo, que inclui outras ações como a vigilância territorial, reuniões, contagem dos peixes para o estabelecimento da cota e a pesca propriamente dita.

Hoje, o povo Paumari realiza discussões muito maduras sobre o processo e a organização interna da pesca. A partir da elaboração do plano de gestão territorial e a implementação do plano de manejo, eles aboliram a pesca predatória de suas terras e conseguiram fazer gestão sustentável de seus lagos.

Para Germano Paumari, o prêmio vai incentivar ainda mais o povo a continuar o trabalho e a fortalecer o grupo. “A gente tem conseguido estreitar o diálogo com a frente de proteção e fiscalização e, ainda neste ano, devemos começar a mapear os locais onde ocorrem mais invasões nas nossas terras, para então desenvolver um trabalho de conscientização e, posteriormente, acionar os órgãos competentes, de fiscalização e apreensão”, conclui o professor, ansioso para chegar em casa e comemorar essa conquista com seu povo.

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